Pular para o conteúdo principal

EXPECTATIVA EQUILIBRADA


 

            Introdução

            As cinco parábolas encontradas desde Mateus 24:42 até o fim do capítulo 25 revelam o que precisa acontecer na vida dos fiéis enquanto aguardam a volta do seu Senhor.

            Antes de examinarmos a progressão que ocorre entre as parábolas, devemos notar uma informação que aprece nas entrelinhas de todas elas, ou seja, a volta de Cristo:

            ʘ Demoraria (Mt 24:48);

            ʘ Tardaria (Mt 25:5) e

            ʘ Ocorreria “depois de muito tempo” no futuro (Mt 25:19).

            Já se passou muito tempo. Jesus sabia do que estava falando.

            A questão que Cristo precisava lidar, em face dos aspectos desencorajadores e ameaçadores da fé ligados à Sua demora, relacionava-se às atitudes e à vida diária de Seus seguidores no longo ínterim entre a ascensão e o segundo advento.

            Refletindo sobre a espera do advento, Tiago White comentou: "A posição de expectativa não é a mais feliz." – Life Incidents [Incidentes de Vida], vol. 1, pág. 337.

            O verso 42 de Mateus 24 apresenta a consequência prática de tudo o que foi exposto ao longo do capítulo. Se ninguém neste mundo sabe a hora do segundo advento, exceto o Pai (v 36), cabe aos cristãos “vigiar”, pois não fazem a menor ideia do dia nem da hora da volta de Jesus (v 42).

 

            A primeira parábola - A parábola do pai de família vigilante 

            Nos versos 43 e 44 do mesmo capítulo (24), Jesus conta uma pequena parábola conclamando Seus seguidores a ficar constantemente em alerta. Seu papel é vigiar assim como o pai de família vigiaria a casa se soubesse que os ladrões tentariam arrombá-la.

            Um estado constante de alerta e prontidão para a volta de Jesus é a mensagem desta pequena parábola. Afinal, “à hora em que não cuidais, o Filho do Homem virá” (v 44). É curioso notar que, ao longo da história, o momento em que menos se aguarda a volta de Cristo é sempre “hoje”.

 

            A parábola de três aprendizes do diabo 

           “O teólogo William Barclay (1907-1978) conta a parábola de três aprendizes do diabo selecionados para ser enviados à Terra para completar seu treinamento. Cada um apresentou seu plano a Satanás para a destruição da humanidade.

            O primeiro propôs-se a dizer às pessoas que Deus não existe. Satanás respondeu que isso não enganaria muitos, pois a maioria tem a sensação do contrário. O segundo disse que proclamaria  que o inferno não existe. Satanás rejeitou essa tática também, pois a maioria das pessoas tem noção de que o pecador, um dia, receberá o que merece. O terceiro disse: Direi aos homens que não há pressa. Vá, respondeu Satanás, e você arruinará milhares de homens.

            A ilusão mais perigosa é pensar que o tempo nunca chegará ao fim.  “Amanhã” é uma palavra perigosa. É contra essa atitude que Cristo nos adverte na primeira de Suas cinco parábolas sobre vigilância e prontidão.”  George R. Knight , Visão Apocalíptica e a Neutralização do Adventismo, págs. 93-94.

 

            A segunda parábola - A parábola do bom servo e do mal

            Versos 45-51 de Mateus 24 continua abordando o tema da urgência e vigilância, mas com acréscimos de várias nuances. Essa parábola enfatiza que os cristãos têm deveres e responsabilidades éticas a ser colocadas em prática enquanto esperam e vigiam. Não devem aguardar na ociosidade. Nessa história, o senhor também demora a voltar por razões desconhecidas aos servos.

            Infelizmente, a demora não deve, mas pode gerar mau comportamento. Como os servos se encontram sozinhos em meio a uma situação incerta, um deles permite que suas paixões mais baixas aflorem. Ele começa a tratar os outros com maldade e a viver de maneira inadequada, pensando que ainda tem muito tempo.

