Neemias 8.1-18
INTRODUÇÃO
1. O crescimento da igreja é um dos
temas mais discutidos na atualidade
Todo pastor anseia ver sua igreja
crescer. A igreja deve crescer, precisa crescer. Se ela não cresce é porque está enferma.
Rick Warren diz: Pergunta errada: o
que devo fazer para a minha igreja crescer. Pergunta certa: o que está
impedindo a minha igreja de crescer.
2. Há dois extremos perigosos
quanto ao crescimento da igreja
a) Numerolatria – É a
idolatração dos números. É crescimento como um fim em si mesmo. É o crescimento
a qualquer preço. Hoje vemos muita adesão e pouca conversão. Muito ajuntamento
e pouco quebrantamento. A pregação da fé sem o arrependimento e da salvação sem
conversão.
b) Numerofobia – É o medo
dos números. É desculpa infundada da qualidade sem quantidade. A qualidade gera
quantidade. A igreja é um organismo vivo. Quando ela prega a Palavra com
integridade e vive em santidade Deus dá o crescimento. Não há colheita sem
semeadura.
3. A sedução do pragmatismo na
busca do crescimento da igreja
O Movimento de Crescimento de Igreja
começou em 1930 com Donald McGavran, quando deixou a sede das Missões na Índia
e passou 17 anos plantando igrejas e fazendo uma pergunta: Por que algumas
igrejas crescem e outras não?
Ele
começou um Instituto de Crescimento de Igreja em Oregon com um aluno boliviano.
Depois foi para o Seminário de Fuller na Califórnia. Foi o missionário que mais
influenciou a igreja no século XX.
Davi Eby diz que o que espanta é
que nas teses e dissertações dos estudantes do MCI não há quase nenhuma ênfase
na pregação como instrumento para conduzir a igreja ao crescimento. Ao
contrário, seguem as técnicas do pragmatismo: se funciona, use.
O
Pragmatismo não está preocupado com a verdade, mas com o que funciona. Não
pergunta o que é certo, mas o que dá certo.
4. O testemunho irrefutável dos
fatos
Tom Rainer fez uma exaustiva
pesquisa entre 576 igrejas batistas do Sul nos Estados Unidos e chegou a uma
conclusão contrária ao MCI. A pesquisa identificou que o maior fator para o
crescimento saudável da igreja foi a pregação expositiva.
5. Os grandes perigos que atentam
contra o crescimento da igreja
a) Liberalismo teológico –
Onde ele chega, mata a igreja. Ele começa nas cátedras, desce aos púlpitos e
daí mata as igrejas. Há muitas igrejas mortas na Europa e América do Norte.
Exemplo: minha experiência no Seminário de Princeton.
b) Sincretismo religioso –
Nossa cultura mística: pajelança, idolatria, kardecismo, cultos afros. Hoje
muitas igrejas mudaram o rótulo, mas mantém o povo preso ao mesmo misticismo:
sal grosso, copo d’água em cima da televisão.
c) Ortodoxia morta – E. M.
Bounds disse que homens mortos, tiram de si sermões mortos e sermões mortos,
matam. Lutero dizia que sermão sem unção endurece o coração. Antonio Vieira diz
que devemos pregar aos ouvidos e aos olhos. Precisamos ser boca de Deus.
d) Superficialidade no Púlpito
– Muitos pastores são preguiçosos, não estudam, não alimentam o povo com a
Palavra.
6. Vejamos um modelo bíblico de
pregação expositiva para o crescimento saudável:
Neemias 8 é um grande modelo da
pregação expositiva que produz o verdadeiro crescimento espiritual.
Martin Lloyd-Jones disse que a
pregação é a tarefa mais importante do mundo. A maior necessidade da igreja e a
maior necessidade do mundo.
Calvino entendia que o púlpito é o
trono de onde Deus governa a sua igreja.
I. O AJUNTAMENTO PARA OUVIR A
PALAVRA DE DEUS – v. 1-2
1. É espontâneo – v. 1
Deus moveu o coração do povo para
reunir-se para buscar a Palavra de Deus. Eles não se reuniram ao redor de
qualquer outro interesse. Hoje o povo busca resultados, coisas, benefícios
pessoais e não a Palavra de Deus. Querem as bênçãos de Deus, mas não Deus. Têm
fome de prosperidade e sucesso, mas não têm fome da Palavra.
