Tiago 5:17-18
Introdução
Mesmo sem ter escrito ou tido algum
livro bíblico levando o seu nome, excetuando Moisés, de todos os grandes
personagens do AT, certamente nenhum outro tenha fascinado tanto seus
contemporâneos e a nós também, como o fez o profeta Elias. Um ministério
relativamente curto (+- 874-852 a.C.). Sua biografia: I Rs caps.17-19 e II Rs
1-2.
Intriga-nos o fato de Tiago, em sua
epístola, afirmar que Elias foi um homem como um de nós. Um ser humano como
nós? Como assim?
Onde estão as semelhanças?
◘Para início de conversa Elias não
morreu. Pergunto: Qual é a única certeza que nós, seres humanos temos? – “Porque os vivos sabem que hão de morrer” (Ec 9:5).
Se Jesus não voltar antes, todos
nós, independentemente de etnia, sexo, nível social, cultural, ou qualquer
outra coisa que nós seres humanos usamos para classificar uns aos outros, seremos carregados para o único lugar livre de
qualquer preocupação – o cemitério e seremos colocados num buraco denominado túmulo.
◘Eu nunca tive e acredito que nenhum
de nós aqui, teve alguma oração respondida com fogo do céu. Uma única. E o que
dizer de duas vezes? E de três?
◘Você já ouviu falar de alguém que
tenha revivido uma criança após uma simples oração: “- Ó Senhor, meu Deus, faze com que esta criança viva de novo!”?
◘Há alguém presente entre nós que
algum dia tirou uma peça de roupa, torceu-a
e com ela bateu na água, a água se abriu e atravessou para o outro lado
do rio, andando em terra seca?
◘Você conhece algum fundista
(corredor de longas distancia), que por mais bem preparado que esteja, consiga correr
27 km e ganhar de cavalos escolhidos (de raça) como ele ganhou?
◘Você seria capaz de apontar o dedo
em riste para a autoridade máxima de seu país e ainda dizer: “Digo ao senhor que não vai cair orvalho nem
chuva durante os próximos anos, até que eu diga para cair orvalho e chuva de
novo”?
◘O desfecho: “e durante três anos e meio não choveu sobre a terra. Depois orou outra
vez, e então choveu”. “Orou outra vez”, aqui significa, segundo o relato
bíblico, inclinar-se até o chão, por a cabeça entre os joelhos, ou seja, orou
sete vezes.
Feitos espetaculares da vida de
Elias como estes e Tiago assevera que ele era “um ser humano como nós”?
Na verdade, o que Tiago afirma não
tem nada haver com os feitos espetaculares da vida de Elias, e como podemos ter
os mesmo “poderes” que ele.
Tiago foi um homem de Deus e por
conta disso sabia muito bem que o poder
– é a única coisa que nos identifica como filhos e filhas de Deus, é de Deus
e não de Elias ou de qualquer ser humano. Tiago esta se referindo, sim,
falando do ser humano, do homem Elias.
O ser humano, o homem Elias
Diferentemente de outros
personagens bíblicos que tem seus nomes acompanhados por uma linhagem, que a
Bíblia chama de genealogia, Elias aparece sem muitas referências pessoais,
apenas: “Então, Elias, o tesbita, dos
moradores de Gileade”. Surge de
repente, no meio do relato dos reis de Israel, sem nada que o recomendasse
diante de Acabe, a não ser: “... Tão
certo como vive o Senhor, Deus de Israel, perante cuja face estou...” (I Rs
17:1).
Contrastando
Que contraste com aqueles que hoje
se dizem homens de Deus, autointitulados missionários, apóstolos, bispos, etc.
Homens que valorizam os títulos que tem e advogam quanto tempo já estão “na
obra” para tentar justificar o seu direito de falar em nome de Deus. Desfilam
seu poder ao disporem de muitos assessores (serviçais), em ternos bem cortados,
em carrões, jatinhos, mansões em balneários famosos, contas numeradas em
paraísos fiscais, etc.
A semelhança de João Batista,
oitocentos anos mais tarde, Elias também, segundo relato bíblico, usava apenas uma
capa de pele de animais, amarrada com um cinto de couro.
Carência de senso crítico?
Uma característica marcante na vida
dos homens e mulheres de Deus é a obediência. Apesar da lógica divina, muitas
vezes, parecer não fazer muito sentido na Terra, quando Deus ordena, eles nem
sequer questionam. Vejam a ordem recebida: “Retira-ter
daqui, vai para o lado oriental e esconde-te junto à torrente de Querite,
fronteira ao Jordão” (I Rs 17:3). Logo agora que ele havia colocado o rei
ímpio em seu devido lugar, Deus o manda
para lá de onde o vento faz a curva. Querite ficava do outro lado do
Jordão, no deserto. Isto, segundo muitos comentaristas, não parecia muito
racional. O racional é que ele ficasse ali mesmo, estorvando o rei. Mas Elias
nem sequer discute, ruma para Querite e fica lá. Deus tinha falado e ponto.
A lição
para todos nós
“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o
ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para
que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra” (II Tim 3:16-17).
Nenhum de nós ousaria questionar
abertamente esta passagem bíblica: no entanto, é assutador ver o quanto se tem
torcido a Palavra de Deus para benefício próprio, para conveniências pessoais,
denominacionais, institucionais. O quanto se tem desobedecido e discutido o que
a Palavra de Deus tem como indiscutiível – os princípios divinos.
