Chapter Six
Aconteceu
e Agora?
Muitos maridos e esposas pensam que é mais fácil promover
a separação do que consertar o casamento. Só quando já é tarde demais é que
eles percebem que escolheram o caminho mais fácil, mas não o mais sábio.
Um
homem de meia idade e sua esposa estavam de pé na lama e água, olhando
tristemente para as ruínas e os escombros de sua casa e de tudo o que possuíam.
Eram vítimas de um furacão. A sua bela casa de praia, no Texas, outrora uma
propriedade invejável, agora não passava de uma grotesca pilha de pedras,
madeiras, eletrodomésticos, móveis, comida e roupa – tudo ensopado de água
salgada. As sirenes que advertiam da tempestade haviam soado, dando o seu
aviso, mas eles pensavam que estavam em segurança. Não haviam suportado outros
vendavais igualmente severos? E este não seria diferente. As ondas retumbantes,
que outrora faziam parte do panorama que se via da porta da frente, agora
haviam destruído a casa.
Ao
olharem, pasmos, para aqueles destroços chocantes, interrogações que nunca
haviam feito antes turbilhonavam em suas mentes: “Será que devemos chamar a
Cruz Vermelha? O lixeiro? O Exército da Salvação? Será que há algo que possa
ser salvo ou compense o esforço? Devemos construir aqui novamente? Temos
condições financeiras para tanto? É seguro? Ou devemos abandonar isto para
sempre”?
Estas
são perguntas muito parecidas com as que são feitas sempre que um “caso”
extraconjugal é descoberto e a realidade dele nos atinge como uma onda de
maremoto. Podemos construir nosso casamento de Novo? Será que quero isso? Há
algo nele que possa ser salvo ainda? Se há, como fazê-lo? Por onde começar?
Posso confiar mais uma vez, visto que fui traído? Certa mulher expressou a sua
reação inicial de desespero, quando descobriu a infidelidade de seu marido.
”Tudo chegou a um fim abrupto. Sinto-me como se tivessem me pisoteado, e estou
entorpecida de dor. É tudo tão sem esperança! Ó Deus, ajuda-me! Ajuda-me!”
A sua
reação inicial e as seguintes, diante do “caso” de seu cônjuge, determinarão,
em grande medida, quais serão os resultados finais, em termos de dor e de
progresso. A infidelidade pode ser o
fato, mas o que você sente a respeito desse fato e a sua reação em relação a
ele é que formam o x do problema. Algumas reações são maduras, mas não
fortes. Outras são totalmente improdutivas desde o começo, especialmente do
ponto de vista do casamento e da família. Algumas reações aumentam o problema,
já sério. Vamos discutir cinco das relações negativas mais comuns, antes de
acentuar o lado positivo. As tendências humanas naturais, numa situação de
tanta tensão, são: ficar paralisado, autojustificar-se, dar-se por vencido,
lutar e forçar.
FICAR PARALISADO
Esta reação torna a pessoa imóvel
por causa da recusa – a recusa de ver e admitir o que as evidências indicam e o
coração confirma. Quando alguém está se envolvendo em uma “transa”, há sempre
sinais, sinais definidos que mostram que as coisas não estão como estavam
antes. Não é simplesmente a questão de encontrar um bilhetinho de amor
esquecido num bolso, ou manchas de batom no colarinho. Há mudanças sutis de
personalidade, na atenção, quanto à franqueza e respeito à linguagem corporal.
Para
muitas pessoas, o próprio pensamento de o seu cônjuge estar tendo um “caso”
torna-as paralisadas, levando-as a negar o fato e a nada da fazerem. As
evidências podem estar por toda parte, porém, elas não querem acreditar. Se o
marido chegou em casa com manchas de batom no colarinho, elas dirão que provavelmente
ele estava andando debaixo de uma escada e pingou tinta na camisa. Sally era
assim. Ela me disse: “Eu não parava de dizer a mim mesma que eu estava
imaginando tudo aquilo. Não estava acontecendo – não acontece – não vai
acontecer. Estou fazendo uma tempestade em um copo d’água”. Ela levou mais de um ano para reunir coragem
para fazer ao marido uma pergunta a esse respeito.
