Introdução
Se hipocrisia é pecado e eu creio
que seja, pois Jesus censurou os escribas e fariseus com este adjetivo, pecamos
quando tentamos passar ao mundo uma imagem de igreja perfeita. As Santas
Escrituras afirmam que todos pecaram (Romanos 3:23); que estamos doentes (Tiago 5:16); que somos
desgraçados, e miseráveis, pobres, e cegos, e nus (Apocalipse 3:17).
É claro que não necessitamos sair
por aí apregoando nossos “calcanhares de aquiles”, entretanto, como ponto de
partida, carecemos da virtude denominada humildade para reconhecermos nossa
situação e sairmos em busca da solução.
Onde buscá-la? Na Palavra de Deus é
claro!.
O livro de Atos contêm muitas
lições que necessitamos aprender – entre elas: administrar conflitos. Eles
estiveram presentes nos primórdios da igreja. As soluções encontradas podem ser
muitos úteis ainda hoje. Então vejamos.
Solução prática de conflitos
Para suprir as necessidades dos
crentes, quem cuidou das finanças da igreja, após o Pentecostes, foram os
apóstolos ( Atos 4:34-35). Entretanto, a medida que aumentava o número de
pessoas na igreja, também cresciam os desafios logísticos e práticos.
Está escrito: “Naqueles dias, crescendo o número de discípulos, os judeus de fala
grega entre eles queixaram-se dos judeus de fala hebraica, porque suas viúvas
estavam sendo esquecidas na distribuição diária de alimento” (Atos 6:1 NVI).
A igreja estava em franco processo
de expansão e os apóstolos percebendo que não poderiam assumir todas as responsabilidades,
reconheceram a necessidade de delegar algumas delas a outros para que pudessem
ficar livres para pregar o evangelho mais amplamente.
Os que estavam descontentes foram
chamados pelos apóstolos e foi pedido a eles para procurarem entre eles “sete homens de bom testemunho, cheios do
Espírito e de sabedoria. Passaremos a eles essa tarefa” (verso 3).
A sugestão agradou a todos. Eles
indicaram sete homens para assumir essa importante responsabilidade. Os
apóstolos oraram e “lhes impuseram as mãos” (verso 6), ordenando os primeiros
diáconos da igreja cristã – devido ao conflito.
Através da oração e da direção do
Espírito Santo o conflito foi solucionado.
Solução de conflitos teológicos
Localizada a mais de 480
quilômetros de distância ao norte de Jerusalém estava a cidade de Antioquia.
Possuía uma grande igreja que ainda estava em crescimento. Essa cidade, a
terceira em importância, depois de Roma e Alexandria, dentro do Império Romano,
era o centro da atividade missionária. “Em
Antioquia foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos” (Atos 11:26). A igreja era
bastante eclética, ou seja, seus membros eram formados por muitas classes de
pessoas, tanto judeus como gentios.
Curiosamente não eram os gentios
que estavam causando problemas na igreja. Alguns dos judeus convertidos estavam
preocupados se os conversos gentios trariam algumas das suas práticas
indesejáveis para a igreja cristã. Zelosos, na esperança de se proteger, bem
como para manter sua singularidade como judeus, os cristãos hebreus insistiram
que os gentios convertidos fossem circuncidados.
Embora esse fosse um assunto de
âmbito religioso, também era difícil para os primeiros cristãos abandonar sua
herança nacional e seus direitos e privilégios como judeus. Eles estavam sendo
chamados pra superar seu orgulho como cidadãos de Israel e expressar sua nova
identidade como cidadãos de um reino superior.
Para muitos esse era um ideal
inatingível. As tendências políticas e separatistas levavam à desunião e
divisão. As disputas e contendas dentro da igreja eram tão ferozes que temiam a
divisão. A discórdia chegou a tal ponto que Paulo e Barnabé e outros
representantes da igreja foram à Jerusalém para se encontrar com os apóstolos, anciãos
e os delegados de outras igrejas para resolver a questão. Os que estavam em
Antioquia concordaram em parar a discussão e esperar pelo veredicto.
O modo como esse conflito teológico
foi tratado no concílio de Jerusalém está registrado em Atos 15.
Eles fizeram uma reunião do
conselho geral.
É de bom alvitre que Cristo é a cabeça
da igreja e que ninguém na Terra pode reivindicar esse direito; portanto, é
importante que os líderes e representantes da igreja peçam a direção do
Espírito Santo sempre que discutirem assuntos que dada sua relevância venham
afetar a igreja. Assim nos é dito: “Os
apóstolos e os presbíteros se reuniram para considerar essa questão” (Atos
15:6).
Foi providenciado tempo para
discussão.
Fizeram uma clara descrição sobre a
situação de Antioquia para que os delegados discutissem a questão: Seria
necessário que os gentios conversos fossem circuncidados a fim de serem aceitos
entre os cristãos?
