O que procuro quando quero encontrar uma igreja saudável.
Introdução
No ano passado, minha esposa e eu
fizemos uma experiência. Decidimos procurar a palavra “igrejas” nas Páginas
Amarelas e visitar cada uma das que foram listadas no catálogo. Apesar de
morarmos em uma pequena cidade, encontramos representações da maioria das
denominações, assim como diversas outras não filiadas a qualquer denominação:
um total de 24 congregações, se deixarmos de fora grupos como os Testemunhas de
Jeová.
Descobri que as igrejas estão
bem diversificadas. Algumas ainda têm órgãos e corais, mas a maioria tem bandas
de louvor com guitarras elétricas e baterias. Estranhamente, uma Igreja de
Cristo proíbe instrumentos musicais que não são mencionados no Novo Testamento,
mas não vê contradição em projetar seus hinos em slides no Power
Point. Alguns freqüentadores das igrejas se vestem solenemente, enquanto
outros usam calça jeans e botas de caubói (afinal, moro no estado americano do
Colorado e isto é comum por lá!).
Aos domingos, as igrejas se
reúnem em vários horários durante a manhã: às 7:00, às 9:30, às 10:30 e às
11:00; algumas se reúnem aos sábados à noite, e uma igreja luterana se reúne às
quintas-feiras à noite. Algumas seguem uma liturgia permanente, outras
aparentemente decidem a ordem do culto conforme ele acontece.
Com uma intuição difícil de
explicar, geralmente consigo perceber a “vivacidade” de uma congregação em
apenas cinco minutos. Havia pessoas conversando no saguão? Ouvi o som das
risadas? Que atividades e questões estavam destacadas no boletim dominical?
Para minha surpresa, o fator “vivacidade” tinha pouco a ver com teologia. Em
duas das igrejas mais conservadoras que visitei, os membros sentavam-se e lá
permaneciam durante todo o culto, como se estivessem colados nos bancos, até
mesmo a equipe pastoral transmitia a ideia de que seu objetivo principal era
chegar logo ao final para receber a bênção. Ao mesmo tempo, uma igreja liberal (que
havia reescrito os hinos e até mesmo a oração do Pai-Nosso para torná-la
“politicamente correta”) demonstrava mais energia na comunidade e em projetos
de alcance global.
Graças a este experimento,
agora tenho uma visão mais clara sobre as qualidades que busco em uma igreja
saudável.
Diversidade
Conforme leio sobre a igreja do Novo
Testamento, nenhuma característica se destaca mais do que esta. Desde o
Pentecostes, a igreja cristã derrubou as barreiras de gênero, raça e classe
social que marcavam as congregações judaicas. Paulo, que quando rabino agradecia
diariamente por não ter nascido mulher, escravo ou gentil, estava maravilhado
com a mudança radical: “Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem
mulher; pois todos são um
Um moderno pastor indiano me
disse: “A maior parte do que acontece nas igrejas cristãs, incluindo os
milagres, pode ser duplicada nas congregações hinduístas e muçulmanas. Mas na
minha área apenas os cristãos promovem a mistura de homens e mulheres de
diferentes castas, raças e grupos sociais. Este é o milagre real!” A
diversidade complica a vida em vez de simplificá-la. Talvez por esta razão
tenhamos a tendência de permanecer em grupos da nossa classe econômica e com
opiniões parecidas e da mesma faixa etária que a nossa. A Igreja oferece um
lugar onde crianças e avós, desempregados e executivos, imigrantes e famílias
tradicionais possam se reunir. Ontem mesmo sentei-me entre um idoso com seu
tanque de oxigênio e um bebê em fase de amamentação, que fez bastante barulho
ao longo do sermão. Onde mais eu poderia encontrar esta mistura? Quando entro
em uma igreja nova, quanto mais os membros se parecem uns com os outros e comigo
mesmo, mais desconfortável me sinto.
Unidade
É claro que a diversidade só pode
ser bem-sucedida em um grupo de pessoas que compartilham de uma visão comum. Em
sua grande oração registrada em João 17, Jesus destaca um pedido sobre todos os
outros: “que sejam um”. A existência de 38 mil denominações ao redor do mundo
demonstra que não tivemos sucesso em cumprir com o desejo de Jesus. Pergunto-me
o quão diferente seria a impressão que o mundo tem sobre a igreja, sem contar o
quão diferente seria a história, se cristãos fossem profundamente marcados pelo
amor e pela unidade. Talvez uma brisa da fragrância da unidade seja o que
detecto quando visito uma igreja nova e tenho a percepção da “vivacidade”.
Missão
O arcebispo William Temple disse que
a igreja “é a única sociedade cooperativa no mundo que existe para o benefício
daqueles que não são membros”. Algumas igrejas, especialmente aquelas
localizadas em áreas urbanas, têm o foco nas necessidades de seus vizinhos próximos.
Outras adotam igrejas irmãs em outros países, apoiam projetos e agências de
desenvolvimento, enviam grupos missionários para outros lugares.
As igrejas mais tristes são
aquelas cuja visão não vai além de seus próprios templos e estacionamentos. Em
minhas visitas, nunca encontrei a igreja perfeita (e nem devemos ter esta
expectativa, segundo as indicações do Novo Testamento). Mas quando tentei
julgar e avaliar, simplesmente fui relembrado de que a decepção com a igreja
nos remete ao audacioso experimento de Deus: permitir que pessoas comuns como
nós personificassem sua presença na Terra.
Philip
Yancey - escritor e jornalista. Formou-se na
Columbia Bible College e obteve dois diplomas de mestrado: um em Comunicação na
Escola de Pós-graduação Wheaton College e outro
Premiado
com onze prêmios Gold Medallion pela ECPA (Evangelical Christian Publishers Association),
seus livros já venderam cerca de vinte milhões de exemplares em todo o mundo.
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