Nesse
ínterim, o seu marido infiel estava fazendo tudo o que podia para ser
descoberto, de forma que ela pudesse saber de tudo e ajudá-lo a enfrentar o
problema. Era um grito, pedindo ajuda. Ele chegou ao ponto de dizer, à mesa do
café, depois de ter estado fora a noite toda: “Cai no sono na casa dela, e
acabei passando a noite lá”. Ainda assim não se fizeram perguntas, não houve
confrontação. Sally estava enterrando a cabeça em um travesseiro de fantasia,
achando, de alguma forma, que pensar no problema poderia acentuá-lo – que a
coisa que ela temia pudesse lhe sobrevir.
Certa
amante questionou em voz alta, duvidando que esse tipo de esposa fosse a parte
inocente: “Perguntei ao meu amante se a esposa dele está sabendo de nosso
relacionamento, indagando: ‘Ela sabe? ’
“’Ela
não quer saber”’ – respondeu ele. “Ela nunca o pergunta. Se perguntasse, eu lho
diria”’.
A
mulher continuou: “Em casos como este, não há partes inocentes. Somente seres
humanos, que não fazem perguntas por que não querem saber as respostas”.
Linda
Wolfe, que escreveu muito a respeito de infidelidade conjugal, o diz
claramente: “Essa recusa em reconhecer o problema é um artifício psicológico
que permite que uma mulher finja para si mesma que o marido dela é
perfeitamente fiel, mesmo quando ele se esforça para apresentar-lhe evidências
de sua infidelidade. Em um caso típico, a mulher que se recusa a reconhecer
esse problema tanta apegar-se ao seu casamento, mesmo quando ele não é mais
nada além de uma farsa”.
A
recusa em reconhecer o problema é um mecanismo de escape baseado em medo, falsa
esperança e falta de confiança em Deus. Há um medo de incapacidade para
enfrentar a crise, um complexo de não se ter recursos para enfrentá-la, de não
se saber para onde se voltar, nessa confusão. É assim que sentimentos de
desamparo, solidão e desespero o inundam, e você não consegue enfrentar as
exigências da situação difícil. “Não me posso permitir crer nisso, pois não
saberia o que fazer, se fosse verdade”. Pensamentos de suicídio são comuns
nessas circunstâncias. Sally, que mencionei acima, disse-me como, durante o
período em que ela estava recusando-se a reconhecer o problema, esforçou-se ao
máximo, ficando exasperada dia e noite – tendo algumas noites somente três
horas de sono – procurando tirar esse pensamento da cabeça. No limiar de um
esgotamento nervoso, ela começou a tomar doses exageradas de comprimidos para
dormir, para não ser obrigada a enfrentar o problema, pensando: “A única
solução é não sentir nada”.
O caso
de Sally pode parecer extremo, mas qualquer espécie de recusa em reconhecer o
problema só o estimula e agrava. Essa recusa produz várias coisas desastrosas:
Você começa inconscientemente a encobrir as
faltas de seu cônjuge, dar desculpas para os seus atos, culpar-se pelo
procedimento dele. Você torna-se parte do problema, e não da solução. Quando os
seus filhos ou seus pais comentam ou perguntam algo, você se apressa a fingir,
apresentar um álibi, tirar as desconfianças das cabeças dele. “Ele tem
trabalhado muito... ultimamente não tem dormido bem... etc., etc.”.
Sem
querer, você estimula a infidelidade. Nesse caso, o tempo não cura, só
proporciona, ao infrator, maior oportunidade. A recusa em reconhecer o
problema, exercida passivamente, dá ao “caso” a oportunidade de se aprofundar,
até ao ponto em que seja impossível a recuperação, e o casamento esteja
condenado.
Você prolonga o castigo e impede Deus de dar
soluções de maneira ativa. Até o próprio Deus fica limitado, se ninguém
admite a verdade. Deus não opera de maneira estranha, etérea, na atmosfera que
cerca o problema. Ele opera nas pessoas e através delas –através de alguém que
toma a iniciativa, confronta, perdoa, sana.
Parece ao seu cônjuge que você não o ama.