Mesmo em outra ocasião, quando Deus
manda Elias para Sarepta que ficava em Sidom,Terra de Baal e de Jezabel – sua
pior inimiga, não questiona, não discute. Elias reconhece claramente o
Espírito de Deus falando e obedece. Isto porque Elias estava cheio do
Espírito Santo Santo de Deus. Crentes cheios do Espírito Santo são capazes de
compreender claramente as Sagradas Escrituras e reconhecer quando ela está
sendo manipulada por falsos mestres. Portanto, “enchei-vos do Espírito” (Ef 5:18), continua sendo a melhor recomendação, para que ao
ouvirmos a voz de Deus, a reconheçamos sem hesitar.
A síndrome de Elias
Infelizmente, vivendo em um mundo dominado pelo pecado,
doenças não são exclusividade dos gentios. Filhos e filhas de Deus também
adoecem. Doenças das mais variadas natureza: físicas, mentais e espirituais.
Com Elias não foi diferente.
Logo após um dos pontos mais altos
de sua vida, a saber, o confronto no Monte Carmelo com os profetas de Baal
(protegidos de Jezabel), o desafio de fogo e a chuva voltando a cair após três
longos anos.
Após ter demonstrado obediência e
paciência, Elias mais uma vez inflamado pelo Espírito Santo, marca o encontro
fatal (para os profetas de Baal) e anuncia o final da seca. Coloque-se no lugar
de Elias, pois é aqui, neste ponto que mais nos identificamos com ele.
Grandes feitos. Quem não espera por
eles? Qual é o crente, por mais humilde que seja, que não deseja realizar
grandes obras para Deus?
ü Desafiar ou
confrontar os poderes do mal.
ü Fundar novos grupos,
que se tornarão novas igrejas.
ü Grandes campanhas
evangelísticas...
Alguns mais exaltados chegam a
declarar grandes cidades como pertencentes ao Senhor Jesus. Podemos até
compreender suas boas intenções, entretanto, sabemos que não é bem assim. Elias
também descobre isto no Monte Carmelo. Ele faz uma pergunta simples: “Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o SENHOR
é Deus, segui-o, e se Baal, segui-o. Porém o povo nada lhe respondeu” (1Rs 18:21). Pasmem,
o povo de Deus permaneceu em silêncio. Quem sabe Elias esperava que pelo menos
uma voz dissesse: Amém! Mas nada, só o vento.
Aqui começa o tropeço de Elias que
o leva a orar, a única oração que ele fez e Deus não respondeu: “– Já chega, ó SENHOR Deus! Acaba agora com
a minha vida! Eu sou um fracasso, como foram os meus antepassados” (1 Reis
19:4 NTLH). Vejam só o que uma doença é capaz de provocar no ser humano. O
estado depressivo deste servo de Deus chegou a tal ponto que ele orou pedindo a
morte.
Como aconteceu com Elias, ocorre às
vezes comigo e contigo. No ponto mais alto, no calor da obra, somos atacados
pela síndrome de Elias, e achamos que de nada adiantou lutar, pois nada mudou.
Elias achou isto quando foi ameaçado de morte por Jezabel. No ponto mais alto é
que estamos mais vulneráveis. Basta um toque, um leve empurrão, quanto mais a
ameaça feita por Jezabel. Daí o conselho de 1 Co 10:12 .
Por três vezes ele repete: “Só eu fiquei”. Elias se sente sozinho,
humanamente falando. Só. Este é um dos piores sentimentos que um servo de Deus
pode sentir – a terrível sensação de estar malhando ferro frio, de estar dando
murro em ponta de faca. Jesus usou uma
expressão um tanto forte para descrever a mesma sensação: “nem deiteis aos porcos as vossas pérolas” (Mt 7:6). A sensação de
ter, aparentemente, trabalhado em vão.
O fato de sentir-se só, não
significa que não existam outros trabalhando pela mesma causa e sim por
encontrar-se isolado. Quando isolados não somos capazes de enxergar os “sete mil: todos os joelhos que não se
dobraram a Baal” (1 Rs 19:18), os quais Deus conservou para levar avante os
seus desígnios.
A solução
Como se evita esta síndrome? A receita de Deus para o doente Elias: – Levante-se
e coma; se não, você não aguentará a viagem: andar quarenta dias e quarenta
noites até o Monte Sinai, o monte sagrado. Depois
volte para o deserto que fica perto de Damasco. Chegando lá, entre na
cidade e entre outras atividades unja Eliseu, como profeta, para ficar em lugar
de você.
Muito mais que um substituto,
Eliseu foi para Elias o amigo que ele nunca teve, o amparo, o ombro amigo que
sempre necessitou. Esta receita continua valendo para mim e para você. Tão
importante como o relacionamento vertical (com Deus) é o relacionamento
horizontal (com o próximo). Esquecer-se disto é abrir a porta para o fracasso
pessoal, muito embora, à vista de todos, você seja o grande homem ou mulher de
Deus.
Fiquemos alertas.
Sempre haverá os tais sete mil, ou muito mais.
É o meu desejo e a
minha oração. Amém!!!
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