Quem foi que disse
que quebrar tabus é tarefa fácil? Não, não é. Mas faz-se necessário quebrá-los.
Trata-se de um grande desafio entender porque temos tanta dificuldade em lidar
com certos assuntos.
Ser cristão significa sermos capazes de
encarar, entre outros, temas como a Divindade, criacionismo, justificação pela
fé, profecias, a sexualidade com naturalidade, seriedade e serenidade suficientes
para não nos tornarmos presas fáceis do inimigo. Está escrito: “Sede sóbrios; vigiai; porque o
diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem
possa tragar.” (1 Pedro 5:8) .
No
contexto da sexualidade, vocês não fazem ideia da quantidade de jovens
solteiros, de adultos casados, em suas mais diversas faixas etárias, dentro de
nossas igrejas, que carregam o pesado fardo da culpa por terem transgredido o
sétimo mandamento (Êxodo 20:14, Deuteronômio 5:18; Mateus 5:27 ).
Igualmente grande é o número de casais vivendo de aparências, levando uma
vida medíocre porque não tem a coragem de assumir e consequentemente buscar ajuda
para seus problemas. Para piorar as coisas encontramos ainda “líderes” de moral
duvidosa, falsos moralistas, incapazes de prover o auxílio que é mister. As
Santas Escrituras censuram toda forma de zelo desprovida de entendimento (Romanos 10:2).
Mas não
se aflijam, tabus, falta de conhecimento nesta área não é exclusividade nossa.
Até em países de primeiro mundo eles se fazem presentes. É o que nos mostra Stanton Jones, professor de Psicologia na Wheaton College,
Massachusetts, USA, que
juntamente com sua esposa Brenna, já escreveu quatro livros na série de
educação sexual para famílias cristãs que foi publicada pela NavPress, em seu
artigo intitulado Como Ensinar Sobre Sexo. Trata-se de um texto bastante desafiador, elucidativo, utilíssimo para nossa reflexão. Uma leitura imperdível.
Como
ensinar sobre sexo
Postado
em 10 22:29:16/07/2011
Infelizmente,
começamos a formação de nossos jovens tardiamente, de maneira ambígua e
ineficaz.
Por Stanton
Jones
Desde que
o aborto foi legalizado nos EUA em 1973, foram registrados mais de 45 milhões
de abortos. Esta perda de vida humana é equivalente ao número de pessoas
exterminadas na repressão de Stalin na União Soviética ou à perda de vidas na
China comunista de Mao. Estas são estatísticas que já usei em outros contextos
para demonstrar a profundidade da perversidade humana.
O que as
igrejas podem fazer para reduzir o aborto? A resposta de igreja precisa ser
multifacetada:
-
Precisamos educar, moldar nossos jovens e todas as pessoas. Os Cristãos
Evangélicos precisam aprender a celebrar e abraçar sua sexualidade, vivendo
esta sexualidade em santidade, não abrindo espaço para o aborto.
-
Precisamos criar comunidades que apoiem as responsabilidades e a restrição
sexual para os solteiros adultos em nosso meio, que se perdem tão
frequentemente na cultura do “mercado da carne”.
-
Precisamos formar na consciência das pessoas de nossa comunidade a questão do
valor da vida humana.
-
Precisamos capacitar membros da igreja para se tornarem cidadãos articulados
que compreendam as questões morais nas quais se enquadram as leis e a
liberdade, mobilizando cidadãos que possam exercer seus direitos democráticos
para moldar a lei do país.
-
Precisamos apoiar aqueles que se mobilizam de maneira pensante, testemunhas
efetivamente proféticas contra a morte de seres humanos “indesejados”.
-
Precisamos ampliar nossos trabalhos de compaixão com crianças que precisam de
adoção para que tenham alternativas viáveis de vida e sejam poupados do aborto.
-
Precisamos nos empenhar em criar caminhos para que pessoas escapem da pobreza,
do sentimento de desesperança e desamparo que é tão comum hoje em nossa
cultura.
-
Precisamos contribuir para o fortalecimento do casamento e fortalecer o apoio
das comunidades para pais e mães solteiros e famílias quebradas em uma época na
qual os abortos são feitos em sua maioria não em adolescentes grávidas, mas em
mulheres adultas, muitas delas que já tem um ou mais filhos.