Ficar paralisado em uma posição de inatividade também dá a entender ao cônjuge
que está se desencaminhando que você não se importa com ele, que o seu amor é
fraco, está baseado nas conveniências. O amor forte diz: “Não quero que você
continue a ferir-se e ferindo os outros, perdendo de vista o que Deus espera de
você”.
Em uma história verdadeira, a
respeito de um casal anônimo, Ellen Williams descreve vividamente a luta de uma
mulher com o seu marido pastor. “Duas vezes, nos meses que se seguiram, eu lhe
perguntei, deitada ao lado dele, em nossa cama, tensa e tremendo, reunindo toda
a minha coragem: ‘Há outra mulher?’
“’Não!’
disse ele com raiva na voz, dando-me a única resposta que eu desejava ouvir. Eu me enrolei agarrada às costas dele, desse
homem que eu conhecia tão bem, esse homem com quem me casara vinte e sete anos
antes, e dormimos ambos, sabendo que ele me havia mentido. Eu o percebera em
sua voz, o sentira em seu corpo. Fiz a única coisa que sabia fazer, quando uma
coisa é terrível demais para se enfrentar. Voltei as costas ao problema. Se eu
o encarasse, quem sabe, ele se desvaneceria.
AUTOJUSTIFICAR-SE
Muitos
cônjuges traídos sentem fogo por dentro; eles ardem de autocompaixão e justiça
própria. Há também hostilidade e humilhação, mas isso se expressa em um “Veja o
que ele me fez!” Ao descobrir o “caso” de seu marido, Lorna explicou, numa
atitude de choque e descrença: “Depois de tudo o que fiz por ele, este é o
agradecimento que recebo! Dei-lhe os melhores anos de minha vida. Fui a mãe dos
filhos dele. Mantive a casa limpa para ele. Fiz a comida dele. Tinha uma camisa
limpa para ele todas as manhãs. Fiquei ao lado dele nas horas mais difíceis, e
agora não sou suficientemente boa para ele. Essa é a gratidão que recebo”. E
ela poderia, provavelmente, ter desfiado um rosário de dezenas de outras coisas
boas que havia feito para ele. Ela
possuía uma personalidade muito ordenada e tinha a tendência de tomar as rédeas
e dirigir as atividades da família e as tarefas diárias com um rigor de
sargento. Ela frequentemente dava ordens em voz estridente, em vez de pedir
ajuda. A ideia que tinha de um tempo divertido era quando se “fazia algo
construtivo”, como reformar completamente o jardim ou fazer seis pares de
cortinas em uma noite.
Lorna
era uma boa mulher, mas o seu senso de valores estava inteiramente envolvido
com o que ela conseguia realizar. Presumia que essas realizações também
edificariam o seu relacionamento conjugal, e, quando não o fizeram, ela
sentiu-se ofendida e deprimida, e censurou severamente o seu esposo, que não
dava valor àquelas coisas.
O meu
amigo Bob estava não apenas saindo-se muito bem em seu negócio de vendas de
automóveis, mas tinha também a imagem que o ajudava naquilo. Ele gostava de
roupas finas, bons carros, uma piscina e tudo mais. O interior de sua casa era
imaculado, de fino acabamento, e sempre parecia como se jamais alguém tivesse
morado ali. Eu o visitei muitas vezes. Quando ele descobriu o “caso” da esposa,
ficou perplexo. E exclamou, incrédulo: “Dei a ela tudo o que queria: roupas,
carro, dinheiro – redecorei a casa, comprei móveis novos. Agora ela arruinou a
minha reputação, aproveitando-se de mim. Acho que é verdade que é impossível
entender ou agradar uma mulher”.
