Apesar dos problemas inerentes a toda instituição humana, a Igreja é, e continuará a ser, essencial à vida cristã.
A cada dia
multiplica-se o numero de indivíduos que se dizem cristãos sem, contudo,
fazerem parte de uma igreja local. Esta não é apenas uma percepção de pastores
e líderes: o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
apontou para o fato de que quase 1,1 milhão de brasileiros que se declaram
evangélicos não possuem vínculo institucional. É possível afirmar que parte
desse contingente é composta por pessoas que experimentaram algum tipo de
desilusão com suas denominações. Possivelmente, a quantidade de escândalos
financeiros e sexuais ocorridos constantemente nas comunidades ditas cristãs; a
multiplicação de heresias, a ditadura ex-catedra dos apóstolos do século
21; além do relativismo de um tempo pós-moderno, tenha contribuído para o aparecimento
desta, digamos, nova classe de evangélicos.
Além disso, existem
aqueles que, devido às frustrações relacionais e interpessoais, abandonaram à
margem da existência o barco da koinonia. Alguns destes, movidos por uma
espiritualidade desprovida de senso bíblico sobre a importância e relevância da
Igreja, até fazem reuniões em casa – no entanto, já não veem referências de
Cristianismo nas igrejas em geral. Antes de qualquer coisa, vale à pena
ressaltar que não se trata de defender o denominacionalismo, muito menos a
igreja sob o ponto de vista institucional. O conceito bíblico de ecclesia
é que Deus é livre para se manifestar graciosamente nas comunidades orgânicas,
e a verdade é que Cristo se manifesta entre o seu povo O que se questiona é
esse falso evangelho pregado por alguns dos denominados desigrejados que
acreditam que não precisam de igreja e da Igreja.
Ora, bem sabemos que
existem desigrejados que assim se tornaram porque foram feridos na batalha. Sim
– são aqueles que se machucaram na caminhada. Há, também, os desigrejados que
assim se tornaram porque não eram dos nossos, agora, existe gente nessa
condição porque não querem se submeter a ninguém. Tais pessoas relativizaram a
comunhão dos santos; são avarentos, mestres de si mesmos; soberbos e
orgulhosos, acreditam que estão sempre certos e nunca errados; ridicularizam a
igreja, amaldiçoam pastores, e menosprezam as contribuições ordinárias – além,
é claro, de "satanizar" toda e qualquer estrutura eclesiástica. Para
estes, a igreja não precisa de pastores: mesmo porque, na sua pretensão, eles o
são; e não necessitam de ensino, umas vez que acreditam que já o possuem.
Quanto aos templos, também prescindem deles, uma vez que suas casas lhes são
suficientes.
Como bem afirma o
pastor Ciro Sanches Zibordi, aumenta a cada dia o número de crentes que não se
sujeitam aos líderes e pensam que estão certos. Tais pessoas não respeitam
pastores, verberam contra a liderança e afirmam que só devem obediência a Deus.
"Igreja não é quartel-general", argumentam. E, generalizando, chamam
qualquer liderança mais firme e segura de coronelista. Pois é, parte daqueles
que deixaram a igreja sob tais discursos defendem a causa de que é possível ser
crente em casa, excluindo assim todo e qualquer envolvimento com a communion
sanctos. Para estes, a Igreja é uma instituição falida, hipócrita e
intolerante, com a qual preferem não manter qualquer tipo de compromisso. Como
se isso não bastasse, tais grupos, em nome de uma autonomia irresponsável
rejeitam a liderança pastoral, afirmando com todas as letras serem os pastores
verdadeiros fardos na vida do crente.
COMUNHÃO DOS SANTOS
É bom ressaltar, mais
uma vez, que não se deve fazer generalizações. Nem todos os "sem igreja"
podem ser incluídos nesse contexto de insubmissão e descompromisso. Existem
inúmeros crentes sinceros que estão fora dos arraiais cristãos em virtude da
perversidade institucional. Todavia, boa parte dos desigrejados não se
relacionam com a igreja simplesmente pelo fato de não terem nenhum desejo de se
submeter à autoridade das Escrituras. Deixo claro, também, que eu não defendo a
instituição organizada denominacional – até porque, não consigo acreditar num
tipo de estrutura cujo principal fundamento é a política eclesiástica. O que
defendo é a Igreja fundada por Cristo, que se reúne em casas sem, contudo,
negligenciar o templo; que possui pastores na condução do rebanho, e não
anarquistas; que tem por fundamento de fé as Escrituras Sagradas, e não os achismos
esdrúxulos de gente que interpreta a Bíblia de acordo com suas patologias e
enfermidades emocionais.
Sim, a Igreja é uma
instituição de origem divina, e é bom que aqueles que pensam ser possível
desenvolver uma fé longe dela lembrem-se de que foi criada por Deus e para a
glória do seu nome. Ela não foi criada por homens inescrupulosos ou religiosos
despóticos cujo interesse fundamental era a satisfação pessoal; muito pelo
contrário – a Igreja foi criada por Cristo e para Cristo, o que nos leva
entender que ela possui papel primordial na propagação dos valores do Reino,
conforme Mateus 16.15-19. Além disso, a igreja é a comunhão dos santos, o lugar
de comunhão e relacionamento com o Senhor e com os homens, e cuja
característica principal é o amor. Junte-se a isso o fato de que a Igreja é
também um local de compromisso com Deus e com os eleitos do Senhor, o que faz
dela uma estrutura imprescindível ao crescimento cristão, onde a Palavra é
pregada e os sacramentos, ministrados.
Alguém já disse que
Igreja é como a Arca de Noé. É uma comparação jocosa, referido-se ao fato de
que, dentro dela, o odor pode até não ser dos menores. No entanto, nela, assim
como no barco que salvou os seres humanos da destruição, é bem melhor estar
dentro dela do que fora. Sem a menor sombra de dúvidas, a Igreja é imperfeita e
continuará assim até a volta de Cristo. O teólogo e pastor Augustus Nicodemus
afirma que as Escrituras não deixam dúvidas quanto ao estado de imperfeição,
corrupção, falibilidade e miséria em que a igreja militante se encontra no
presente; ao mesmo tempo, porém, ensina que não podemos ser cristãos sem ela.
"Apesar de tudo, precisamos uns dos outros, precisamos da pregação da
Palavra, da disciplina e dos sacramentos, da comunhão de irmãos e dos cultos
regulares", frisa.
Vale terminar este
artigo usando as palavras de outro pensador evangélico, Éber Lenz Cesar, que
diz: "Por maiores que sejam as fraquezas e os defeitos que se possam
encontrar, a Igreja ainda é a noiva do Senhor e caminha ao encontro do Noivo
buscando se aperfeiçoar sobre o tripé santificação, comunhão e missão".
Jesus Cristo amou a Igreja e a si mesmo se entregou por ela para a santificar.
Assim como ele a amou, nós também devemos amar a nossa igreja e nos
santificarmos para que ela possa ser melhor a cada dia."
Autor: Renato
Vargens é
conferencista, escritor, plantador de igrejas e pastor presidente
da Igreja Cristã da Aliança, em Niterói (RJ).
Fonte: www.cristianismohoje.com.br
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