-
Precisamos orar sem cessar.
Esta é
uma desanimadora lista de coisas a fazer. Vou focar nas primeiras ações, porque
uma compreensão positiva e profundamente bíblica acerca da sexualidade é algo
extremamente necessário nas igrejas evangélicas de hoje. Para uma comunidade
que se orgulha por ser “bíblica”, é chocante enxergar a distorção do nosso foco
sobre sexualidade. Uma visão bíblica sobre a sexualidade é profundamente
positiva, atraente e profundamente arraigada no valor da vida, um paradigma
sobre o qual devemos tratar a questão do aborto.
Evangélicos
não são fundamentalmente contra o aborto – em nível mais básico, somos
definidos por aquilo que somos a favor, mais do que por aquilo que somos
contra. Somos fundamentalmente valorizadores da vida e da sexualidade, pois
celebramos estas verdades que são nossas em Jesus Cristo.
Infelizmente,
começamos a formação de nossos jovens tardiamente, de maneira ambígua e
ineficaz. Estamos presos a um paradigma de indiferença e negação quando
pensamos sobre a sexualidade. Nossos pastores tem evitado o tema a não ser para
rápidas mensagens, orientadas pela culpa e que contém a frase “diga não”. Para
nossa tristeza, muitos líderes evangélicos fracassam ao tentar viver os padrões
que proclamam e se tornam exemplos públicos de hipocrisia. Visões conflitantes
sobre a sexualidade contribuem para que estes fracassos se tornem argumentos e
seduzam a nossa juventude. As duas principais visões conflitantes acerca da
sexualidade: em primeiro lugar, o naturalismo evolutivo. O ponto de vista do
naturalismo, materialista, reduz a realidade ao físico. Sob este ponto de
vista, o sexo não tem significado. Um slogan da psicologia evolutiva diz: “Uma
galinha é apenas a maneira de um ovo fazer outro ovo”. O sexo seria algo
puramente mecânico no qual os genes se reproduzem.
O
naturalismo evolutivo é uma maneira fria de ver as coisas e, portanto é fácil
compreender porque outro ponto de vista tem um apelo crescente. Eu vou chamá-lo
de “formação de identidade pós-moderna”. Pensadores como Nietzsche e Foucault
afirmaram que as pessoas estabelecem sua verdadeira personalidade quando
rejeitam as normas da sociedade, particularmente na área da moralidade sexual.
Nietzsche prometeu que a “Natureza” irá “entregar seus segredos” quando formos
bem sucedidos em “nos opor vitoriosamente de maneira antinatural”. Foucault
recomendou a “ética da transgressão”.
É parte
da condição geral humana a ânsia por sermos nossos próprios deuses e
construirmos nossas próprias realidades. D.H. Lawrence escreveu: “[Homens]
vivem na feliz obediência daqueles que acreditam ser seus mestres ou vivem em
real oposição ao mestre que querem vencer. Na America esta oposição tem sido um
fator vital”.
Isto é
Romanos 1 vivido de maneira prática como nunca antes. Hoje nos rebelamos não
apenas contra os limites culturais e morais, mas também contra os limites
biológicos de nossas realidades físicas, como nossos órgãos corporais e até
mesmo nossa sexualidade masculina ou feminina. Nos rebelamos ao substituir Deus
e seu chamado em nossa vida através de nossos comportamentos, preferências e
identidades sexuais. O teólogo David Bentley Hart caracterizou o ideal moderno
da autonomia pessoal: “Somos em primeiro lugar, consumidores insaciáveis e não
podemos permitir que os espectros da lei transcendente ou a culpa pessoal nos
tornem indecisos. Para nós, o importante é a escolha em si e não o que
escolhemos”.
Um
poderoso modelo contemporâneo da formação da identidade pós-moderna vem de
minha organização profissional. Ela afirma que algumas religiões trazem uma
visão de que a vida é a luta para trazer a minha vida em congruência com algo
maior e que vai além de mim. Em contraste, “modelos multiculturais e
afirmativos da psicologia lgbt” tratam da vida como uma busca da congruência
para o que experimentamos agora.