Amor-próprio
O orgulho ferido está intimamente
relacionado com o amor-próprio de uma pessoa e a imagem que ela faz de si
própria. O fato de que o seu cônjuge encontrou alguém mais atraente abala esse
amor-próprio. Sobrevém um sentimento de incapacidade, e até de desamor a si
mesmo. Uma esposa exclamou: “Comecei a sentir-me feia, horrível, e ficava
diante do espelho, examinando-me, para ver o que havia de errado que me fazia
tão indesejável”. Evelyn Miller Berger
fala de outra esposa, que ficou sabendo que a sua negligência, permitindo-se
engordar além da conta, encorajara o marido a iniciar um relacionamento
extraconjugal, e que a auto-aversão que se seguiu quase a destruiu. “Meu marido
se queixava de eu ser gorda. Ele me perguntava como eu podia esperar que ele se
sentisse sexualmente excitado quando o meu corpo parecia um colchão volumoso. Tentei
reduzir o peso, mas as suas críticas me levaram a desejar comer mais – uma
espécie de consolo. Mas acho que a essa já estava zangada por ele me culpar, e
pensava: ‘Bem, se você não gosta disso, eu vou mostrar-lhe que posso comer até
ficar tão gorda quanto quiser! ’ Depois percebi que estavas inequivocadamente
feia – gorda – e me odiei por isso”.
Uma esposa traída sentiu que a sua
reputação estava destruída: “Senti que não tinha mais coragem de sair de casa.
O que pensariam agora os meus vizinhos, os meus amigos, o povo da igreja? Todos
vão chegar à conclusão de que não consegui prender meu marido. Não é justo”,
queixou-se ela. “Como ele espera que eu pareça fascinante, quando tenho filhos
e casa para cuidar?”
Perfeccionismo
A reação de um mártir do orgulho é
geralmente a reação predominante de um perfeccionista, quando o cônjuge é
infiel. O perfeccionista é um indivíduo amedrontado, competitivo, que sempre
deseja vencer, dominar e controlar as pessoas que o rodeiam. Muitas vezes ele é
um detectador de falhas crônico, e nada é suficientemente bom para ele. Como
crente, ele é legalista. Gosta de regras, rituais e padrões, e não consegue
viver espontaneamente. Tendo medo de intimidade, ele faz de seu casamento mais
um contrato comercial do que um caso de amor sem peias. O sexo torna-se uma
obrigação superficial. Há pouco divertimento, pouco riso.
Tendo um marido brincalhão e
galanteador, uma esposa costumava dizer: “George, para com isso. Não somos mais
crianças”. Por fim, ele encontrou uma pessoa
que gostava de suas piscadelas e carícias. E a esposa ficou horrorizada.
Ao aconselhá-la, minha esposa perguntou-lhe: “Com que frequência você tinha
sexo com seu marido?”
Ela ficou um pouco embaraçada, e
respondeu pensativamente: “Acho que a última vez foi por ocasião do aniversário
dele... sim... eu lhe dei sexo no seu aniversário”.
Um presente anual. Quando minha
esposa me contou isso, eu disse: Ainda bem que ele não nasceu no dia 29 de
fevereiro, em um ano bissexto.
Ela desempenhou bem o seu papel de
mártir e gostou dele. Além disso, pensava que era uma crente bem doutrinada,
avançada, e tinha sérias dúvidas de que o marido fosse crente. Desta forma, no
conceito dela, o “caso” dele e o divórcio subsequente faziam parte do fato de
ela ser “perseguida por causa da justiça”. Claro que essas coisas não tinham
nada a ver com isso, mas para suscitar simpatia, foi isso o que ela anunciou a
todos. Ela ainda acha que a solidão que
sofre é o preço que está pagando por ser correta, e isto só aumenta o
isolamento em que ela vive.
DAR-SE POR VENCIDO
O cônjuge que se dá por vencido cai
em confusão, e assume toda a culpa, esperando pelo inevitável. Dar-se por
vencido significa declarar falência, admitir que os seus recursos estão
totalmente esgotados, abandonar a luta, desistir de assumir controle, tornar-se
vítima. Como estas frases descrevem bem as reações manifestadas diante da descoberta
do adultério do cônjuge!
Os Dependentes
Algumas pessoas, especialmente
mulheres, caem em confusão por serem dependentes. A escora da esposa é tirada,
e ela cai. A única pessoa de quem ela dependia, a sua muleta, foi removida, e
ela não consegue ficar de pé sozinha. De repente ela percebe que se sente
deserdada, fraca, indefesa, inadequada e amedrontada, como se de súbito tivesse
perdido a capacidade de enfrentar a vida. O futuro lhe parece perigoso,
agourento. O hábito sem solução de apoiar-se em outrem a deixou incapaz de
sustentar-se física e emocionalmente.
