Nosso eterno destino depende da resposta a esta pergunta
Os discípulos ainda estavam
reunidos ao redor da mesa, após primeira Ceia do Senhor. Enquanto Jesus lhes
falava novamente sobre a Sua breve partida, desta vez em termos
inconfundivelmente claros, eles se encolheram desanimados. Ele iria agora para
Seu Pai, mas eles não poderiam segui-LO por enquanto.
O apelo espontâneo de Filipe
refletiu a perplexidade que seguramente ia na mente de todos os discípulos:
"Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta" (João 14:8). A resposta
de Jesus a esse pedido dá-nos uma profunda percepção sobre o motivo pelo qual a
encarnação ocorreu: "Quem Me vê a Mim, vê o Pai" (verso 9).
A missão de Jesus incluía
descortinar uma visão da verdadeira natureza de Deus diante da humanidade caída
e alienada, e essa verdade está implícita em Suas palavras. Naturalmente, Jesus
veio nos reconciliar com Deus ao confrontar o pecado na carne, morrer por nós e
sair vitorioso sobre o pecado e o seu originador, Satanás. Mas em Seu
ministério de três anos e meio, antes do Calvário, Ele desvendaria diante de
nós uma representação verdadeira e exata do pai e da verdadeira natureza de Seu
caráter. Removendo as concepções
errôneas acumuladas ao longo de uma centena de gerações, Jesus não somente
colocou diante de nós um corpo de informação correta sobre Deus, mas também
demonstrou o caráter de Deus em forma humana. Nunca antes em toda a eternidade
o Universo havia testemunhado algo assim.
Desde a queda de Adão, os seres humanos
não mais caminham pessoalmente com Deus. O Criador é tão majestoso que os olhos
enfraquecidos pelo pecado não podem contempla-LO. Somente em raras ocasiões Ele
tem partilhado conosco vislumbres íntimos de Si mesmo, afastando a cortina que
oculta a Sua presença. Consequentemente, as pessoas podem concebê-LO apenas na
imaginação, e esse tipo de adivinhação é sujeito a erro.
Removendo a distorção
Ao começar Seu ministério, Jesus
veio ao povo do concerto, o povo que recebera os profetas e seus escritos;
contudo, o "mundo não O conheceu" (João 1:10) e "os Seus não O
receberam" (verso 11). Opiniões preconcebidas, reforçadas por séculos de
ideias errôneas, tinham criado uma série de distorções sobre Deus. Para alguns,
Deus parecia uma figura distante, majestosa, fria e exigente, um temível
monarca buscando encontrar falhas entre Seus súditos. Ele era o Deus do detalhe
meticuloso, diante de quem o povo tremia para não errar. Para outros, Deus parecia
um manipulador distante, sempre manobrando Seu arsenal de resultados
predeterminados, diante de quem o povo saltava como gafanhotos. Os céticos
cogitavam se, afinal de contas, esse Deus que nunca tinha sido visto estava
realmente lá. E ainda outros O viam como um pai indulgente e tendencioso,
distribuindo presentes para quem O agradava e negando-os a quem O desagradava.
Jesus rejeitou todas essas
distorções, dirigindo-nos a um Deus perfeito em santidade e majestade, contudo
terno e compassivo, um Deus a quem podemos nos dirigir com confiança de uma
criança que fala com seu pai.
Embora os pais humanos tenham
fraquezas, ficando muito longe do caráter de Deus, Jesus repetidamente citou os
pais como modelos para pensar sobre Deus. NEle nós encontramos força, segurança
e amor altruísta, sempre mesclados com ternura, interesse e sabedoria.
No início, Deus caminhava no Éden
com Suas criaturas recém-criadas, propositalmente feitas à Sua imagem e
semelhança para que pudessem experimentar a alegria de um companheirismo íntimo
com o Criador. O quadro de Deus revelado em Jesus transformou a figura divina
na mente humana, banindo para sempre as especulações que durante milhares de
anos anuviaram nosso conhecimento do Pai.
"Quem
Me vê a mim, vê o Pai."
Com a vinda de Jesus, pela primeira
vez desde o Éden chegamos a conhecer a Deus como Ele realmente é. Ele veio de
um modo que todos nós podíamos entender "E o Verbo Se fez carne e habitou
entre nós" (João 1:14). Tal acontecimento é tão marcante que nenhum de nós
pode compreender completamente o mistério do que significa para Deus assumir a
condição humana. Contudo, temos evidência poderosa de que é verdade. Essa
pessoa única é Jesus, o Messias Redentor longamente aguardado, Emanuel, Deus
conosco. E "vimos a Sua glória" (João 1:14).