2. É coletivo – v. 2,3
Todo o povo: homens e mulheres
reuniram-se para buscar a Palavra de Deus. Ninguém ficou de fora. Pobres e
ricos, agricultores e nobres, homens e mulheres. Eles tinham um alvo em comum,
buscar a Palavra de Deus. Precisamos ter vontade de nos reunir não apenas para
ouvirmos cantores famosos ou pregadores conhecidos, mas reunirmo-nos para
ouvirmos a Palavra de Deus. O centro do culto é a pregação da Palavra de Deus.
3. É pontual – v. 3
O povo todo estava presente desde o nascer
do sol. Eles se preparam para aquele grande dia. Havia expectativa no coração
deles para ouvir a lei de Deus. A Palavra precisa ser prioridade para sermos
pontuais.
James Hunter diz que uma pessoa que
se atrasa sistematicamente para um compromisso transmite várias mensagens: 1) O
tempo dela é mais importante do que o dos outros; 2) As outras pessoas que ela
vai encontrar não são muitos importantes para ela; 3) Ela não tem o cuidado de
cumprir compromissos.
4. É harmonioso – v. 1
“Todo o povo se ajuntou como um só homem” (v.1). Não havia apenas
ajuntamento, mas comunhão. Não apenas estavam pertos, mas eram unidos de alma.
A união deles não era em torno de encontros sociais, mas em todo da Palavra de
Deus.
5. É proposital – v. 1
“e disseram a Esdras, o escriba, que trouxesse o livro da lei de Moisés,
que o Senhor tinha prescrito a Israel” (v. 1). O propósito do povo era
ouvir a Palavra de Deus. Eles tinham sede da Palavra. Eles tinham pressa de
ouvir a Palavra. Não era qualquer novidade que os atraía, mas a Palavra de
Deus.
II. A SUPREMACIA DA PALAVRA DE
DEUS
1. O pregador precisa estar
comprometido com as Escrituras – v. 2,4,5
Esdras era um homem comprometido
com a Palavra (Esdras 7:10). Eles não buscam alguém para lhes contar bonitas
experiências, mas eles procuram um fiel expositor das Escrituras.
A maior necessidade da igreja é de
homens que conheçam, vivam e preguem a Palavra de Deus com fidelidade. A
pregação é a maior necessidade da igreja e do mundo. A pregação é a tarefa mais
importante que existe no mundo.
O impacto causado pela leitura da
Palavra de Deus por Esdras é comparado ao impacto da Bíblia na época da Reforma
do século XVI.
Precisamos nos tornar o povo “do
livro”, “da Palavra”. Não há reavivamento sem a restauração da autoridade da
Palavra.
Exemplo: Milagres X Palavra – Atos
2.
2. O pregador precisa estar
comprometido com o Deus das Escrituras
a) Piedade – A vida do
pregador é a vida da sua mensagem. Só prevalece em público, quem prevalece em
oração na intimidade. David Larsen disse que é mais importante ensinar um
pregador a orar do que a pregar. Sem oração não há pregação de poder.
b) Fome de Deus – oração e
jejum – o pregador é um homem em fogo. Se ele não arder no púlpito o povo não
poder. Moody disse que deveríamos acender uma fogueira no púlpito. O pregador
precisa ter mais fome de Deus do que de livros.
c) Fome da Palavra – O
pregador precisa ser um estudioso. Quem não gosta de ler, certamente não deve
ter o chamado para o ministério. Paulo fala que precisamos nos afadigar na
Palavra.
d) Paixão – O pregador é um
homem diz como Paulo (At 20:24). É como John Bunyan que prefere a prisão ao
silêncio. O pregador e o ator Magready. David Hume e George Whitefield.
3. O povo precisa estar sedento das
Escrituras – v. 1,3
A Bíblia é o anseio do povo. Eles
se reúnem como um só homem (v. 1), com os ouvidos atentos (v. 3), reverentes
(v. 6), chorando (v. 9) e alegrando (v. 12) e prontos a obedecer (v. 17).
Eles querem não farelo, mas trigo.
Eles querem pão do céu. Eles querem a verdade de Deus. Eles buscaram pão onde
havia pão.
Muitos buscam a Casa do Pão e não
encontram pão. São como Noemi e sua família que saíram de Belém e foram para
Moabe, porque não havia pão na Casa do Pão. Quando as pessoas deixam a Casa do Pão
encontram a morte. Há muita propaganda enganosa nas igrejas: prometem pão, mas
só há fornos frios, prateleiras vazias e algum farelo de pão.
