O testemunho é nossa
genuína prática espiritual
Como cristãos, uma das nossas
responsabilidades é pregar o evangelho. Jesus afirmou que o fim só virá após
esse trabalho: alcançar o mundo e todas as pessoas (Mt 24:14). Mas como
enfrentar este mundo egoísta, caótico e cético?
Em face da nossa pequenez e
incapacidade, o que podemos fazer para obter bons resultados?
O próprio Jesus reconheceu o tamanho
do desafio quando afirmou: “Eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos”
(Mt 10:16). E hoje, mais do que nunca, os lobos estão famintos.
Como enfrentar desafios tão grandes?
Só há uma alternativa: poder.
Portanto, as ovelhas precisam de poder.
O livro de Ezequiel apresenta um
quadro intrigante acerca do poder que vem de Deus para capacitar alguém a fazer
Sua vontade. Vemos um profeta que se dispôs a fazer o que Deus queria, mas se
encontrava diante de uma situação catastrófica: um vale cheio de
ossos.
Então, ele começou a andar ao redor deles,
espantado, porque eram “mui numerosos sobre a face do vale, e estavam
sequíssimos” (Ez 37:2).
Depois disso ele enfrentou um
grande desafio: Deus lhe ordenou que pregasse aos ossos. Que
situação! O sentimento natural do ser humano, diante de um vale de ossos, é de
impotência. Essa limitação parece ser questionada com essa inusitada ordem: “Pregue
aos ossos!”
A esta altura, façamos um paralelo
entre aquela visão e os dias atuais. Como naquela época, nosso mundo é um caos,
sem esperança, habitado por ossos secos.
Uma questão de fé.
Deus perguntou ao profeta Ezequiel: “‘Filho
do homem, estes ossos poderão tornar a viver? ’ Eu respondi: ‘Ó Soberano
Senhor, só Tu o sabes’” (Ez 37:3, NVI).
Fica evidente uma característica na
vida desse pregador: ele não duvidou do poder de Deus. Exerceu fé e não
ousou emitir opinião particular acerca de uma situação tão difícil: O
Senhor sabe. A minha opinião, Senhor, se submete à Tua; o que importa não é o
que eu acho, é o que Tu achas. “‘Então Ele me disse: ‘Profetize a
estes ossos e diga-lhes: Ossos secos, ouçam a palavra do Senhor! Assim diz o
Soberano, o Senhor, a estes ossos: Farei um espírito entrar em vocês, e vocês
terão vida. Porei tendões em vocês e farei aparecer carne sobre vocês e os
cobrirei com pele; porei um espírito em vocês, e vocês terão vida. Então vocês
saberão que Eu sou o Senhor’” (Ez
37:4-6, NVI).
Ezequiel foi chamado para enfrentar
um grande desafio. Ele deveria pregar àqueles ossos secos, e essa era uma
proposta que exigia muita fé.
Teria o profeta temido?
Teria ele protelado seu dever em
busca de um método melhor ou de um projeto mais adequado?
“E eu profetizei conforme a
ordem recebida. Enquanto profetizava, houve um barulho, um som de chocalho,
e os ossos se juntaram, osso com osso. Olhei, e os ossos foram cobertos de
tendões e de carne e depois de pele, mas não havia espírito neles. A seguir Ele
me disse: ‘Profetize ao espírito, profetize, filho do homem, e diga-lhe: Assim
diz o Soberano, o Senhor: Venha desde os quatro ventos, ó espírito, e sopre
dentro desses mortos, para que vivam’. Profetizei conforme a ordem recebida, e
o espírito entrou neles; e eles receberam vida e se puseram em pé. Era um
exército enorme! (Ez 37:7-10, NVI).
Que espetáculo! Que prova do poder
de Deus! Sem dúvida, essa visão de Ezequiel é dirigida ao nosso tempo. Ossos
secos estão por toda parte. Pessoas estão perdidas e não sabem diferenciar a
mão direita da esquerda, estão sedentas, famintas, em busca de um caminho, de
uma alternativa para voltarem à vida, para terem paz.
Mas, será que temos a fé e o poder
de Ezequiel?
Pregar para quem não quer
ouvir.
“E disse-lhes: Ide por todo o
mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16:15).
Realmente, o chamado de Deus para
pregarmos Sua Palavra é desafiador. Vivemos dias difíceis,
desonestidade, excesso de informação, egoísmo, violência e injustiça de toda
ordem.
A tendência humana é buscar coisas
temporais e, como resultado, todos nós sofremos com a inversão de valores, com
a banalização do que é sério. “Os homens se empurram uns aos outros,
contendem pelas mais altas posições” (Ellen G. White, DTN, pág. 636).
Além disso, somos chamados por
Cristo para enfrentar um grande dilema: trabalhar com palavras numa
época em que, mais do que nunca, elas se esvaziam de sentido. Pais falam e
não são ouvidos; professores falam e não são ouvidos; pastores falam e não são
ouvidos.
Mesmo entre nós, encontramos um
grande número de vidas vazias, fúteis, materialistas, sensuais, levianas,
pessoas mortas-vivas e abandonadas. Cumpre-nos pregar a elas. Em tal
situação, não há coisa melhor para quem usa a palavra do que falar com poder e
autoridade.
Mas, para isso, precisamos aprender
uma lição da experiência do vale de ossos secos: Ezequiel não foi bem-sucedido
porque tivesse habilidades especiais. Ele não foi chamado porque tivesse bons
projetos e técnicas modernas de pregação. Ele foi chamado porque tinha fé.
Será que os que são enviados, hoje,
acreditam que ossos secos podem voltar à vida?