Anunciado em Seu nascimento por um
coro de anjos, Ele agora Se tornou um de nós, sendo ainda nosso Senhor. Seu
ministério foi diferente de qualquer coisa vista antes. Embora acompanhado de
uma série de eventos miraculosos sem precedentes, Jesus raramente apontou para
eles como evidência de quem Ele era. Em vez disso, Sua identidade foi
fundamentada em repetidas citações das Escrituras, onde profetas antigos tinham
previsto a vinda e o ministério de um redentor. Mesmo após Sua ressurreição,
Jesus usou essa evidência profética como prova final de quem Ele era. Na
estrada para Emaús, apresentou a dois crentes desesperançados a convincente
evidência bíblica: "E começando por Moisés, discorrendo por todos os
profetas, expunha-lhes o que a Seu respeito constava em todas as
Escrituras" (Lucas 24:27).
Jesus referiu-Se a Si mesmo
repetidamente como Senhor, não simplesmente em termos terrenos, mas de um reino
já entre nós, embora eterno em sua glória final. A entrega de coração a Ele
dá-nos a cidadania desse reino, descrito há muito tempo pelo profeta Daniel
como um "reino eterno" (Daniel 7:27). Somos adotados na família de
Deus, designados para ser embaixadores das boas-novas de Seu amor e salvação, e
privilegiados com a comissão de representa-lO enquanto levamos Sua mensagem a
cada nação e povo. Somos recipientes da graça, e nos maravilhamos dos dons que
Ele está derramando sobre nós. Não fomos nós que O buscamos, mas Ele é quem
veio em busca de nós, o Bom Pastor procurando a Sua ovelha.
Ídolos contemporâneos
Desde a entrada do pecado no mundo,
as pessoas têm sido tentadas a colocar alguém ou alguma coisa no lugar de Deus.
O panorama da história humana é cheio (alguém quase poderia dizer dominado) por
figuras de deuses moldadas pelos antigos, que criaram um deus para cada aspecto
da vida. Essa tentação era tão poderosa que o próprio povo do concerto de Deus
foi seduzido por ela, levando os profetas a denunciá-la com forte linguagem e
às vezes ironia mordaz.
O profeta Jeremias convida os
israelitas a considerar o que eles estavam fazendo. Diz: "Os ídolos são
como um espantalho em pepinal e não podem falar; necessitam de quem os leve,
portanto não podem andar. Não tenhais receio deles, pois não podem fazer mal, e
não está neles o fazer o bem. Ninguém há semelhante a Ti, ó Senhor; Tu és
grande, e grande é o poder do Teu nome. ... Portanto, entre todos os sábios das
nações e em todo o seu reino, ninguém há de semelhante a Ti" (Jeremias
10:5-7).
Numa demonstração de erro
monumental, os seres humanos, criados por Deus à Sua imagem, tornaram-se
artífices de deuses feitos à sua própria imagem. A maior ironia é que aqueles
que fabricaram esses deuses então se curvaram diante deles em adoração, numa
inversão completa da intenção do Criador.
Embora o mundo hoje tenha se
tornado sofisticado, a tentação de permitir algo no lugar do verdadeiro Deus
ainda existe entre nós. As escolhas de hoje podem ser a busca persistente de
poder, fama, glória terrena, autoadmiração, riqueza ou outra das atrações em
voga atualmente, mas o efeito é o mesmo: substituir e distorcer o desejo que
Deus colocou em nós de adora-LO. Frequentemente exaltamos as coisas utilitárias
na vida; e, quando elevadas acima de nossa dedicação a Deus, elas se tornam
ídolos, os falsos deuses de nossa época.
Verdadeira adoração
Perguntamos a nós mesmos: "O
que realmente significa adorar? A adoração se resume em desempenhar um ato
dedicado a Deus?" Sem dúvida, a verdadeira adoração inclui atos. Desde o
começo, Deus instituiu serviços específicos através dos quais o povo iria a Ele
em adoração. Durante o êxodo, Ele esboçou em grandes detalhes um tabernáculo
onde Seu povo pudesse se aproximar dEle, com cultos ordeiros idealizados para
ensiná-lo sobre Sua majestade e Sua provisão para salvar todos os que fossem a
Ele com fé.
Essa adoração não devia fluir
apenas por canais étnicos estreitos. Através do profeta Isaías, vislumbrávamos
a proporção do amplo convite divino: "Aos estrangeiros que se chegam ao
Senhor, para O servirem e para amarem o nome do Senhor, sendo deste modo servos
seus, ... também os levarei ao Meu santo monte e os alegrarei na Minha casa de
oração; os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão aceitos no Meu altar,
porque a Minha casa será chamada casa de oração para todos os povos. Assim diz
o Senhor" (Isaías 56:6-8). Este ideal encontra cumprimento na divulgação
do evangelho por todo o mundo. O Messias prometido veio, e Seu ministério de
salvação é estendido a todas as pessoas.
Mas o próprio Jesus reconduziu-nos
a um tema encontrado anteriormente nos lábios dos servos de Deus, os profetas.