Mary, o tipo de beata religiosa,
veio a mim, pedindo aconselhamento. Ela era uma pequena menina amedrontada,
embora já estivesse casada havia dezesseis anos. O seu marido, Bill, havia
pedido divórcio, para poder continuar o seu “caso” com Dottie. Mary estava
visivelmente abalada – devastada. Dottie era uma jovem coquete do escritório
dele, cheia de problemas com o marido dela, e Bill havia se tornado o seu “consolador”.
A coisa toda aconteceu como uma bomba, embora Mary me tivesse contado que havia
tempos estava ouvindo, todos os dias, falar de Dottie e seus problemas com
aquele “cachorro” do marido dela. “Era Dottie no café da manhã, no almoço e no
jantar, e embora estivesse cansada de ouvir falar nela, não esperava nenhuma
infidelidade”.
Quando Bill requereu o divórcio,
tudo o que a sustentava foi retirado, e ela desmoronou. Claro que ele a
manejava como a um boneco. Ameaçou ir embora – chegou a colocar as roupas na
mala – e ela implorou que ele ficasse.
Ele ameaçou vender a casa com ela dentro, e, como ele esperava, ela
deu-se por vencida, pedindo misericórdia entre lágrimas. Exatamente como uma
escrava. A sua dependência a degradava, e, na verdade, ela se odiava por isso.
“Eu me odeio”, disse ela, “por ser tão imatura a ponto de me apoiar em todo
mundo tão fortemente que fico completamente perdida quando sou deixada por
minha conta”. A situação mudou tremendamente quando ela experimentou uma conversão
a Cristo e, através de seu poder, que lhe infundiu nova vida, começou a exercer
ações positivas.
Os
Maltratados
Algumas mulheres dão-se por
vencidas por causa de violência e maus-tratos. Uma amiga graciosa, bem-educada
e talentosa que encontrei na igreja, Noemi, ficava paralisada por meio de
violência corporal. “Se eu enfrentasse o meu marido com o seu engano e
infidelidade”, disse-me ela, “estou certa de que nada o impediria de fazer com
que eu e as crianças pagassem caro”. Eu o vi. El era um homem grande e de mau
gênio – um touro. A despeito de todas as minhas recomendações para ajudá-la a
desenvolver uma estratégia de ação, Noemi não o conseguiu. Ele a havia
petrificado.
Os
culpados
A culpa
também paralisa, provavelmente mais do qualquer outra reação. Muitas vezes o
cônjuge rejeitado olha para dentro de si mesmo e aceita toda a culpa pela
confusão sórdida em que seu lar entrou. Esta introspecção não é o
questionamento sadio que pergunta se a pessoa contribuiu de qualquer forma para
a situação, e reconhece, e aprende de qualquer falha. Pelo contrário, é a
procura de um bode expiatório, alguém em quem colocar toda a culpa. E, por
causa de suas inseguranças, esse cônjuge assume toda a responsabilidade. Como
costumava dizer o comercial da televisão: “Comi tudo”. Isto não é verdadeiro nem útil.
A
esposa rejeitada muitas vezes recapitula todas as coisas que ela poderia ter
feito de maneira diferente, e se detém nos seus erros passados – alguns reais e
outros imaginários. Quanto mais analisa o seu passado, mais razões encontra
para a sua situação. O seu senso de valor próprio vai a zero; o seu sentimento
de culpa se multiplica – falsa culpa, em grande parte. O Diabo impedirá certas
pessoas de até fazerem um inventário honesto da situação; outras, ele lança por
sobre a amurada e as afoga em autocondenação falsa.
Certa
esposa escreveu para um conselheiro de uma revista evangélica: “Meu marido
disse-me que ama outra mulher. A princípio fiquei zangada, mas agora acho que
tudo foi por minha culpa. Acho que, como crente, eu devia ter feito mais para
salvar o meu casamento. Não contribuí com o suficiente. Não amei o suficiente.
Sinto-me um fracasso, tanto como mulher quanto como esposa. Algumas manhãs, mal
consigo me arrastar para fora da cama. Preferiria dormir e esquecer. Ainda há
esperança?”
Outra
disse: “Não posso parar de me focalizar em meus erros. Sinto-me como a ovelha
negra, pois em nossa família nunca houve ‘casos’ antes”.
