Pessoas há que só se impressionam com os pontos negros da vida; são por isso mesmo melancólicas e pessimistas. Outros há, entretanto, capazes de discernir seus aspectos positivos: são os otimistas, os que irradiam entusiasmo e confiança.
Nos dias da grande depressão
econômica nos Estados Unidos, um conhecido especialista em assuntos financeiros
foi convidado para pronunciar uma conferência a um selecionado grupo de
empresários.
Seu discurso se destacou pela
originalidade. Em uma folha de papel pintou um ponto negro e, apresentando-a ao
ouvinte mais próximo, perguntou o que é que ele via. Este respondeu sem
vacilações: “Um ponto negro”. O conferencista dirigiu a mesma pergunta a
cada um de seus ouvintes, e todos deram a mesma resposta. Depois de haver
interrogado a todos, com voz pausada e grave, disse: “Sim, há um pequeno
ponto negro, mas ninguém viu a grande folha de papel branco”.
A tendência que estes ouvintes
revelaram é mui comum. Pessoas há que só se impressionam com os pontos negros
da vida; são por isso mesmo melancólicas e pessimistas. Outras há, entretanto,
capazes de discernir mesmo em meio às circunstâncias mais adversas, seus
aspectos mais positivos e estimulantes: são os otimistas, os que irradiam
entusiasmo e confiança.
Após dois anos de peregrinações
através de um calcinado deserto, o povo de Israel chegou a Cades-Barnéia,
fronteira da Terra Prometida. Consoante instruções divinas, Moisés enviou uma
expedição de doze homens para expiar a terra que lhes seria dada como preciosa
herança.
Após quarenta dias voltaram ao
acampamento, no deserto de Parã, de onde haviam partido. Eis um resumo das
informações: “A terra a que nos enviastes, verdadeiramente mana leite e mel”
(Êxodo 3:8). Para demonstrar
a fertilidade de seus campos, mostraram ao povo as uvas que colheram no vale de
Escol, perto de Hebrom. Ainda hoje são famosas em toda a Palestina as uvas de
Hebrom. Porém mostraram-se céticos quanto às possibilidades de possuí-la, pois
disseram: “O povo que habita nessa terra é poderoso e as cidades são fortes
e mui grandes” (Números 13:28).
Calebe, entretanto, interrompeu a descrição pessimista de
seus companheiros de expedição e entusiasmou o povo a proceder à conquista da
terra generosa e fecunda. Mas enquanto ele falava, os desalentados espias
interromperam-no clamando: “Não poderemos subir contra aquele povo, porque é
mais forte do que nós” (Números 13:31).
O resultado desse relatório derrotista
foi ruinoso para Israel. Estando já às portas de Canaã, o povo de deixou abater
pelo desalento e, em lugar de avançar, tiveram de retroceder. Aquela geração
não entrou na Terra da Promessa. Morreu sem ver a cristalização de suas mais
suspiradas esperanças.
Há pessoas que só se impressionam
com os pontos negros da vida: são os que se conduzem influenciados por
sentimentos negativos e desalentadores.
Outros há que se esforçam por
descobrir motivações inspiradoras e estimulantes: são os otimistas, os que
infundem ânimo e esperança.
A qual desses grupos pertencemos?
Há alguns meses um encanecido membro
de uma de nossas igrejas solicitou-me a oportunidade de um diálogo. Abrindo o
coração, expressou com profunda angústia suas impressões sombrias relacionadas
com o futuro da igreja. “Nossos jovens” – disse ele – “são frívolos e
levianos. Os membros, de um modo geral, se conduzem com impressionante apatia
espiritual. Nossas irmãs acompanham a moda com alarmante servilismo. Nossas
instituições estão permeadas com o espírito deste século”. Suas palavras
traduziam amargura e derrota.
Esforcei-me por convencê-lo de que
apesar do espírito laodiceano existente entre nós, temos uma boa porcentagem de
jovens plenamente dedicados aos ideais do Adventismo: que uma ponderável
parcela dos membros da igreja vive à altura da “fé que uma vez foi dada aos
santos” (Judas 1:3); que há em nosso meio milhares de piedosas mulheres que
não se ataviam conforme os padrões mundanos; e que nossas instituições apesar
de suas evidentes imperfeições são ainda ilhas de piedade, circundadas por um
oceano de vícios e dissolução.
Senti, porém, que os meus argumentos
foram insuficientes para restaurar no coração daquele irmão a confiança no
futuro deste Movimento. Falei-lhe então da oração de uma criança em uma manhã
chuvosa: “Graças Te dou, Senhor” – dizia o menino – “por esta linda
manhã”. Sua mãe se surpreendeu com a oração, pois o dia se apresentava
úmido e tormentoso. Entretanto, ele explicou as razões de sua prece dizendo: “Mamãe,
devemos aprender a nunca julgar o dia através das informações do Serviço de
Meteorologia”.
Devemos igualmente aprender a
nunca julgar a Igreja, tomando como elemento de juízo os pontos negros
existentes dentro de sua moldura.
Escreveu a Serva do Senhor: “A
Igreja, débil e defeituosa, precisando ser repreendida, advertida e
aconselhada, é o único objeto na Terra ao qual Cristo confere Sua suprema
consideração”. – Testemunhos p/ Ministros, pág. 49.
Em seu livro Reflexões para
Modernos, Kenneth H. Wood reproduz o seguinte fragmento de versos de um autor
desconhecido: “Dois homens olharam através das grades da prisão – “Um via apenas lama e o outro uma
constelação”. Pág. 64.
Duas pessoas olham a Igreja. Uma
através das lentes do otimismo contempla a Igreja como propriedade de Deus,
objeto de Seu supremo cuidado e amor; a outra, com as lentes escuras do
pessimismo, nela vê simplesmente um aglomerado de homens e mulheres, com as
debilidades próprias da natureza humana.
A Igreja é a mesma; os homens são
diferentes. Uns vêem o barro, símbolo da fragilidade humana; outros vêem a
Jesus, “a resplandecente Estrela da Manhã”.
A qual desses grupos pertencemos?
“Testifico a meus irmãos e irmãs
que a Igreja de Cristo, débil e defeituosa como possa ser, é o único objeto na
Terra ao qual Ele dispensa Seu supremo cuidado”. – Testemunhos p/
Ministros, pág. 15.
Enoch
de Oliveira
(1924-1992) - liderou a Divisão Sul-Americana IASD no período de junho de 1975
a abril de 1980. Antes (1959-1970), foi secretário ministerial e evangelista da
DSA, e em seguida (1970-1975), secretário.
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