            Nesse ponto, Jesus reitera a lição da primeira parábola: “Virá o senhor daquele servo em dia em que não o espera e em hora que não sabe” (verso 50). Em seguida, no verso 51, Jesus ensina outra lição, algo que reaparecerá no fim da quarta e da quinta parábolas (Mt 25:30,46). Os servos infiéis perderão sua recompensa celestial e no lugar dela receberão a mesma recompensa dos judeus infiéis (Mt 23:13,15,23,25,27,29). Assim, Ele manifesta o conceito de fidelidade e alerta de maneira mais completa do que na primeira parábola.

 

            A terceira parábola- A parábola das dez virgens

            Mateus 25:1-13 prossegue com o tema de aguardar com expectativa vigilante iniciado nas duas primeiras parábolas, mas outra vez Jesus aumenta a complexidade da mensagem. A cena da parábola é um casamento palestino, cerimônia que normalmente durava uma semana ou mais. As cerimônias de casamento envolviam toda a comunidade, e, ao contrário do costume ocidental, os recém-casados não saiam em lua-de- mel. Em vez disso, permaneciam em casa recebendo os convidados.

                        Além da chegada do noivo, a ênfase da parábola recai sobre as dez virgens e suas lâmpadas (v 2). Na verdade o foco principal está na divisão entre as virgens. A parábola afirma que cinco delas são sábias e cinco são néscias. Os preparativos que fizeram para a chegada do noivo determinaram a diferença entre os dois grupos. Todas tinham lâmpadas, mas apenas a metade havia levado óleo suficiente.

            Observe que todas as dez eram aparentemente cristãs, pois todas aguardavam a chegada do noivo. Lembre-se também de que todas as dez ficaram sonolentas e adormeceram (v 5). Assim, nessa parábola, não estamos lidando com fiéis e infiéis. Todas alegam ser fiéis.

            O ponto principal dessa parábola é que o noivo “demorou a chegar” (v 5, NVI). Por esse motivo, as virgens adormeceram. As necessidades terrenas continuam até mesmo enquanto os seguidores de Cristo aguardam Sua volta. Ninguém pode viver num constante estado de alerta. O tema da demora da vinda de Cristo é apresentado em Mateus 24:48 e reaparece pela terceira vez em Mateus 25:19. A demora, sem dúvida, já estava se tornando um problema para alguns fiéis na ocasião em que o Evangelho de Mateus foi escrito (por volta da 3ª década após a ascensão de Cristo – 64 dC).

            A diferença entre as virgens sábias e néscias, como observamos, não era se estavam adormecidas ou não. Todas estavam dormindo. Mas nem todas elas haviam se preparado para a convocação. Algumas haviam deixado para se preparar no último minuto, quando já era tarde demais. Jesus disse que pagaram caro pela negligência. “Fechou-se a porta” (Mt 25:10), o tempo da graça chegou ao fim (v tb Ap 22:10-11) e perderam o grande banquete de casamento do Cordeiro por ocasião do segundo advento (Mt 25:10-12; Ap 19:9). 

            Mateus 25:13 apresenta a moral da história: “Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora”. A moral dessa história também foi a lógica que permeou as duas primeiras parábolas da série. Mas essa acrescenta o conceito crucial de que ninguém pode se apoiar na preparação de outra pessoa. Enfrentaremos o julgamento de Deus individualmente.

            Nota-se que a parábola das virgens não indica a maneira de nos prepararmos para a chegada do noivo. Esse será o tema das duas parábolas finais.

 

            A quarta parábola - A parábola dos talentos       

            A parábola dos talentos (versos 14-30 de Mateus 25), assim como as três primeiras parábolas, continua a enfatizar a importância de estar pronto para a vinda do Mestre. Entretanto, aborda uma questão não respondida anteriormente: O que significa estar pronto?  O significado de estar pronto é a mensagem da parábola dos talentos.

            O enredo da história é bastante simples. Um homem (Cristo) se ausenta do país e confia a cada um dos seus servos certa quantia de talentos (grande soma de dinheiro). Para um, confia cinco, a outro, dois, e para o último, um talento.

            Os dois primeiros investem os talentos, fazendo com que se multipliquem, mas o terceiro simplesmente enterra o único talento que recebeu, a fim de mantê-lo seguro. No mundo antigo, o ato de enterrar dinheiro não era um conceito estranho se alguém desejava apenas segurança. Claro, a pessoa precisava se lembrar em que local havia enterrado o dinheiro. A prática de enterrar itens de valor aparece na parábola do tesouro escondido, relatada em Mateus 13:44.