Em face a
estes pontos de vista, que visão de sexualidade verdadeira, bíblica e positiva
pode ser ensinada à igreja e pela igreja? Os elementos chave dizem respeito ao
nosso corpo, nossa encarnação, sexual e em gênero, relacional, feitos à imagem
de Deus, caídos e conflitantes, abençoados com significativas relações sexuais
e a alma em construção.
1. Temos
um corpo. Somos encarnados.
“Então o
Senhor Deus formou o homem do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego da
vida, e o homem se tornou um ser vivente” (Gênesis 2:7).
Ser
humano é ser uma criatura física e biológica. Cristãos enxergam toda a
existência física, da grandeza do cosmos até a particularidade do corpo humano,
como bondosa e boa criação de Deus. A existência física não é divina, mas é
boa. A bondade do corpo, da encarnação, está baseada também nas doutrinas da
Encarnação e da Ressurreição. Se Deus pode se tornar totalmente humano, a
existência física não deve ser intrinsecamente má ou incompatível com a
perfeita bondade. Da mesma maneira podemos apreciar nossa encarnação porque o
estado final da humanidade redimida será na ressurreição, nossos corpos
perfeitos. Somos mais do que corpos, mas somos corpos. Ao longo da história, a
teologia Cristã caminhou de forma perigosa para longe desta verdade.
Na
Antiguidade, a teologia Cristã foi moldada pela filosofia platônica e estóica e
até mesmo conhecimentos gnósticos que denegriam o corpo. Durante o Iluminismo,
muitos exaltaram a razão, que distanciou a experiência humana de outros
aspectos.
Reações
atuais contra a compreensão naturalista da natureza humana podem alimentar a
mesma dinâmica. Ao invés disto, devemos afirmar que para sermos totalmente
humanos é necessário ter um corpo, assim como devemos afirmar que nunca somos
meramente físicos.
Como a
nossa encarnação lida com o aborto? Muitos se impressionaram com a queda no
número de abortos em adolescentes na última década. Alguns especulam que nada
influenciou mais esta estatística do que a proliferação da tecnologia do
ultrassom, na qual é possível visualizar o feto vivo e em movimento dentro da
mãe. Este crescente conhecimento do que antes era considerada “a vida secreta
do bebê” provocou um reconhecimento da nossa identificação e vida compartilhada
com o feto. Saber que somos fundamentalmente e irrevogavelmente corpos, apoia à
nossa compreensão de fetos e bebês como nossos irmãos e irmãs.
2. Somos
seres sexuais.
“Criou
Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”
(Gênesis 1:27). “Deus viu tudo o que havia feito e tudo havia ficado muito bom”
(Gênesis 1:31). Não somos seres físicos genéricos, mas somos seres sexuais e
com gênero específico. Em algumas histórias de criações na antiguidade, os dois
sexos eram vistos como um erro. As mulheres eram retratadas como formas
deficientes de homens. Em oposição a isto, o Gênesis declara que a criação de
Deus dos dois gêneros foi um propósito divino, ambos os sexos feitos “à imagem
de Deus” e humanamente incorporados, masculino e feminino, as duas criações
descritas como muito boas. Na Antiguidade, esta era uma visão radical.
Como isto
está relacionado com o aborto? As Escrituras apresentam a possibilidade de ter
filhos como uma benção. O sexo é fundamentalmente ligado à questão dos filhos.
As questões entre o sexo e a procriação em nossa cultura contraceptiva, que
prega o “sexo para recreação” tem distorcido profundamente a visão acerca da
sexualidade. As Escrituras também descrevem os prazeres físicos da união sexual
(Provérbios 5) e relaciona o erotismo explícito com o amor romântico e a
intimidade (Cântico dos Cânticos).