O que se observa, com frequência, é
que, muito embora tenhamos discursos e métodos cristocêntricos, as palavras
estão perdendo a força.
Em Mateus 10:1, há excelente
paralelo entre chamado e poder. “Tendo chamado os Seus doze
discípulos, deu-lhes Jesus autoridade sobre espíritos imundos para os
expelir e para curar toda sorte de
enfermidades”. Aqui fica muito claro que Jesus chamou os discípulos e lhes
deu poder.
A identidade do discipulado é
poder para curar, para expulsar demônios. É verdade que a possessão era
muito mais comum no tempo de Cristo. Mas será que os demônios, hoje, estão
menos ferozes? Não! Eles apenas inventaram outras formas de os possuir. E
precisamos de poder para limpar os homens, para expulsar os espíritos imundos e
suas manifestações neste século. “Curai enfermos, purificai leprosos,
ressuscitai mortos, expeli demônios; de graça recebestes, de graça daí”
(Mt 10:8).
Condições.
Os versículos seguintes nos impõem
as condições desse poder: “Não vos provereis de ouro, nem de prata, nem de
cobre nos vossos cintos; nem de alforje para o caminho, nem de duas túnicas,
nem de sandálias, nem de bordão” (Mt 10:9-10). Em outras palavras, não
possuam o que o mundo chama de poder: fama, acúmulo de coisas, busca de
riquezas, status, aparência, diploma, relações políticas. Não fiquem
divididos entre seus propósitos e os propósitos de Deus.
De acordo com Tiago, o homem de
coração dividido é inconstante em tudo o que faz (Tg 1:8). Ou seja, não tem
poder. “Todo reino dividido contra si mesmo ficará deserto, e toda cidade ou
casa dividida contra si mesma não subsistirá” (Mt 12:25). Essa dualidade
tira nossa possibilidade de ter poder.
De onde vem o poder?
Será que ele vem de nossa formação
acadêmica? De nossa conta bancária?
Ou dos relacionamentos? Afinal, como
é que o poder funciona?
Voltemos ao texto de Ezequiel. O
profeta viu um vale cheio de ossos secos, pessoas mortas. Mas o que parecia
impossível aos olhos dos homens não o era para Deus. O Senhor ordenou a
Ezequiel que pregasse aos mortos. O que aconteceu? Os mortos voltaram à vida!
Essa é a mais singela descrição de
poder. O chamado, a ideia, a promessa, a mensagem, o milagre e a palavra são de
Deus. Fazer a vontade de Deus é a nossa única contribuição. Ou seja, a única
parte do homem no milagre da salvação é renunciar a si mesmo, sua opinião, seus
projetos, sua vontade e fazer o que Deus quer.
Quando Ezequiel pregou a palavra do
Senhor, os mortos voltaram à vida. Simples. Ezequiel ousou exercer
sua fé e, assim, teve mais sucesso com os mortos do que a maioria de nós tem
com os vivos.
A Bíblia afirma, por meio da
experiência de Ezequiel, que o poder está na Palavra de Deus, na mensagem de
Deus, e não nos homens.
Somente quando falamos e vivemos a
mensagem que Deus dá, milagres acontecem.
Sucesso segundo Deus.
Aos olhos de Deus, o sucesso
resume-se numa palavra: santificação. Não adianta apenas estar
inconformado com a injustiça, conhecer os meandros de tudo o que está errado e
ter uma séria preocupação com o mundo que entra na igreja.
Precisamos de uma coisa muito
impopular: reformas. Só assim, seremos uma pregação viva e
representaremos o caráter de Cristo nas mínimas coisas.
Precisamos de oração, de buscar o
conhecimento de Deus na Bíblia, de mostrar coerência entre o que pregamos e o
que somos, priorizando a entrega diária da nossa vontade e de nossos planos
a Deus.
Nada neste mundo é mais
importante que a vitória sobre o pecado e nada substitui nosso momento
particular com Deus. Os sermões que ouvimos ou preparamos não o substituem.
Nosso trabalho para Deus não o substitui, nem nossos ideais bem-intencionados.
O testemunho é nossa genuína prática
espiritual. Você testemunha sua vida de intimidade com Deus, e não suas
palavras. Você é “zero mais Cristo”. Esse é seu poder. Não é
simples?
Conclusão.
O poder é a identidade do cristão. Não
existe verdadeiro cristão sem poder. Se o cristão se santifica a cada dia
por meio da intimidade com Deus, terá poder. Santidade é a base do poder. Mas
Ezequiel nos adverte que não há santidade sem reforma, renúncia, humildade e
entrega.
Quando reconhecemos que é mediante
nossa completa renúncia que ganhamos verdadeira identidade, então teremos poder
para pregar a Palavra. Desse modo o tamanho do desafio não nos afligirá.
Jesus nos envia “como ovelhas para
o meio de lobos”, e os lobos estão famintos. Contudo, as ovelhas têm o
poder à sua disposição.
Qual é o poder das ovelhas? O poder
das ovelhas é o Pastor. “Eu sou o bom Pastor. O bom Pastor dá Sua vida pelas
ovelhas” (João 10:11).
Autor:
Valdecir Lima - professor na
Faculdade Adventista de Teologia do Unasp, Engenheiro Coelho, SP
Fonte:
Revista Adventista - Junho 2009, pág. 13.
Sem sombra de dúvida. Trata-se de uma das melhores mensagens que li nos últimos cinco anos. Assunto muito relevante para cristãos desde sempre. Passei a entender melhor porque se investe tanto em tesouros, talentos, tempo e os resultados são, em sua maioria, medíocres. Falta aquilo que nos identifica como cristãos. Falta poder!!!
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