Israel Belo de Azevedo fala sobre como pedir desculpas corretamente e confronta o ato com o verdadeiro perdão
Em um programa televisivo de
entrevistas, o presidente norte-americano Barack Obama referiu-se ao seu
desempenho em determinado esporte como sendo um resultado digno de atletas
especiais. Ao final do programa, percebendo que fora ofensivo, telefonou para
um dirigente de esportes para pessoas portadores de deficiências e pediu desculpas.
O dirigente achou apropriado o pedido e o aceitou.
Como "palavra de rei
não volta atrás", o gesto de Obama foi considerado muito especial, por
sua raridade. Não é mesmo comum que uma pessoa em sua posição peça desculpas.
Não sei também se, de fato, no íntimo, o presidente ficou constrangido, ou se
quis apenas evitar o constrangimento da censura do "politicamente
correto". Talvez ele volte a dizer o mesmo numa mesa de restaurante
entre amigos.
Desculpar é tirar a culpa de
alguém. Desculpar-se é pedir a alguém que lhe tire a culpa. Há muitas maneiras
de pedir desculpas, a mais difícil é: "Desculpe o meu erro. Espero não
fazer isso de novo".
Acho fraco o verbo desculpar;
prefiro o perdão: "Perdoe-me pelo mal que meu erro lhe causou".
É frase para poucos, só mesmo para os bem-aventurados. Os demais tendem a
esboçar palavras de desculpas, que, muitas vezes, pioram as coisas.
Agora, para ajudar a quem apenas
quer parecer que pediu desculpas, eis algumas frases que podem ajudar:
- Não acho que tenha errado,
mas lamento muito que a minha atitude lhe tenha trazido algum dano.
- Não tive a intenção de
ofender você, mas, mesmo assim, peço desculpas pelo transtorno que
involuntariamente causei.
- A sua atitude não me deixou
alternativa, senão reagir desse modo. Lamento muito.
- Peço desculpas não pelo que
fiz, mas pela forma que fiz; como vocês sabem, eu estava sob intensa pressão e
me excedi.
- Não era essa a minha
intenção, mas, se magoei você, queira me desculpar.
- Errei, mas, no meu lugar,
qualquer um erraria. Desculpe.
- Desculpe, mas você sabe que
eu sou assim.
O ser humano é insuperável em matéria de
engano.
A lista pode ser interminável,
porque, em matéria de autoengano, não há quem supere o ser humano. Todas
essas desculpas se resumem a uma frase que não foi dita: "Na verdade, a
culpa é sua". O que essas frases, na verdade, pretenderam dizer
foi:
- Se eu não errei, mas você se
ofendeu, a culpa é sua por ser assim tão sensível e sofrer sem necessidade.
- Se eu não tive a intenção,
você deveria se colocar no meu lugar e ver minha boa intenção.
- Se você me forçou a agir
como agi, você é quem me deve pedir desculpas.
- Se errei apenas na forma, é
porque eu estava certo no essencial e você não prestou atenção.
- Se magoei você e você não
deveria ficar magoado, você é quem me deve desculpas, por me fazer sentir tão
mal.
- Se errei, como qualquer um
erraria, não sou pior que ninguém.
- Se minha natureza falou mais
alto e explodi, você deveria ser mais compreensivo e menos exigente comigo.
Que atitude tomar?
O que fazer diante de pessoas
capazes de nos atacar triplamente - nos ofendem, nos culpam e nos fazem a
sentir mal por sermos tão cruéis? Manter distância.
A distância deve suceder um esforço
de diálogo pedagógico, no afã de mostrar a impropriedade ofensiva dos falsos
pedidos de desculpas.
A distância deve ser acompanhada da observação participante e mesmo da expectativa honesta de que haverá mudança. No entanto, para alguns, isso não é cristianismo sincero.
O perdão é a atitude correta a
se tomar quando cometemos um erro. "Perdoe-me" são as palavras
certas a se dizer. Perdoar é mais que desculpar, vai além de tirar a culpa de
alguém. Quando perdoamos alguém, tiramos a culpa da pessoa e a assumimos
para nós, com o compromisso de não mais nos lembrarmos do ocorrido.
O sacrifício de Jesus na
cruz foi a maior prova de amor que qualquer pessoa poderia receber. Através
da morte de seu único filho, Deus nos concedeu perdão por todos os nossos
pecados.
Ao aceitarmos esse sacrifício, com
sincero arrependimento por nossas iniquidades, Deus nos concede perdão e apaga
de sua memória nossas faltas para sempre.
Somos desafiados a fazer o mesmo em
nossos relacionamentos.
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