O
apóstolo Paulo adverte aos homens e mulheres casados que satisfaçam as
necessidades sexuais um do outro (1 Coríntios 7:1-6). Mas precisamos exercitar
a cautela quanto a este assunto. As implicações concretas do sexo - a
procriação, o prazer físico e o erotismo, a necessidade sexual - estão ligadas
à união física que foi intencionada por Deus aos casados, mas os solteiros não
são seres menos sexuais do que os casados. O próprio Senhor Jesus é um exemplo
de uma existência sexual completa como um homem hebreu, mas sem a união sexual
do casamento. As Escrituras nos falam pouco sobre esta compreensão da
sexualidade de Jesus, mas os ensinamentos bíblicos nos dizem que “era
necessário que se tornasse semelhante aos seus irmãos em todos os aspectos”, e
que “ele mesmo sofreu quando foi tentado”, e que “como nós, passou por todo
tipo de tentação”, isto sugere que Jesus adentrou no âmbito da sua sexualidade
como homem, “porém, sem pecado” (Hebreus 2:17; 18; 4:15).
Nossa
sexualidade é expressa, mas não reduzida às experiências sexuais do casamento.
Todas as pessoas são seres sexuais enquanto gênero, feitos unicamente em corpos
femininos ou masculinos, seres que contém sensações, desejos e capacidades
emocionais e cognitivas de seu gênero.
Gênero é
apenas uma das facetas da sexualidade e o gênero em si é construído através das
dimensões biológicas, psicológicas, emocionais e relacionais.
3. Somos
relacionais
O livro
de Gênesis nos ensina a pensar na natureza humana como fundamentalmente
relacional. O Criador julga que o primeiro homem está incompleto, apesar de
viver em um ambiente perfeito, com o trabalho perfeito, em um relacionamento
perfeito com o Deus Trino (que é em si, relacional).
“Não é
bom que o homem esteja só”, disse Deus (Gênesis 2:18) e Deus então criou para
ele a parceira perfeita. O homem reconhece como a mulher pode completá-lo
perfeitamente e Deus afirma isto quando descreve esta realidade: “por esta
razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão
uma só carne” (Gênesis 2:24).
O amor
romântico então se torna uma maneira importante de experimentar esta realidade
relacional. Nós experimentamos isto também através da relação entre pais e
filhos, nas amizades e outros relacionamentos. Isto é parcialmente baseado em
nossa sexualidade. Ser sexual é estar incompleto e esta falta nos move na
direção dos relacionamentos. Depois da Queda, nossa experiência humana é a de
que nossos relacionamentos, com Deus e com as pessoas, são relacionamentos
fraturados. Se o primeiro pecado humano é o orgulho de sua autosuficiência
perante Deus, nossa sexualidade carrega testemunho contra nossa mentira, uma
vez que nossa biologia afirma que não somos auto suficientes, que não podemos
escapar da necessidade de uma relação com o outro. Solteiros ou casados,
sabemos que fomos feitos para relacionamentos.
4. Somos
feitos à imagem de Deus
Catherine
Beckerleg, uma colega na Wheaton College, relata que Deus criou todas as
criaturas dos mares e os pássaros do ar de acordo com seus tipos, que os animais
silvestres vivem de acordo com suas espécies. Mas Deus não criou os primeiros
humanos de acordo com suas espécies, mas os criou da espécie, da maneira de
Deus – à sua imagem e semelhança (Gênesis 1:21;24;26).
As
culturas próximas a Israel na Antiguidade usavam narrativas sobre a criação
para estabelecer os sucessores do rei das tribos. O objetivo era a exclusão: o
rei era parte da família divina e seus súditos não. Que inversão de valores
temos no Gênesis! Ele estabelece uma linhagem real e divina de toda humanidade.
Somos realeza! Somos filhos de Deus. Ser moldado à imagem de Deus também
significa que somos capazes de exercer domínio, que temos capacidades morais,
relacionais e racionais. Se todos os humanos são feitos à imagem de Deus, assim
também são as crianças que não nasceram. A sexualidade parece estar
explicitamente conectada a viver à imagem de Deus. Nenhum trecho reflete mais
claramente esta afirmação do que Gênesis 5:1-3, no qual se encontra a
declaração inclusiva a ambos os sexos e a toda a raça humana: “Quando Deus
criou o homem, à semelhança de Deus o fez, homem e mulher os criou. Quando
foram criados, ele os abençoou e os chamou “Homem”, e em seguida encontramos o
relato de que Adão “gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem”.