            O mestre, porém, deseja mais que segurança para os talentos confiados. Ele deseja que os talentos gerem lucros. Isso se torna evidente no momento em que, “depois de muito tempo” (note a semelhança desse aspecto com as duas parábolas anteriores (Mt 24:48; 25:5), o mestre retorna e exige uma prestação contas para determinar a fidelidade de seus servos durante sua ausência (v 19).

            Na cena do julgamento que se segue, o mestre recompensa os dois servos que foram fiéis em cumprir suas responsabilidades durante sua ausência, mas pune aquele que não fez nada mesmo sabendo que o mestre esperava que fizesse alguma coisa com o talento que recebeu (V 24). O servo irresponsável, além de não receber nenhuma recompensa, ainda é desprovido daquilo que tem. Na opinião do mestre, ele está desqualificado para entrar no reino (VS 28-30).

            A lição é clara: estar preparado para a volta de Jesus não significa aguardar passivamente esse evento; estar pronto é a atividade responsável que produz resultados para o reino do Céu – resultados que o Mestre pode ver e aprovar. 

            Aprendemos também com essa parábola que Deus não espera os mesmos resultados de todo mundo. Os cristãos apresentam níveis variados de habilidade (v 15). Contudo, não é a quantidade de habilidades de uma pessoa que será avaliada no julgamento, mas se ela colocou em prática a gama de habilidades que Deus lhe concedeu. As pessoas não são iguais em suas habilidades, mas elas podem ser iguais em esforço. Deus espera receber bons juros no investimento que fez em cada um de nós.  

 

            A quinta parábola – A parábola das ovelhas e dos cabritos

            Tecnicamente se trata mais de uma cena do julgamento final do que uma parábola. Ela completa as instruções de Jesus sobre a preparação. Enquanto as três primeiras parábolas colocam a ênfase no ato de vigiar (Mt 24:42-25:13) e a quarta reforça o ato de trabalhar enquanto aguardamos o retorno do Mestre, essa parábola – Mateus 25:31-46 mostra a natureza essencial desse trabalho.

            A parábola das ovelhas e dos cabritos é um vívido retrato falado da separação final que ocorrerá na ocasião em que Jesus voltar nas nuvens do céu. É um retrato que não deixa espaço para meio-termo ou segunda chance. Seremos ovelhas (símbolo do povo de Deus no AT) ou cabritos. Ficaremos à direita (símbolo do favor) ou à esquerda (símbolo de desfavor). Não há meio-termo. Tampouco a decisão do julgamento estará sujeita a apelações ou recursos. A cena é de finalização. Aqueles que deixaram de fazer uso apropriado do tempo de espera e vigilância antes do segundo advento terrão perdido para sempre o reino (v 46).

            A surpresa é um elemento crucial nessa parábola. Tanto as ovelhas quanto os cabritos ficam surpresos com o veredito do rei quanto o seu caso particular. Os dois grupos questionam o veredito (vs 37-39,44).

            O motivo da surpresa origina-se da falsa interpretação da verdadeira religião. Em geral, as pessoas acreditam que o coração da verdadeira religião é a crença nas doutrinas certas ou a prática de certos rituais e estilo de vida. Mas essa não é a posição bíblica.

           Naquele dia, não nos será perguntado em que acreditamos ou por que guardamos o sábado, devolvemos o dízimo ou cuidamos bem de nossa saúde.

            Embora essas coisas sejam importantes, podemos praticá-las rigorosamente e ainda assim estarmos totalmente perdidos (Mt 23:23,24). A questão real do julgamento é se demonstramos amor verdadeiro ao próximo. “Quando as nações se reunirem diante dEle, não haverá senão duas classes, e seu destino eterno será determinado pelo que houverem feito ou negligenciado fazer por Ele na pessoa dos pobres e sofredores” DTN, pág. 637.

           Uma lição importante extraída da parábola das ovelhas e dos cabritos é que as obras que realmente contam são simples e não calculadas. São tão simples quanto alimentar o pobre e visitar o doente. São não calculadas no sentido de que quem as pratica não o faz para alcançar mérito, mas porque o amor de Deus está em seu coração e flui naturalmente ao próximo. Atos de auxílio e misericórdia tornaram-se naturais. O amor de Deus foi internalizado e é demonstrado na vida diária, mesmo que não se tenha consciência dessa virtude.

