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SERMÃO “MISCELÂNICO”?



Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade (2 Timóteo 2:15 - ACF).

            Introdução
            Há algum tempo tive o privilégio de folhear uma revista denominacional do século passado, mais precisamente da década de 1970. Curiosamente encontrei o desabafo do redator chefe (desabafo do qual também pactuo), que dizia mais ou menos assim: “as congregações clamam por sermões mais bem elaborados”.

            A realidade
            Pois bem, já se passaram mais de cinquenta anos e o clamor continua valendo, atual, ainda necessário.
            É profundamente lamentável o fato de que nas mais diversas denominações cristãs, existam pessoas, que como afirma o apóstolo Paulo, “são zelosas de Deus, mas não com entendimento” (Rm 10:2).  Isso acarreta as mais desastrosas e terríveis consequências, pois estamos tratando com pessoas que correm o risco de terem a sua salvação comprometida por conta do que está sendo proferido dos púlpitos em nome de Deus.
            É triste, mas temos que admitir que grande parte das pessoas as quais são confiadas o púlpito, não conseguem discernir o que realmente seja um discurso, uma palestra, uma preleção, um comentário, um estudo bíblico de um sermão propriamente dito. E o resultado? O título da mensagem encerra uma dica.

            Objetivo da mensagem
            Pelo fato da Palavra de Deus determinar mais de uma vez que “não devemos julgar as pessoas” (Mt 7:1; Lc 6:37); o objetivo deste artigo não é julgar ninguém.
            O que está sendo avaliado é a incapacidade para o desempenho de uma das funções mais grandiosas já confiada a nós seres humanos, ou seja, o compartilhar da Palavra de Deus. Está escrito: “Quão formosos são, sobre os montes, os pés do que anuncia as boas novas, que faz ouvir a paz, do que anuncia o bem, que faz ouvir a salvação, do que diz a Sião: O teu Deus reina!” (Isaías 52:7 - ACF).

            Exemplos
            Alguns exemplos que vão ajudar a elucidar o que estamos tentando dizer:

            (a) - Desde quando extensos relatos autobiográficos, validados por anos e anos de igreja (convenhamos, isto não significa santidade e muito menos consagração), proferidos sob aparente emoção, intercalados de passagens bíblicas pode ser chamado de sermão?
            (b) - Desde quando, dá para chamar de sermão, o fato de alguém ocupar o púlpito com meia dúzia de livros debaixo do braço, cuja autoria é atribuída, ou não, a alguém reverenciado pela denominação religiosa e a partir daí, fazer extensas e tediosas leituras  e ao final de cada leitura realizar um comentário, cobrando da congregação um posicionamento diante do que foi exposto?
           (c) – Desde quando uma mensagem demasiadamente extensa, sem conteúdo bíblico, enfadonha, fruto da imaginação fértil de alguém que não consegue discernir entre o que literal do que é simbólico, um verdadeiro atentado à inteligência alheia pode ser enquadrada na categoria sermão?
            (d) – Desde quando um amontoado de extensas leituras bíblicas, intercaladas de diversos cânticos congregacionais, mescladas de testemunhos pessoais e acrescidas de outros tantos solos, enquadram-se na categoria sermões?
           (e) – Desde quando enlatados institucionais de qualidade muitas vezes duvidosa, indigestos nos mais variados aspectos, geralmente trazendo em seu bojo imposições à congregação, podem respeitosamente ser chamados de sermões?

            Certa vez presenciei uma cena que seria cômica, se não fosse trágica. A esposa de um líder local, influente, em seu “momento de glória” (aquele momento em que pessoas despreparadas, não consagradas assumem o púlpito), proferir uma tremenda heresia. Ao despedir-me na porta da igreja, de modo respeitoso, para não colocá-la numa situação constrangedora afirmei:
            -Irmã, a senhora cometeu um equívoco, afirmando algo completamente contrário ao que diz a Palavra do Senhor.
            - Não cometi equívoco nenhum. Eu sei que o que foi dito estava incorreto, mas foi assim que estava escrito no script que recebi da instituição.
            E aí, pergunta-se: dizer o quê a uma criatura dessas?

