“Procure apresentar-se a DEUS aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar e que maneja corretamente a palavra da verdade” (II Timóteo 2:15 – NVI).
Introdução
Ultimamente o espírito Clinton Locy
tem se manifestado entre nós, ou quem sabe, o paulino. Não se trata de uma
crítica, mas, de uma constatação: os pregadores andam exagerando demasiadamente
quanto ao tempo de pregação.
Quem era Clinton Locy?
Era capataz de uma fazenda de gado
no sul da Califórnia (EUA), quando um pregador batista o convenceu a ir à
igreja. Ele ouviu um sermão e decidiu ser ele mesmo um pregador. Atribuí-se a
Clinton Locy o sermão mais longo que se tem notícia na história da oratória sacra.
A empolgação foi tanta que em
Fevereiro/1955 ele pregou por 48 horas e 18 minutos, discorrendo sobre os 66
livros da Bíblia e ainda, aproveitando a ensejo falou sobre a Era Atômica. 1
Ao concluir a pregação, a
congregação presente resumia-se a oito membros. 2
Paulino porque na Bíblia, o recorde fica
por conta do apóstolo Paulo, relatado por Lucas no livro de Atos cap. 20, onde
aconteceu o incidente com o jovem Êutico (v.9).
A questão tempo na pregação da Palavra
A esse respeito conta-se uma
história de certo pastor que ao chegar ao seu novo distrito pastoral,
dirigiu-se ao primeiro ancião de uma de suas igrejas perguntando-lhe quanto
tempo dispunha para expor a Palavra. O ancião foi logo respondendo: “O senhor
pode pregar o tempo que quiser; só que às 11h30min todo mundo vai embora”.
Mensagem dada, mensagem entendida. Sermão encerrado pontualmente às 11h30min,
sem sobressaltos.
O pior acontece quando a falta de
bom senso impera; já vivenciei mais de uma vez, situações em que o pregador estúpido,
mesmo ciente do tempo que lhe foi permitido, ainda cometeu o desatino de falar:
“Sei o tempo que tenho, mas já que me convidaram para pregar, vou falar o tempo
que quiser”. Em três palavras: isto é abominável!
Acerca do horário, o pastor Horne
P. Silva assevera: Começar na hora certa é uma segurança para quem chega a
tempo e uma maneira de estimular os retardatários a ser pontuais. Não há nada
mais desagradável do que ficar esperando e esperando. As pessoas mais idosas
começam a ficar incomodadas e as crianças irritadas, logicamente com razão.
Começar na hora marcada é um princípio de ordem e organização como qualquer
outra parte do culto. Terminar na hora certa é tão importante como começar na
hora certa. O culto deve ser uma bênção e não um transtorno. O pastor nunca
deveria permitir que o culto ultrapassasse os limites de um bom horário para
terminar todos os serviços religiosos. Alguns chegam ao cúmulo de dizerem:
“Bem, hoje é sábado, temos a tarde toda, podemos falar a vontade”. Destarte,
esquecem-se de que já as crianças estão cansadas, irrequietas, e as mães
preocupadas com a alimentação e com a condução, pois das onze às treze horas é
mais difícil. Se por um motivo ou outro, o que não deveria ocorrer, já está
avançada a hora, o pregador deveria resumir o sermão e despedir os irmãos na
hora marcada. Com respeito e consideração à nossa congregação, devemos começar
e terminar à tempo. 3
Pecando no quesito previsibilidade
Porém, às vezes agimos como
neófitos e acabamos pecando também no quesito previsibilidade. Verdadeiros
líderes são agraciados com a virtude da proatividade!
Há bastante tempo, quando integrava
a liderança de um grupo que daria origem a uma nova igreja nós nos deparávamos
com toda sorte de dificuldades, tais como: falta de recursos financeiros e
humanos, achar pessoas que se dispusessem a passar a Lição da Escola Sabatina e
para pregar, encontrar local adequado para a realização de cultos, enfim, o
trabalho incessante do inimigo na tentativa de fazer-nos desistir da ideia; porém,
aconteceu algo inusitado.
Num determinado sábado estávamos mais
aliviados por ter encontrado alguém que se dispôs compartilhar conosco a Lição
da Escola Sabatina e outro irmão para pregar. Assim que começou o estudo da
lição percebi uma movimentação estranha, não da parte do professor, mas daquele
irmão convidado que estava encarregado do sermão. Ele folheava sua Bíblia de
uma forma estranhamente nervosa, fazendo anotações em pedaços de papel. Assim
que lhe foi dado a palavra foi possível entender parcialmente o motivo de tanta
inquietação. Discordando da linha de pensamento adotada pelo professor, foi
reescrevendo o sermão que pregaria logo em seguida, logicamente com o intuito
de confrontar o que havia sido dito pelo irmão professor (conforme ele mesmo
declarou assim que começou a mensagem). E a pregação “improvisada” começou. Até
o momento em que me ausentei do recinto motivado por outro compromisso, já
haviam se passado 90 minutos de pregação. Mais tarde fiquei sabendo que o
prolixo pregador estendeu sua mensagem por mais 40 minutos, ou seja, sua
pregação durou 2 horas e dez minutos. A pequena congregação de cerca de 20
membros entre adultos e crianças estava reduzida a ¼. E o que dizer acerca da
pregação? Um amontoado de textos bíblicos desconexos, entremeados de algumas
citações ditas por alguém importante, mesclados com experiências pessoais
inservíveis para a edificação daqueles que por uma questão de respeito ou
responsabilidade pelo fechamento do local, permaneceram até o fim. Aquilo foi o
que verdadeiramente pode ser chamado de um sermão “miscelânico”. 4
Parcialmente porque, verdade seja
dita, a pessoa que o
convidou, desconhecia o fato de que ele estava doente, acometido de sérios problemas
mentais. Inusitado mesmo!