4. Atitudes do povo em relação às
Escrituras
a) Ouvidos atentos (v.3) – O
povo permaneceu desde a alva até ao meio-dia, sem sair do lugar (v. 7), com os
ouvidos atentos. Não havia dispersão, distração, enfado. Eles estavam atentos
não ao pregador, mas ao livro da lei. Não havia esnobismo nem tietagem, mas
fome da Palavra.
b) Mente desperta (v.
2,,3,8) – A explicação era lógica, para que todos entendessem. O reavivamento
não foi um apelo às emoções, mas um apelo ao entendimento. A superstição
irracional era a marca do paganismo. Oséias 4:6: “O povo está sendo destruído
porque lhe falta o conhecimento”.
c) Reverência (v.5) –
“Esdras abriu o livro à vista de todo o povo, porque estava acima dele;
abrindo-o ele, todo o povo se pôs em pé”. Essa era uma atitude de reverência e
respeito à Palavra de Deus. Esse púlpito elevado não era para revelar a
infalibilidade do pregador, mas a supremacia da Palavra.
d) Adoração (v.6) – Esdras
ora, o povo responde com um sonoro amém, levanta as mãos e se prostra para
adorar. Onde há oração e exposição da Palavra, o povo exalta a Deus e o adora.
III. A PRIMAZIA DA PREGAÇÃO DA
PALAVRA DE DEUS
1. Ler o texto das Escrituras – v.
2,3,5
A leitura do texto é a parte mais
importante do sermão. O texto é a fonte da mensagem e a autoridade do
mensageiro. O sermão só é sermão se ele se propõe a explicar o texto.
2. Explicar o texto das Escrituras
– v. 7,8
O Cristianismo é a religião do
entendimento. Ele não nos rouba o cérebro. O sincretismo religioso anula a
razão.
Pregar é explicar o texto. A
mensagem é baseada na exegese, ou seja, tirar do texto, o que está no texto.
Não podemos impor ao texto, nossas ideias. Isso é eixegese.
Calvino dizia que pregação é a
explicação do texto. O púlpito é o trono de onde Deus governa a sua igreja.
Lutero dizia que existe a Palavra
de Deus escrita, a Palavra encarnada e a Palavra pregada.
Muitos hoje dizem: “Eu já tenho o
sermão, só falta o texto”. Isso não é pregação. Deus não tem nenhum compromisso com a
Palavra do pregador, e sim com a sua Palavra. É a Palavra de Deus que não volta
vazia e não a Palavra do pregador.
3. Aplicar o texto das Escrituras – v. 9-12
O sermão é uma ponte entre dois
mundos: o texto e o ouvinte. Precisamos ler o texto e ler o povo. Não pregamos
diante da congregação, mas à congregação. Onde começa a aplicação, começa o
sermão.
Há um grande perigo da chamada
heresia da aplicação. Se não interpretamos o texto corretamente, vamos
aplicá-lo distorcidamente. Vamos prometer o que Deus não está prometendo e
corrigir quando Deus não está corrigindo. Exemplo: o mel de Sansão.
A exposição e a aplicação da
Palavra de Deus produziu na vida do povo vários resultados gloriosos.
IV. OS EFEITOS DA PREGAÇÃO DA
PALAVRA DE DEUS
1. Atinge o Intelecto – v. 8
A pregação é dirigida à mente. O
culto deve ser racional. Devemos apelar ao entendimento (v. 2, 3,,8,12). John
Stott disse que crer é também pensar. Nada empolga tanto como estudar teologia.
O conhecimento da verdade enche a nossa cabeça de luz. O povo que conhece a
Deus é forte e ativo (Dn 11:32).
2. Atinge a Emoção – v. 9-12
a) Choro pelo pecado (v. 9)
– A Palavra de Deus produz quebrantamento, arrependimento, choro pelo pecado. O
verdadeiro conhecimento nos leva às lágrimas. Quanto mais perto de Deus você
está, mais tem consciência de que é pecador, mais chora pelo pecado. O
emocionalismo é inútil, mas a emoção produzida pelo entendimento é parte do
Cristianismo. É impossível compreender a verdade sem ser tocado por ela.
b) A alegria da restauração
(v. 10) – As festas deviam ser celebradas com alegria (Dt 16:11,14)). A Alegria
tem três aspectos importantes: 1) Uma origem divina – “A alegria do Senhor”.