Seguiu-se uma intensa discussão e
todos tiveram a oportunidade de falar. Pedro, então, concluiu a discussão
lembrando ao conselho a visão que tivera sobre os animais impuros e a voz do
Céu lhe dizendo: “Não chame impuro ao que
Deus purificou” (Atos 11:9). Ele
descreveu seu encontro com os gentios em Cesaréia e como havia visto o Espírito
Santo descendo sobre eles, assim como sobre os crentes judeus.
Paulo e Barnabé apoiaram o
argumento de Pedro dando exemplos de como eles também haviam presenciado o
Espírito Santo em ação entre os gentios.
As ideias principais foram
resumidas e comparadas com as Escrituras. Uma proposta foi apresentada.
Após todos terem tido a
oportunidade de falar, Tiago, que dirigia a reunião resumiu os pontos
principais e comparou o testemunho de Pedro com as profecias das Escrituras: “A restaurarei... para que o restante dos
homens busque o Senhor, e todos os gentio sobre os quais tem sido invocado o
meu nome, diz o Senhor, que faz estas coisas” (Atos 15:16-18).
Estando o testemunho de Pedro de
acordo com as Escrituras, Tiago propôs: “não
devemos pôr dificuldades aos gentios que estão se convertendo a Deus. Ao
contrário, devemos escrever a eles, dizendo-lhes que se abstenham de comida
contaminada pelos ídolos, da imoralidade sexual, da carne de animais
estrangulados e do sangue” (versos 19,20).
Chegaram a um consenso e a decisão
foi escrita e enviada aos crentes de Antioquia.
Após ouvirem a proposta de Tiago, os
apóstolos e anciãos concordaram que esse era o caminho certo a ser seguido. Uma
carta explicando a decisão do concílio foi enviada por Paulo e Barnabé e outros
cristãos de Jerusalém aos gentios crentes de Antioquia.
Seria muita ingenuidade achar que
as coisas voltaram rapidamente à normalidade, que o assunto jamais voltou a ser
mencionado ou ainda que a igreja nunca mais tivesse problemas de ordem
teológica.
Muito embora os gentios estivessem
satisfeitos com o resultado, nem todos estavam contentes. Ellen G. White
escreveu: “Havia uma facção de irmãos
ambiciosos e possuídos de presunção que a desaprovaram... Entregaram-se a muita
murmuração e crítica, propondo novos planos e procurando deitar abaixo a obra
dos homens a quem Deus ordenara ensinassem a mensagem do evangelho. Desde o
início teve a igreja tais obstáculos a enfrentar, e há de tê-los até a
consumação dos tempos” (Atos dos Apóstolos, pág. 196-197).
Solução de conflitos interpessoais
De tempos em tempos, mesmo entre os
cristãos, acontecem conflitos interpessoais. Assim ocorreu entre Paulo e
Barnabé, quando estavam se preparando para deixar Antioquia. Os preparativos
para a viagem se intensificavam, pois eles queriam visitar e animar os crentes
em outros lugares. Tudo corria muito bem até que Barnabé sugeriu que levassem
consigo o jovem João Marcos. Numa outra viagem o jovem missionário já os havia
abandonado quando as coisas ficaram difíceis, e Paulo não estava preparado para
lidar com ele outra vez (Atos 15:36-40).
Barnabé, sendo um homem de visão,
percebeu o potencial de João Marcos e queria incentivá-lo na obra do evangelho.
A discórdia chegou a tal ponto entre os dois missionários experientes, que
acabaram indo para lugares diferentes. Barnabé levou João Marcos indo a uma
direção, e Paulo levou Silas, crente de Antioquia, com boas referências, para
uma viagem em outra direção.
Felizmente a história não acaba
aqui, dessa forma lamentável. Sob a orientação de Barnabé, João Marcos
despontou como um obreiro de valor para o Senhor e, mais tarde, se reconciliou
com Paulo, que se referiu a ele como “fonte
de ânimo para mim” (Cl 4:11) e “me é
útil para o ministério” (II Tim 4:11).
O que podemos aprender desses
conflitos entre dois respeitados líderes da igreja?
Apesar de manterem sua
discordância, eles a mantiveram tão somente entre os dois, e não envolveram
outros líderes ou a igreja.
Como naquela ocasião não foi
possível chegar a um acordo, decidiram separar-se indo em direções opostas, ao
invés de prolongarem o conflito.
Como convém a cristãos, ainda se
respeitavam mutuamente e não falaram mal um do outro, permitindo que
continuassem sendo obreiros efetivos para o Senhor.
Conclusão
Ao observarmos e seguirmos os
exemplos da igreja primitiva, como descrito no livro de Atos, nós também,
podemos estar seguros da direção de Deus no passado, presente e futuro.
Estamos cada dia mais próximos do
fim e não podemos permitir que o inimigo divida a igreja com conflitos e
controvérsias.
Que Deus continue guiando Sua
igreja e a cada um de nós individualmente, ao participarmos juntos do
ministério da reconciliação e unidos possamos aguardar nossa bendita esperança
- a volta de Jesus.
É o meu desejo e a minha oração.
Amém!!
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