Imaginem agora, outra situação
vivenciada há algum tempo depois. Um cidadão vindo de uma cidade bastante
distante (do Centro Oeste do país) chega à Curitiba, mais precisamente num
bairro na periferia, sexta-feira à tarde, à procura de algum adventista do
sétimo dia. Logo, foi direcionado justamente à casa de um irmão que fazia parte
liderança da igreja e que, coincidentemente seria o pregador na manhã seguinte.
Desconheço detalhes do encontro, mas o forasteiro acabou por pernoitar na casa
do irmão, que gentilmente concedeu-lhe o direito de assumir o púlpito naquele
sábado.
Fui surpreendido ao ver o
desconhecido até então, preparando-se para assumir o púlpito. Comecei a ficar apreensivo
e mais apreensivo ainda, quando ele relatou toda essa história. Temi pela ousadia
do irmão que o convidou sem ao menos saber de quem se tratava, se o convidado
tinha ou não, condições de ocupá-lo. Para encurtar a história, foi uma das melhores
pregações que eu já ouvi em mais de quatro décadas de igreja; uma mensagem
política, institucional e eclesiasticamente correta, inclusive no quesito
tempo. Em tempo, tratava-se
de um professor, vindo à Curitiba para tratamento de saúde.
A lição aprendida através destes
dois relatos é que a responsabilidade por tudo aquilo que é compartilhado com a
congregação, não recai somente sobre o pregador, mas também sobre aquele que
fica responsável pela elaboração da escala de pregadores e seus respectivos convidados.
Histórias que ao serem contadas
podem até parecer engraçadas, porém, denotam certa dose, não só de ingenuidade, como falta
de bom senso, de responsabilidade e reverência. São contraproducentes; um
verdadeiro atentando aos princípios que regem a adoração e oratória sacra.
Momento pós-pandemia
Já estamos vivendo um momento
considerado pós-pandemia. A proibição imposta legal e institucionalmente de
congregarmos propiciou a debandada de um grande número de membros; trazê-los de
volta ao aprisco não será uma tarefa fácil.
A impressão que se tem é que muitos
pregadores, talvez inconscientemente queiram recuperar o tempo perdido (que é
irrecuperável) acabem exagerando no tempo da pregação.
As pessoas que estão voltando a
congregar precisam ser realmente acolhidas; precisam deixar o templo, ao final
dos cultos com gostinho de quero mais, com vontade de voltar. Pregações
extenuantes em nada contribuem para que isto aconteça.
Assim sendo, todo empenho e
esforços devem ser envidados não somente para alcançar aqueles que farão parte
do corpo de Cristo, a Sua Igreja (missão que nos foi confiada), como também resgatar
aqueles que motivados pela pandemia ou qualquer outro pretexto encontram-se afastados
dos caminhos do Senhor.
Que nunca nos esqueçamos: zelo
divino desprovido de conhecimento deve ser posto de lado, assim como críticas e
julgamentos quanto a postura de membros considerados ovelhas errantes! Quem
somos nós para julgar?
Espera-se que atitudes ponderadas,
não somente da membresia leiga, mas, sobretudo da liderança graduada, pautem as
decisões e procedimentos, não só durante as horas em que passamos congregados,
mas também externamente quando todos, sem exceção, somos chamados a assumir a
postura de “sal da terra” e “luz do mundo”.
5
Precisamos nos preocupar muito mais
com as pessoas a nossa volta e com suas mais variadas necessidades, homens e
mulheres, idosos, jovens e crianças pelas quais DEUS, na pessoa de Seu filho
Jesus Cristo derramou seu precioso sangue na cruz do Calvário, do que com o
preenchimento de relatórios institucionais e outras práticas eclesiásticas que em
nada contribuem para nossa santificação. Em suma: supérfluas.
Conclusão
Sermões sejam: temáticos, textuais
ou expositivos, obviamente excetuando os “miscelânicos”, devem ficar dentro do
que prega a boa homilética, no caso específico, o tempo de duração: 40
(quarenta) minutos no máximo; a partir daí, nenhum ser humano normal consegue
assimilar o que quer que venha ser dito (por mais importante que seja), ou
seja, pura perda de tempo e de tudo mais que foi aqui descrito.
Clinton Locy que me perdoe. Aos pregadores
de plantão insto: por amor ao que lhes é mais sagrado, nada de miscelâneas,
verborragias, documentários ou mesmo sermões com 50, 90, 01h25min ou mais; os
ouvidos, a capacidade de assimilação, a paciência, o bem-estar e a saúde da
congregação agradecem.
“Manejar corretamente a palavra da verdade”, neste contexto, implica
em ponderação quanto ao tempo de duração de uma pregação.
Que nas “horas benditas, santas e
felizes” 6, nada substitua um sermão cristocêntrico proferido por um
obreiro (a) aprovado (a) por DEUS!
É o meu desejo e a minha oração. Amém!!!
Bibliografia:
1
- http://content.time.com/time/subscriber/article/0,33009,892986,00.html
2
- https://online.flippingbook.com/view/87759/18/
3
– Horne P. Silva, Culto e Adoração, págs. 170/171, Imprensa Universitária
Adventista, 1994
4
- http://nelson-teixeira.blogspot.com/2018/05/sermao-miscelanico.html
5
– Bíblia Sagrada, Mateus 5:13-16.
6
– Hino nº 531, Hinário Adventista do Sétimo dia, CPB,1996, pág. 385
© Nelson Teixeira
Santos
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