A maneira
com a qual o trecho de Gênesis 5 reafirma a linguagem de Gênesis 1:26 é
impressionante. A concepção e o nascimento de um filho para o primeiro casal é
paralela à maneira com que Deus se tornou pai dos primeiros humanos. A imagem
de Deus não pode ser reduzida simplesmente à procriação, mas o ato da
procriação humana é uma das partes do que significa ser à imagem e semelhança
de Deus.
5.
Estamos quebrados e pervertidos
Até
agora, tudo estava bem. As verdades básicas acerca de nossa sexualidade são positivas.
Mas esta não é a imagem completa. A humanidade está quebrada e em rebelião
contra Deus. Isto não erradicou a bondade primária da natureza humana, mas
impôs novas condições para a experiência humana. Geralmente pensamos sobre os
pecados como atos de desobediência, mas o próprio pecado demonstra a
fragilidade do nosso ser e suas manchas de decomposição e ruína. Nossa
liberdade está limitada por nosso “vício” em coisas que são menores do que a
completude e a bondade do que Deus deseja para nós. Esta limitação aponta não
apenas para nossa rebelião contra Deus, mas também para uma força do mal que
atua fora de nós. Nossos desejos sexuais estão baseados em nossas boas
capacidades para união, amor e prazer, mas estão sempre maculadas pelo egoísmo,
sensualidade (apetites sexuais desconectados dos propósitos transcendentes) e o
desejo de dominação.
Esta é a
razão pela qual experimentamos conflitos profundos em nossa sexualidade. Temos
conhecimento da bondade do potencial e da realização de nossa natureza sexual,
mas não experimentamos esta bondade de maneira pura. Ao contrário dos teóricos
da sexualidade que trocam o que é por aquilo que deveria ser, nossas fraturas
nos alertam que podemos aprender sobre a nossa natureza humana ao observar
nossa sexualidade.
6.
Encontramos realidade objetiva quando fazemos sexo
Os
contemporâneos do Ocidente acreditam que as relações sexuais adquirem o
significado que trazemos a elas. O sexo pode ser um ato de amor e devoção ou
uma mera liberação física, uma transação comercial, dependendo da intenção de
quem age. Nós pensamos que o sexo significa aquilo que queremos que signifique,
o que quer que seja.
Philip
Turner argumenta que se acreditamos que a relação sexual não tem um objetivo
significativo, então apagamos todo o significado moral. A relação sexual se
torna apenas mais uma maneira de conquistar os desejos. Assim, os atos perdem
seus valores morais, apenas os fins podem ser julgados. Seguindo a tradição
apostólica, Turner argumenta que a relação sexual cria uma união de uma só
carne. A questão da criação, os ensinamentos de Cristo sobre o divórcio e
passagens como 1 Coríntios 1:6-7 nos ensinam que Deus idealizou a relação
sexual para criar e sustentar uma união permanente, de uma só carne, em uma
relação para casados: homem e mulher.
O fato de
que a relação sexual cria uma união de uma só carne desafia profundamente nosso
individualismo. Este não é o único desafio. Aprendemos do apóstolo Paulo que a
união do casamento dá testemunho de algo maior do que o próprio casamento
(Efésios 5:32): todos os cristãos participam de um corpo místico, que é
verdadeiramente o corpo de Cristo (1 Coríntios 12) e a consumação da história
não é a redenção de um grupo de indivíduos, mas o casamento entre o Noivo (O
Cordeiro) e sua Noiva (coletiva e singular). Isto revela uma identidade
coletiva que nenhum de nós pode compreender profundamente. Há mais no sexo do
que podemos enxergar.
7. Somos
almas em construção
Quem
somos realmente? Para responder a esta pergunta, precisamos compreender se
nossa identidade é algo que nos foi presenteado e descobrimos ou se é algo
progressivamente construído. Os dois competidores na área da sexualidade –
naturalismo evolutivo e formação de identidade pós- moderna – nos apresentam
suas respostas.