            Tais deslizes não deveriam, contudo são até aceitos quando são cometidos por pessoas leigas, mas o que dizer quando pessoas graduadas (quem ler entenda) além de validar sua autoridade nos anos de serviços prestados à instituição religiosa, em diplomas, fazem questão de expor seu currículo. A coisa já começa a ficar tensa quando da sua apresentação à igreja: bacharelado em..., pós-graduado nisto, doutorado naquilo, mestrado em teologia e o estrelismo continua durante a exposição da “palavra”; tiram textos bíblicos de seus contextos e os aplicam segundo a sua conveniência, ou seja, estão reescrevendo a Bíblia?
            São mestres, no entanto olvidam as maldições que estão reservadas àqueles que deliberadamente acrescentam ou tiram algo contido na Palavra de Deus (Ap 22:18 - ACF; Ap 22:19 -  ACF).

            Quer sejamos pregadores leigos, pastores, teólogos renomados, ou não, precisamos entender “que um consagrado ministro, um pregador cheio do Espírito Santo é como se fosse Deus confrontando com a humanidade. No plano divino, o sermão não é simplesmente alguma coisa boa feita por um homem bom. Não é meramente uma palestra teológica ou bíblica; não é um comentário de eventos correntes. Um sermão é Deus revelando-Se, alcançando-nos e apelando a nós para uma tomada de decisão. Isto só é possível através de mensagens da Palavra de Deus” (Horne Pereira da Silva, Culto e Adoração, pág. 147).

            Surrado clichê
            Certamente você já deve ter ouvido algumas vezes este chavão: “igrejas são semelhantes a hospitais para onde converge todo tipo de doentes; todo tipo de doente, inclusive, doentes da alma”. Isso não deixa de ser verdade, mas também não é novidade para ninguém, pois a própria Palavra de Deus testifica essa verdade em três dos quatro evangelhos: Mateus 9:12;  Marcos 2:17; Lucas 5:31. Qual o problema então?
            O problema é que devido à forma com que tal verdade é apresentada, abre precedentes perigosos, pois tendem a colocar a salvação das pessoas em risco. O fato de a igreja ser considerada hospital não nos dá o direito de recusarmos o remédio e continuarmos doentes, isto é pecando. Conversão significa, entre outras coisas, passar a viver em novidade de vida.
            A bem da verdade, a igreja até pode ser considerada hospital, contudo, ela é o lugar onde Deus se manifesta de uma forma especial. É preciso que neste local haja, entre outras coisas, reverência. Deus não concede a ninguém o direito de transformar os cultos, sob o pretexto de inovação, num verdadeiro circo!

            Revendo conceitos
            Não temos o direito de constranger ou desrespeitar quem quer que seja que se faça presente ali; pessoas pelas quais Jesus Cristo derramou Seu precioso sangue na cruz do calvário. Deus não tolera pedras de tropeço em Suas fileiras e adverte-nos: “Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem!” (Mateus 18:7).
            Em tempo: onde está escrito que somos ou estamos obrigados a ocupar funções eclesiásticas sob pretexto de perdermos o céu? Mero preceito humano que nada tem a ver com Deus ou com qualquer um de Seus mandamentos.
            Afinal, onde foi que colocaram o livre arbítrio? Não somos obrigados a nada que nos for imposto, principalmente se nos dermos conta de que tal chamado não procede de Deus.
            Não deveria haver espaço para politicagem nas fileiras do povo de Deus!  Aliás, a maioria delas (igrejas) se autointitulam apolíticas. Estas são as piores, pois fazem política nos bastidores, na calada da noite, por debaixo dos panos e isso é inaceitável.
            A pergunta que não quer calar é: Onde está escrito que alguma instituição religiosa, seja ela qual for, tem o poder de determinar o destino eterno de alguém? Fique você sabendo meu irmão em Cristo, que isto é prerrogativa divina! 
            Poderíamos passar muito tempo relatando sobre bobagens, insanidades, heresias cometidas diretamente dos púlpitos e pasmem; tudo em nome de Deus, contudo, vamos ater-nos ao que interessa – os sermões.