 

            Conclusão

            A qualificação essencial para o reino do Céu é a internalização inconsciente do amor de Deus e sua expressão na vida diária. Tais pessoas começaram a viver o princípio do servir e a grandeza que aparece vez após outra no Evangelho de Mateus. Elas estão seguras a destra de Deus, pois internalizaram o princípio do amor, o princípio do reino. Desenvolveram, por meio da graça, a justiça que excede a dos escribas e fariseus. Assim, prepararam-se para entrar no reino do Céu (ver Mateus 5:20).

            Que esta seja a minha, a sua, a nossa experiência.

            È o meu desejo e a minha oração. Amém!!

              

   

       

Comentários

  1. EXCELENTE TRABALHO. QUE DEUS TE ANIME SEMPRE A PROMOVER CONHECIMENTOS TÃO NECESSÁRIOS PARA A PREPARAÇÃO DO POVO DE DEUS PARA A SEGUNDA VINDA DE JESUS.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

AS TRÊS FASES DO JUÍZO DE DEUS

Apocalipse 14:6-7                                      Introdução             É um prazer tê-los em nossa igreja para mais uma noite de estudos do livro de Daniel. Nossa proposta é que todos os domingos aprendamos verdades divinas reveladas na Palavra de Deus. No domingo passado estudamos sobre um tema magnífico e antes de entrarmos na aula de hoje, iremos recapitular rapidamente o nosso estudo anterior.             Relembrando             Ao relembrar o gráfico profético vemos que antes da 2ª vinda de Jesus, ocorreria o juízo de Deus, você lembra?             Jesus não vem para julgar, Ele vem para dar a recompensa. O julgamento já terá ocorrido antes dEle voltar e este julgamento é chamado de julgamento investigativo, ou juízo investigativo (Apocalipse 22:12).             É chegada a hora do seu juízo             Leiamos Apocalipse 14:6-7             Devemos destacar alguns pontos nestes versos:             1° essa seria uma mensagem pregada em todo mu

DEZ INIMIGOS DA ORAÇÃO EFICAZ

           Segundo afirma o Pr. John Maxwell, em seu livro intitulado “Parceiros de Oração” existem aproximadamente dez inimigos da oração intercessória eficaz.            I João 5:15 diz que Deus sempre nos ouve.             Isto significa que Ele vai conceder tudo o que pedimos?            “Há condições para o cumprimento das promessas de Deus e a oração nunca pode substituir o dever”. PJ, pág. 143.            Uma coisa, porém, é certa. Deus ouve e responde a todas as orações.            Há, entretanto, três maneiras de Deus responder aos nossos pedidos: sim ; não e espere um pouco .   Alguns exemplos bíblicos que confirmam tal citação:            ·   Um homem leproso pediu para Jesus cura-lo. Jesus o curou imediat. Mat. 8:1- 6;            ·   Josué e Calebe tinham o desejo de tomar posse da terra prometida imediatamente. Mas tiveram que esperar quarenta anos (14600 dias). Num. 14:8;            ·   Moisés rogara a Deus que o deixasse cruzar o Jordão imed

ONDE ESTÁ ESCRITO QUE...

           Introdução .            Existe, inclusive no meio adventista, uma coisa interessante que os estudiosos denominam de cultura corporativa. Trata-se de um conjunto de regulamentos, de regras, de preceitos, que são levados a sério, até demais, muito embora não estejam escritos em lugar nenhum.             “Não tenho nenhum desejo de perturbar a fé de ninguém. Pelo contrário, quero que essa fé seja sincera, realista e verdadeiramente bíblica. Mas os crentes, por vezes, creem em coisas que não estão na Bíblia, por causa de um método errado de interpretação ou de uma esperança infantil de que Deus assumirá as responsabilidades por elas” . (O Mito da Grama Mais Verde de J. Allan Petersen, 4ª Edição/ 1990, Juerp, pág. 63).             O objetivo deste estudo é levá-lo a rever seus conceitos .            Deus é avesso a mudanças?            Todos nós certamente temos a resposta na ponta da língua. Sim. Está escrito lá no livro de Malaquias 3:6. Ou então está lá n