Colossenses 2:14-17
Introdução
Embora o sábado ocupe uma posição
central nas Escrituras, revelando as razões pelas quais Deus deve ser adorado,
há aqueles que argumentam que o sábado já não tem significado para o crente
(Colossenses 2:16) por ter sido “cancelado”,
“removido” e “cravado na cruz” (Colossenses 2:14).
Será que este texto ensina mesmo
que o sábado foi “cancelado”, “removido inteiramente” e “cravado na cruz”? A expressão “sábados”,
em Colossenses 2:16, se refere ao sétimo dia do quarto mandamento?
A chave para se compreender as
declarações do apóstolo se encontra nos versos 14 e 17.
“Tendo cancelado o escrito de
dívida” (Colossenses 2:14)
Paulo usa três palavras importantes
neste texto. A primeira é o particípio grego exaléifo (“apagar”, “cancelar”, “anular”, “limpar”). No
grego secular, esse verbo era usado para indicar que algo escrito havia sido
apagado, cancelado.
A segunda palavra é jeirógrafon (“documento escrito à mão”,
“certificado de dívida”, “nota de débito”, semelhante a uma promissória
firmada por um devedor).
O que foi cancelado? A que se
refere Paulo? Para alguns intérpretes, o que foi cancelado foi a lei moral,
incluindo o sábado do quarto mandamento. No entanto, não há base linguística
nem teológica no contexto de Colossenses para igualar esse jeirógrafon com a lei moral. Essa passagem não se refere aos Dez
Mandamentos. O jeirógrafon é uma “promissória”, uma nota de débito.
Com a terceira palavra, Paulo
identifica o que foi cancelado no jeirógrafon:
os dógmasin (“decretos”, “ordenanças”,
“estatutos”; “prescrições”, “requerimentos”),
os quais foram “removidos inteiramente”
e “cravados na cruz”.
A frase “o escrito de dívida”
poderia ser mais bem traduzida por “o
documento com seus requerimentos” (ou, “o
documento com seus estatutos”, “com
suas prescrições”, “com suas
ordenanças”).
Note que todas as ordenanças
mencionadas em Colossenses 2:16 pertencem ao mesmo sistema sacrifical do
santuário hebreu: “comida”, “bebida”, “dia de festa”, “lua nova”,
“sábados” (Hebreus 9:2-8, ver,
particularmente, o sumário em Levítico 23:37, comparado com II Crônicas 2:4;
31:3; Neemias 10:33; Ezequiel 45:17; Oséias 2:1).
Observe que o contexto dessas
passagens pertence aos serviços do santuário em relação à oferta de comida,
bebida e ordenanças festivas estabelecidas até o tempo da reforma. Sendo que
Jesus Cristo obteve eterna redenção para o crente em Seu completo e suficiente
sacrifício expiatório na cruz, cancelou os sacrifícios prescritos por essas
ordenanças da lei cerimonial (Hebreus 9:6-12). Jesus Cristo é o mais perfeito
sacrifício para o crente.
Assim sendo, poderia alguém afirmar
que a expressão “sábados”, em
Colossenses 2:16, se refere ao sétimo dia do quarto mandamento, ao dia do
Senhor? Absolutamente não, e por duas
razões:
Primeira, a palavra “sábados” está no plural e se refere aos
vários sábados festivos das ordenanças da alei cerimonial (Levítico 23:7-8)
[Páscoa]; 21 [Pentecostes]; 24 [Trombetas]; 27,32 [Dia da Expiação]; 35-36
[Tabernáculos]; excluindo-se aí o sábado do quarto mandamento (23:3,38).
Segunda, todas as cerimônias que
Paulo menciona, em 2:16, pertenciam exclusivamente às ordenanças as quais ele
se refere no verso 14. E essas ordenanças, incluindo os sábados cerimoniais,
foram “canceladas” “removidas inteiramente” e “cravadas na cruz”, interpretação essa
que se fortalece pela declaração do apóstolo no
verso
17.
“O qual é sombra”
(Colossenses 2:17)
Essa expressão é a chave para se entender a
afirmação do verso 16. A palavra grega skiá
(“sombra”, “prefiguração”) é usada apenas três vezes no Novo Testamento
(Colossenses 2:17; Hebreus 8:5 e 10:1). Em Hebreus 8:5 e 10:1, Paulo utiliza
skiá para significar que o santuário terrestre e suas ordenanças cerimoniais
são “figura”, “sombra”, “tipo”, “representação”, uma espécie de anúncio
profético das “coisas celestiais”
(Hebreus 8:5), “dos bens vindouros”
(10:1).
De modo que, segundo a
interpretação tipológica de Hebreus, os rituais do santuário terrestre
anunciaram a morte e o ministério sacerdotal expiatório de Cristo no santuário
celestial (9:11-14; 8:1-2). Paulo procura desviar a atenção dos leitores de
Hebreus do templo e seus rituais como um fim em si mesmo para focalizar a
atenção confiadamente na maior “Realidade”
de todas as “sombras”, “tipos” ou “prefigurações” do Antigo Testamento: o próprio Jesus Cristo, Sua
morte e ministério sacerdotal perante Deus Pai, a favor de Seus leitores.
O mesmo ocorre no contexto de
Colossenses 2:17. Os dias de festa, lua nova ou sábados cerimoniais são sombras
“do que há de vir”. Portanto, quando
é dito que “ninguém, pois, os julgue por
causa de [...] sábados”
(Colossenses 2:16), não se aplica ao sábado, dia de repouso do quarto
mandamento da Lei de Deus, cuja função jamais foi prefigurativa. Apenas os
sábados cerimoniais foram “cancelados”,
“removidos inteiramente” e “cravados na cruz”!
Conclusão
A expressão “sábados”, em Colossenses 2:16, se refere ao sétimo dia do quarto
mandamento, ao dia do Senhor? Absolutamente, não!
O contexto de Colossenses 2:14
deixa claro que Paulo se refere às ordenanças cerimoniais do santuário
terrestre em sua função temporal , incluindo os sábados cerimoniais. Essas
ordenanças foram “sombra”, “tipo”, e “representação”, um anúncio profético das “coisas celestiais” (Hebreus 8:5), “dos bens vindouros” (10:1), “das
coisas que haviam de vir” (Colossenses 2:17), ou seja, a obra de amor que
Cristo haveria de realizar na cruz por meio de Sua e ressurreição. Tal amor não
é temporal e nunca será cravado em nenhuma cruz!
Autor: Roberto Pereyra é
diretor da Pós-Graduação do SALT-UNASP
Fonte: Revista do Ancião,
edição Janeiro-Março/2010, pág. 15
Nota: O presente esboço
de sermão, juntamente com outros cinco é parte integrante de uma série
publicada na Revista do Ancião, CPB, edição Janeiro-Março 2010 e fazem parte da
temática “Um Dia de Esperança” (o Sábado). Foram preparados por professores de
instituições adventistas de teologia na América do Sul e selecionados pela
Divisão Sul-Americana para serem inicialmente pregados nas congregações
adventistas durante o primeiro semestre de 2010, acrescidos de negritos e
itálicos.
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