Como se
todos os aspectos do casamento dependessem dela, outra esposa arrasada
confessou: “Fracassei como mãe tanto como esposa, porque não ensinei os nossos
filhos de forma que o meu esposo desejasse passar o seu tempo como eles em
casa”. Visto que esta mulher evidentemente cria que o seu marido não tinha
nenhuma responsabilidade pela criação dos filhos ou pela atmosfera do lar,
certamente ela não seria capaz de permitir que ele assumisse qualquer
responsabilidade por suas escapadas adúlteras. Dessa maneira, ela as
encorajava.
Os
Escapistas
Outra palavra que seria sinônima de
“dar-se por vencido”, neste contexto, seria “fugir”. A tendência natural é
correr quando você tem medo, e não tem certeza de onde está o que fazer. Nesse
caso, a desistência é uma forma de fuga, de admissão de fraqueza. O escapismo
pode desencadear uma recusa para considerar o perdão, uma vingança explosiva ou
um divórcio rápido. Porém, seja o que for que torne a pessoa imóvel ou incapaz
de agir, é doentio e improdutivo.
Alguns crentes dão-se por vencidos
em face de um “caso” por causa de sua própria fé distorcida e anêmica. A sua
marca de cristianismo faz deles capachos para serem pisados e esmagados. Eles
acham que não têm o direito de fazer perguntas a respeito do mal, e assim
precisam suportá-lo passivamente, e sofrer em silêncio. Eles não se permitem
lidar com a infidelidade, mas continuam convivendo com ela e, se necessário,
aceitam uma vida de extrema humilhação.
O problema de toda essa inatividade é que
ela recompensa o infiel e prolonga a solução do caso. A infidelidade conjugal é
resolvida com uma espécie de ação estratégica, e você não pode iniciar ação
estando a toda hora procurando escapar do problema.
LUTAR
Estou certo de que nunca houve um
caso de infidelidade conjugal em que não estivesse evidente a ira – ira da
parte daquele que é infiel, devido â negligência real ou suposta que motivou a
sua infidelidade, e ira, certamente daquele que se sente traído. Não importa
como a pessoa pareça, calma ou compreensiva, na superfície, o ultraje sofrido
está queimando por dentro ou se preparando para explodir tudo violentamente. Há
ira por causa da vergonha, da humilhação, da desilusão, do engano.
Certa mulher, acerca de quem li,
explodiu quando descobriu a infidelidade de seu marido. “Joguei um prato nele.
Disse-lhe que ele podia ir embora, que eu não queria um homem que não me amava.
‘Eu não quero ir embora’, disse ele. ‘Amo você e amo as crianças’. Aquilo me
deixou ainda mais furiosa; e joguei um copo nele”. Isso deu a ela um pouco de
alívio, mas certamente não resolveu nada. E os pratos são caros.
Seria mórbido se não houvesse ira
contra “a terrível violência psicológica do adultério”. Linda Wolfe diz: “Os
psicanalistas chamam o adultério de “ferimento psíquico” e de fato parece haver
algo quase visceralmente pungente nesse sentido. Não é apenas uma ferida
profunda no ego, mas também na confiança entre os cônjuges – uma ferida que
pode e, de fato, muitas vezes termina fazendo um casamento sangrar até a
morte”.
Todavia, por que esta ira é
expressa e em que forma se ela é ou não destrutiva? Estamos lutando pelo
casamento, contra o mal, contra o cônjuge ou pelas razões puramente egoístas de
terem sido feridos os nossos sentimentos? A luta pode assumir várias formas, a
saber:
Vingança,
que é tão comum quanto inútil e autodestruidora. Embora os escritores do Novo
Testamento mencionem várias vezes: “A ninguém torneis mal por mal”, esta é uma
tendência muito humana. “Se ele pode fazê-lo, eu também posso”. Muitas esposas
cedem ao desejo de revidar, de dar a ele uma prova de seu próprio remédio, de
provar que ainda são desejáveis, que ainda podem arrumar um homem – por
malvadez.