Naturalismo
diz respeito a total descoberta – somos o que somos – e o que descobrimos é que
não somos muita coisa e não somos tão importantes. Não nos surpreendemos ao ver
tantos lutando com o desespero. A formação de identidade pós-moderna diz
respeito a uma total formação progressiva – somos aquilo que fazemos através
das nossas vontades. Muitos acreditam que a sexualidade, nas palavras de
Turner, “define de muitas maneiras a profundidade do ser” e que nossa
sexualidade é fundamenta no processo de descoberta do “poder e das habilidades
em descobrir, desenvolver e exercitar-se ao longo da vida”. Em seguida diz que
“a negação da sexualidade é a negação do ser, da identidade mais básica”.
A visão
cristã da pessoa nos leva a uma direção diferente: a verdadeira identidade é
descoberta e formada. Nossa compreensão acerca de nós mesmos começa com a
realidade das nossas vidas, significados revelados por Deus e trabalhados em
nossa comunidade real. Além disto, nossa identidade está baseada em visões de
realidades objetivas para além de nós mesmos, visões de virtude e bondade além
de nossas habilidades. É aqui que incluímos nossa formação: à luz do que
descobrimos sobre nós mesmos, fazemos escolhas que nos moldam. Nossa
sexualidade tem significados e implicações que existem independentemente do que
podemos pensar que queremos dizer com nossas ações. Formamos nosso ser enquanto
respondemos a estas realidades objetivas e buscamos (ou deixamos de buscar) as
virtudes intrínsecas. Obediência e desobediência nos marcam e nos moldam.
Existe uma natureza no ser. Parte do ser é descobrir quem somos. Parte desta
realidade objetiva é nossa sexualidade, um dos melhores presentes de Deus.
A
formação do ser de maneira apropriada acontece quando somos submissos a Deus,
que nos transforma conforme obedecemos à sua vontade revelada e nos alegramos
em uma relação com o Salvador que vive em nós e nos molda. Uma pessoa que é
apenas descoberta não se desenvolve totalmente e é empobrecida. Uma pessoa
formada de maneira autônoma longe de Deus é empobrecida e subdesenvolvida da
mesma forma. Uma pessoa descoberta e então formada através do processo de morte
do pecado e do alto custo da obediência a Deus, processo este doloroso, de
humildade e intimidade, torna-se mais confiante e real. D.H. Lawrence descreveu
precisamente a cura para nossos distúrbios: “Os homens são livres quando
obedecem a uma voz interna e profunda de uma crença. Obediência no íntimo, de
dentro para fora. Os homens são livres quando pertencem a uma comunidade de fé,
de vida, orgânica, ativa em preencher as lacunas e os propósitos tantas vezes
despercebidos... A Liberdade na América teve seu significado distanciado da
quebra das garras de um domínio. A verdadeira liberdade só começará quando os
americanos descobrirem a profundidade integral do ser”.
Lawrence
estava certo quanto a isto. O eticista Gilbert Meilaender acrescenta: “Ser humano...é
aprender a viver e amar dentro dos limites – os limites da nossa encarnação,
nosso corpo, nossa vida mortal, os limites daqueles que se abrem para Deus. É
para reconhecer e honrar este lugar específico – entre as bestas e Deus – que
ocupamos nosso lugar na criação”.
A Igreja
Cristã tem ensinado corretamente que a sexualidade é crucial para a compreensão
do ser, da pessoa, e da ética sexual na formação da pessoa. Temos defendido a
vida humana como preciosa e criada à imagem de Deus. Somos confrontados com um
enorme desafio de tentar testemunhar efetivamente a uma cultura secularizada na
qual as pessoas estão viciadas em pensar em si mesmas como seres autônomos que
podem ser criados à sua própria imagem. Somos desafiados a testemunhar pela
vida em uma cultura que parece abraçar intencionalmente a morte. Precisamos
viver na tentativa de entregar as pessoas o que nos foi entregue: a revelação
verdadeira do Deus vivo. É basicamente através da sua Palavra Viva que
compreendemos o quanto a humanidade está quebrada e onde está a cura.
Stanton
Jones é professor de Psicologia na Wheaton College. Junto a sua esposa Brenna,
já escreveu quatro livros na série de educação sexual para famílias cristãs que
foi publicada pela NavPress.
Tradução
de Karen Bomilcar
Copyright © 2012 por Cristianismo Hoje.
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