Enquanto a adoração certamente inclui o ir diante de Deus de maneira ordeira,
oferecendo louvores, dobrando nossos joelhos e apresentando-Lhe ofertas, outro
elemento indispensável da verdadeira adoração aparece ainda mais cedo: a
submissão do coração a Ele. Esta lição aparece repetidamente nos eventos e
ensinos de Jesus. As moedinhas da viúva eram uma doação monumental não por
causa de seu valor monetário, mas devido à completa dedicação prévia de seu
coração a Deus. As lições de Jesus junto ao portão do Templo recordam-nos, de
novo, que a adoração realmente apropriada começa com uma resposta de gratidão a
Deus. A menos que entendamos este princípio, todas as cerimônias de religião
mecânica chegam impotentes a Ele. Seu primeiro desejo é ver-nos aceitar o
gentil convite do Espírito para ir a Ele com o coração e toda a vida. Este tipo
de culto chega a Deus como incenso diante de Seu trono.
Por
que adorar?
Outra pergunta nos confronta no
mundo cada vez mais secularizado de hoje: "Por que deveríamos adorar a
Deus?" Nossa resposta pode ser simples: "Por causa de quem Ele
é." É somente porque Deus de revelou a nós que podemos conhecê-LO. Sem
isso, não teríamos nada mais do que especulação, a qual nos deixa incertos
quanto a quem somos, de onde viemos e para onde vamos. É exatamente ao
responder a essas questões que chegamos a compreender o que mais importa hoje.
Através de seus comentários sobre a
maneira como Deus vê as atividades humanas ao longo da história, as Escrituras
nos informam sobre a pessoa de Deus. Surgimos como criaturas de Deus, objetos
de Seu interesse, Seu povo redimido, para quem Ele tem um plano eterno. Ele
mesmo veio viver entre nós para mostrar-nos o caminho; e, de acordo com Suas
promessas, logo irá retornar.
Ele é o Deus que fala, a quem
contemplamos como todo-poderoso e onisciente, o santo, cujo caráter é o padrão
para medir e definir a justiça e a própria ideia de certo e errado. Ao mesmo
tempo, encontramos nEle graça, ternura, compaixão e um intenso interesse em
cada aspecto de nossa vida. Seu amor é de uma qualidade que lutamos para
entender, um tipo de amor que levaria Cristo a rebaixar-Se ao nosso status e a
pagar um inimaginável sacrifício em nosso favor, a fim de resgatar-nos do
cativeiro do pecado. De fato, Deus é muito mais do que um belo e fantástico
ideal, pois Ele entrou na História e, como diz o apóstolo João, "vimos a
Sua glória".
No fim, uma escolha decisiva se
coloca diante de nós: se a nossa vida será entregue à busca do eu, para
desenvolver e desfrutar o melhor que as circunstâncias permitirem, ou devolvida
ao altar de nosso magnificente Criador. O assunto tem consequências cósmicas,
pois representa a decisão entre afirmar a independência humana de Deus e
apresentar alegremente a nós mesmos como Seus dispostos servos.
Justificadamente damos atenção à natureza cósmica do assunto da adoração. Foi
no próprio céu que Lúcifer suscitou a controvérsia quanto a quem deveria
receber a honra, reconhecimento e adoração. Novamente, quando o Cristo
encarnado enfrentou Lúcifer no deserto da Judéia no começo de Seu ministério, a
mesma questão surgiu. Lúcifer ofereceu o que parecia ser uma grande recompensa
se Jesus apenas o adorasse. Jesus rejeitou veementemente essa tentação. Motivo?
A questão tinha a ver com a própria essência da natureza de Deus e do Universo.
Somente Ele merece adoração.
A profecia diz-nos que, à medida
que nos aproximamos do fim da História, a mesma questão fundamental irá
retornar: quem nós adoramos? Em um último convite a um mundo em rebelião, Deus
envia mensagens através de três anjos. Na mensagem do primeiro anjo está
inserido o chamado para adorar a Deus como o Criador dos céus e da Terra. O
Criador é também nosso Redentor; ambos juntam-Se na pessoa de Cristo, levado a
toda a humanidade na mensagem do evangelho. No conflito final descrito no livro
do Apocalipse, encontramos um povo fiel a Deus, notável porque, apesar da
enorme pressão para ceder, ele permanece leal ao Criador.
Quem nós adoramos?
Nosso maravilhoso Senhor. Nossa
tarefa hoje é apresenta-LO em toda a Sua maravilha a um mundo que necessita desesperadamente
conhecê-LO. Essa é nossa tarefa, mas, acima de tudo, nosso privilégio. E o
fruto da verdadeira adoração traz um convite vivo para os outros se unirem a
nós em nossa peregrinação para o reino. Ali, nós e todos os que vierem a
conhecê-LO e a amá-LO iremos contempla-LO face a face e desfrutar a alegria de
apresentar nossa adoração a Ele por toda a eternidade.
Autor: Jan Paulsen -
Ex-presidente mundial da IASD, com sede em Silver Spring, Maryland, EUA.
Fonte: Revista Adventista
(CPB), Edição Nº 10 / Outubro, 2002. Ano 98, págs. 04-06.
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