Essa não é uma alegria circunstancial, momentânea, sentimental. É a alegria de
Deus, indizível e cheia de glória. 2) Um conteúdo bendito – Deus não é apenas a
origem, mas o conteúdo dessa alegria. O povo regozija-se não apenas por causa
de Deus, mas em Deus: sua graça, seu amor, seus dons. É na presença de Deus que
há plenitude de alegria. 3) Um efeito glorioso – “A alegria do Senhor é a nossa
força”. Quem conhece esta alegria não olha para trás como a mulher de Ló. Quem
bebe da fonte das delícias de Deus não vive cavando cisternas rotas. Quem bebe
das delícias de Deus não sente saudades do Egito. Essa alegria é a nossa força.
Foi essa alegria que Paulo e Silas sentiram na prisão. Essa é a alegria que os
mártires sentiram na hora da morte.
3. Atinge a vontade – v. 11-12
a) Obediência a Deus (v. 12)
– O povo obedeceu a voz de Deus e deixou o choro e começou a regozijar-se.
b) Solidariedade ao próximo
(v. 12) – O povo começou não apenas a alegrar-se em Deus, mas a manifestar seu
amor ao próximo, enviando porções àqueles que nada tinham. Não podemos separar
a dimensão vertical da horizontal no culto.
V. A OBSERVÂNCIA DA PALAVRA DE
DEUS – v. 13-18
1. A liderança toma a iniciativa de
observar a Palavra de Deus – v. 13-15
Esdras no dia seguinte organiza um
estudo bíblico mais profundo para a liderança (8:13). Um grande reavivamento
está acontecendo como resultado da observância e obediência à Palavra de Deus.
Essa mudança é iniciada pelos líderes do povo.
Havia práticas que haviam caído no
esquecimento. Eles voltaram à Palavra e começaram a perceber que precisavam ser
regidos pela Palavra. A Escritura deve guiar a igreja sempre!
A primeira tentação do diabo não
foi sobre sexo ou dinheiro, mas suscitar dúvidas acerca da Palavra de Deus.
2. Os liderados obedecem a
orientação da Palavra de Deus – v. 16-18
Toda a liderança e todo o povo se
mobiliza para acertar a vida de acordo com a Palavra. Havia uma unanimidade em
buscar a Palavra e em obedecê-la.
Esse reavivamento espiritual foi
tão extraordinário que desde Josué, ou seja, há 1.000 anos que a Festa dos
Tabernáculos nunca tinha sido realizado com tanta fidelidade ao ensino das
Escrituras. Essa festa lembrava a colheita (Ex 34:22) e a peregrinação no
deserto (Lv 23:43). Em ambas as situações o povo era totalmente dependentes de
Deus.
Se queremos restauração para a
igreja, precisamos buscar não as novidades, mas voltarmo-nos para as
Escrituras.
3. A alegria de Deus sempre vem sobre
o povo quando este obedece a Palavra de Deus – v. 10,17b
“A alegria do Senhor é a vossa força” (v.10) e “…e houve mui grande alegria” (v.17b). O
mundo está atrás da alegria, mas ela é resultado da obediência à Palavra de
Deus. O pecado entristece, adoece, cansa. Mas, a obediência à Palavra de Deus
traz uma alegria indizível e cheia de glória.
Um povo alegre é um povo forte. A
alegria do Senhor é a nossa força. Quando você está alegre, a força de Deus o
entusiasma!
CONCLUSÃO
Resultados gloriosos são colhidos
quando o povo se volta para a Palavra de Deus:
a) Confissão de Pecado – NO
capítulo 9 vemos uma das mais profundas orações da Bíblia onde Neemias confessa
o seu pecado e o pecado do seu povo. Sempre que a Palavra é exposta há choro
pelo pecado e abandono do pecado.
b) Aliança com Deus e reavivamento
– No capítulo 10, os líderes e o povo fazem uma aliança com Deus de quem
deixariam seus pecados e andariam com Deus. E então, houve um grande
reavivamento espiritual que levantou a nação.
Autor: Hernandes Dias
Lopes, natural de Nova Venécia-ES. Casado com Udemilta
Pimentel Lopes, pai de Thiago e Mariana. Fez o seu curso de Bacharel em
Teologia no Seminário Presbiteriano do Sul em Campinas-SP no período de 1978 a
1981 e o seu Doutorado em Ministério no Reformed Theological Seminary, em
Jackson, Mississippi, nos Estados Unidos no período de 2000 a 2001. Foi pastor
da Primeira Igreja Presbiteriana de Bragança Paulista no período de 1982 a 1984
e desde 1985 é o pastor titular da Primeira Igreja Presbiteriana de
Vitória-IPB.
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