Evelyn Miller Berger fala de uma
mulher a quem aconselhou. “Eu senti-me justificada em também ter uma aventura”,
disse a cliente, com hostilidade franca. “Eu também queria alguma atenção. Mas
quando o ‘caso’ acabou, de repende acordei para o fato de que eu era aquele
caráter desprezível, ‘a outra’, eu! Imagine só! Boa, firme, a filha mais velha
de um catedrático, sempre uma garota direita, no caminho reto e estreito da
virtude!”. Embora exista um inegável prazer egoístico em vingar-se, não
obstante, isso só complica o problema – o duplica. Agora são dois que saíram da
linha e precisam de perdão.
A coisa mais importante é: Quem
está no controle? Se você paga mal por mal – a sua reação é determinada pela ação
de seu cônjuge – o seu cônjuge controla você. Reagir, pagando com a mesma
moeda, é ser controlado pela pessoa que iniciou a ação. Você é controlado pela
pessoa cujas ações você imita. Você cessa de ser o iniciador, e torna-se apenas
um reator, e o tiro sai pela culatra. Você não é mais inocente em toda a
situação do que o seu marido ou a outra.
Vingança é mais do que retaliação.
É a busca de uma forma para castigar, como pagamento pela injúria infligida. Um
marido que prevaricou pode não ficar absolutamente ferido quando a esposa se
envolve em uma aventura, como retaliação contra ele. Ele pode alegrar-se com
isso. Agora ele tem uma boa razão para adulterar, e mesmo para desmanchar o
casamento. Mas, se ela deseja vingar-se por causa do que está sofrendo, vai
tomar providências para que ele também sofra.
Uma divorciada escreveu para a
“Dear Abby” depois do “caso” de seu marido. “Eu me portei como maníaca. Gritei
e impliquei com ele. Empacotei as roupas dele, e mandei que saísse de casa.
Depois cometi um erro fatal. Contei tudo aos nossos parentes e amigos, e me
dirigi imediatamente a um advogado e pedi o divórcio. Criei um escândalo tão
notório que meu marido não pode mais ficar na cidade”. Ela empatou o placar, e
conseguiu vingança. Mas funcionou? “Agora percebo que só estava pensando em
mim. Os meus filhos pagaram o preço do
meu orgulho. Eram três meninos com menos de dez anos de idade”. E ela continua:
“Os anos se passaram. Os meus filhos agora estão casados, em seus próprios
lares, mas eu estou sozinha. Sinto-me arrasada e a minha amargura se manifesta
claramente”.
Culpar.
A ira toma outra forma: de culpar. O oposto da pessoa que aceita toda a culpa,
que mencionei acima, é a que culpa o cônjuge por tudo. Ela explode em justiça
própria, com ira, e espera a confissão e a volta de seu marido. Uma mulher
disse-me, espumando de raiva: “O problema é dele; não meu. Fiquei cansada
destas perguntas: ‘Onde foi que eu
errei? Em que eu fracassei? Como foi
que eu o negligenciei? , etc., etc.’
Foi ele quem adulterou; não eu. E, por falar nisso, é bom que eu diga que não o
empurrei para a cama da outra; ele subiu nela por iniciativa própria”.
Há também o desejo de lutar contra “a
terceira parte”. “Aquela mulher vil roubou o meu marido, e vai pagar por isso”.
Se a outra mulher é uma estranha, você pode ter o desejo incontrolável de se
defrontar com ela e fulminá-la com as suas palavras. Doris era uma mulher
assim. Ela exigiu que o marido revelasse quem era aquele “verme”. Quando ele se
recusou a fazê-lo, ela fez com que alguém o seguisse. Mais tarde, quando ela
foi até aquela casa, “para ver quem era a sua competidora”, não conseguiu crer
no que viu. A casa era simples, pequena, em um bairro de segunda classe – em agudo
contraste com a casa grande e o bairro bonito, cheio de árvores, para onde o seu
sucesso os havia levado. Ela tocou a campainha e esperou nervosamente. Quando a
porta se abriu, não apareceu nenhuma beleza voluptuosa e alucinante enquadrada
nos batentes. Só uma dona-de-casa jovem, despenteada, desmazelada!