            Principais tipos de sermão
            Não é necessário ser versado em Oratória Sacra para saber que existem muitos tipos de sermões e variados são os métodos quanto a sua classificação.  Entre os estudiosos do assunto, alguns classificam os sermões de acordo com o seu conteúdo ou assunto; outros segundo a estrutura, e ainda existem aqueles que os classificam quanto ao método psicológico usado no momento da apresentação da mensagem.
            Existem ainda outros métodos de classificação; basicamente podemos classificá-los em três grupos: temáticos, textuais e expositivos.
            Sermão temático, segundo James Braga, em seu livro intitulado Como Preparar Mensagens Bíblicas “é aquele cujas divisões principais derivam do tema, independentemente do texto”.
            Sermão textual para ele, “é aquele em que as divisões principais são derivadas de um texto constituído de uma breve porção da Bíblia. Cada uma dessas divisões é usada como uma linha de sugestão, e o texto fornece o tema do sermão”.
            Sermão expositivo, concluindo suas definições, “é aquele em que uma porção mais ou menos extensa da Bíblia é interpretada em relação a um tema ou assunto. A maior parte do material deste tipo de sermão provém diretamente da passagem, e o esboço consiste em uma série de ideias progressivas que giram em torno de uma ideia principal”.
            Um tanto quanto complicado não é? Pois bem. Vamos então usar as definições dadas pelo Pr. Emilson dos Reis, em seu livro intitulado Como Preparar e Apresentar Sermões, na tentativa de facilitar a classificação:
            Sermão temáticoé aquele que começa com a escolha de um assunto e então segue com a busca dos textos necessários para apoiá-lo”.
            Sermão textualé aquele que é baseado em um texto bíblico curto (cujo tamanho vai desde uma simples frase até uns poucos versículos)”.
            Sermão expositivoé aquele baseado em um único texto bíblico, geralmente longo. Esse texto pode consistir de uns poucos versos, de um ou dois capítulos, ou até de um livro inteiro da Bíblia”.

            A estrutura de um sermão
            A construção de um sermão passa fundamentalmente por este caminho: o tema, o título, a introdução, a argumentação e a conclusão; caso contrário, não pode ser considerado sermão.

            O preparo do pregador
             Muito mais importante do que o tipo ou a estrutura de um sermão, está o preparo do pregador. Ele deve, acima de tudo ser um incansável estudioso da Palavra de Deus, deve ser um homem de oração, deve manter aquecido o seu coração, deve efetuar diariamente um exame de si mesmo, bem como cuidar bem de seu corpo.

            Qualidades de um pregador
            Algumas qualidades são indispensáveis a quem se propõe compartilhar a Palavra de Deus a partir de um púlpito: consagração, dependência do Espírito Santo, identificação com a mensagem, humildade, sensibilidade, entusiasmo, conhecimento, inteligência, memória, imaginação, vocabulário, síntese, fluência, coragem, observação e expressão corporal.
            O Pr. Horne Pereira da Silva afirma que “ser um pregador é a mais alta vocação. Estar em condição para realizar tal obra somente é possível através do Espírito Santo” (Culto e Adoração, pág. 149). Ellen G. White conclui: “A pregação da Palavra não será de nenhum proveito sem a continua presença e ajuda do Espírito Santo” (DTN, pág. 647).

            Sermão miscelânico”?
            Mas afinal de contas: que vem a ser “sermão miscelânico”?
            Evidentemente não existe tal classificação, mas ele existe sim! É aquele em que a saída do culto você pergunta a alguém sobre o que tratou o sermão. Ele para, pensa e como resposta você obtém o surrado chavão: “sobre um monte de coisas”. É isso mesmo, uma mistura de coisas diversas – verdadeira miscelânea!

            Conclusão
            É constrangedora e preocupante a nossa realidade. Precisamos todos nós, pregadores e congregações, rever urgentemente nossos conceitos homiléticos.
            Pregadores, inclusive os que possuem bacharelado em teologia, tem o dever de se prepararem melhor para o exercício de uma tarefa tão grandiosa!
            Congregações tem o direito de exigir de seus líderes sermões mais bem elaborados, com mais qualidade, mais edificantes, mais cristocêntricos!
            Os responsáveis pelas escalas de pregadores precisam selecionar melhor aqueles que terão a incumbência de revelar a vontade de Deus diretamente dos púlpitos!
            Deus não só merece, mais precisa e deve ser honrado, glorificado e acima de tudo adorado através de nossos sermões!
            Este é o meu desejo e a minha oração. Amém!!!


            Referências:
              1 - EMILSON DOS REIS, Como Preparar e Apresentar Sermões, CPB, 2016.
              2 - HORNE PEREIRA DA SILVA, Culto e Adoração, Imprensa Universitária Adventista, 1994.
              3 - JAMES BRAGA, Como Preparar Mensagens Bíblicas, Editora Vida, 1999.

               Para saber mais: DEREK J. MORRIS, O Poder da Pregação Bíblica, CPB, 2016.



            © Nelson Teixeira Santos              

  

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