Depois de ter injuriado verbalmente
aquela mulher e a ter condenado à perdição, Doris exigiu que ela não permitisse
que o seu marido a visitasse outra vez. A resposta que recebeu deu-lhe pouco alívio.
“Se o seu marido volta ou não vem mais, isso é decisão dele. Eu não posso
controlar isso. Talvez ele esteja encontrando aqui algo que não encontra em
casa”.
Se a “outra” é uma vizinha, amiga
ou conhecida, você tenta lutar de outra forma: com difamação – no cabeleireiro,
no clube, na igreja, nas reuniões. Ela é metodicamente destruída por aquele “pequeno
membro”, a língua não domada, que Tiago diz que está cheia de peçonha.
FORÇAR
Forçar significa atacar, empurrar
impetuosamente exigindo uma solução, manipular as pessoas envolvidas e a
situação, para encontrar um conserto rápido. É natural que desejemos nos ver
livres de um problema horrível como o que estamos considerando o mais depressa
possível. Nenhuma pessoa emocionalmente sadia quer prolongar a dor um minuto
mais do que o necessário. Se você tem a tendência de ser uma pessoa que toma
iniciativa, é quase impossível ficar sentada e esperar que as soluções apreçam
e amadureçam. É quase como se você achasse que qualquer ação é melhor do que
nenhuma.
A descoberta de um caso
extraconjugal desencadeia tantas emoções conflitantes – a surpresa do fato, o
engano, o desencanto, a traição. Algo precisa ser feito. Como alguém que está se
afogando, você se debate na água selvagemente, esperando agarrar-se a algo que
seja a sua salvação: o milagre.
Essas ações desesperadas podem não
estar relacionadas umas com as outras e serem até antagônicas. Ou podem ir
desde fingir ignorância, manipular circunstâncias, até a citação da Bíblia.
Judy, uma nossa distinta amiga
crente, ficou arrasada devido às infidelidades crônicas de seu marido e o
subsequente divórcio. Eu lhe perguntei que reação ela tivera, que se demonstrara
negativa, improdutiva. “Eu fiz tudo de espiritual que pude pensar, para tentar
resolver a situação. Eu disse a meu marido: ‘Vamos orar a este respeito’, e esperei
um milagre. Citei versículos da Bíblia para ele – versículos que ele conhecia
tão bem quanto eu, pois ambos havíamos nascido em lares cristãos. Repeti todos
os fatos e fórmulas cristãos apropriados. Então, depois que toda a minha pregação
não funcionou, mandei um oficial da
igreja falar com ele, usar sua ‘mágica’ espiritual para com ele. Quando todas
essas fórmulas espirituais só complicaram o problema, você começa secretamente
a perder a sua fé em Deus também”.
“Que outras coisas de natureza não
espiritual você foi tentada a fazer?” – perguntei.
“Bem, há a tendência de fazer com
que o seu cônjuge fique sabendo que você ficaria destruída sem ele, para que cresça
o sentimento de culpa dele. E também você tem vontade de espioná-lo, de
manipulá-lo, em uma tentativa de separá-lo da ‘outra’ ou de intervir em um salvamento
dramático”. “Aprendi, o que foi duro” – declarou Judy, com grande convicção – “que
essa espécie de esforços não apenas falharam, mas também pioraram a situação”.
Estas cinco reações – ficar paralisado,
autojustificar-se, dar-se por vencido, lutar e forçar – levam a um beco sem
saída. As reações negativas sempre fazem isso. Elas têm uma coisa em comum:
propiciam ao cônjuge um pouquinho de satisfação própria transitória, mas não contribuem
para a solução do dilema. Apenas agravam um assunto já por si só delicado e
inseguro.
Um pai pediu ao seu filho pequeno
que desse graças à mesa. Enquanto o restante da família observava, o garotinho
fitou cada prato de comida que a mãe havia preparado. Depois do exame, ele
baixou a cabeça e orou sinceramente: “Senhor, não estou gostando do aspecto da
comida, mas te agradeço por ela, e vou comê-la assim mesmo. Amém”. A reação
certa em uma situação difícil.
De semelhantes circunstâncias
tratará o capítulo seguinte.
O Mito da Grama Mais Verde de J. Allan Petersen, 4ª
Edição/ 1990, Juerp, págs. 95- 110.
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