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ORAÇÃO TRANSFORMADORA


 
           Introdução

           Gostaria de poder afirmar que sempre fui um grande homem de oração. A verdade é que a oração é uma das coisas com as quais cresci. Sendo você um cristão, deve orar.                 

           Mas algumas situações desafiadoras em anos recentes fizeram vacilar minha compreensão da oração, de modo que comecei a procurar entendê-la melhor. É difícil definir com precisão o que é a oração. Um autor anônimo declara: “O objetivo final da oração – se é que efetivamente existem outros – é reduzir o espaço existente entre nós e Deus.”

           Mas, de forma mais específica, o que faz a oração? Para obtermos certa perspectiva, observemos a vida de uma pessoa conforme apresentada no drama que conhecemos como Bíblia – o profeta Jonas. Sua história é bem conhecida. Esse profeta viveu em torno do ano 700 a.C. Deus o comissionou a ir à capital da Assíria, a arqui-inimiga de Israel, a fim de anunciar sua destruição.

Sem uma única palavra, Jonas embarca num navio não rumo à Assíria, mas a Társis. A maioria dos historiadores bíblicos concorda que Társis ficava na Espanha, a mais de 3.000 quilômetros a oeste de Nínive. Jonas estava literalmente fugindo para o limite extremo de seu mundo conhecido.

           Deus manda um violento temporal a fim de lembrar a Jonas qual é a sua missão. Como último recurso, os marinheiros concordam em lançar Jonas fora do barco, pois ele insiste em ser a própria causa do problema. A tempestade se amaina quando Jonas submerge nas águas e um grande peixe o traga, tornando-se sua “casa” durante os três dias seguintes. Um Jonas relutante e rebelde é introduzido no peixe, mas algo dramático ocorre no interior do animal – o início de uma metamorfose, uma transformação.

           Achamos a história em Jonas 2:1-8: “Ali de dentro do peixe, Jonas orou ao Senhor seu Deus, dizendo: ‘Oh, Senhor Deus, na minha aflição clamei por socorro, e Tu me respondeste; do fundo do mundo dos mortos, gritei pedindo socorro, e Tu ouviste a minha voz. Tu me atiraste no abismo, bem no fundo do mar. Ali as águas me cercavam de todos os lados, e todas as Tuas poderosas ondas rolavam sobre mim. Pensei que havia sido jogado fora da Tua presença e que não tornaria a ver o Teu santo Templo. As águas vieram sobre mim e me sufocaram, o mar me cobriu completamente, e as plantas marinhas se enrolaram na minha cabeça. Desci até a raiz das montanhas, desci à terra que tem o portão trancado para sempre. Tu, porém, me salvaste da morte, ó Senhor meu Deus! Quando senti que estava morrendo, eu lembrei de Ti, ó Senhor, e a minha oração chegou a Ti, no Teu santo Templo. Aqueles que adoram ídolos, que são coisas sem valor, deixaram de ser fiéis a Ti. Mas eu cantarei louvores e Te oferecerei sacrifícios, e cumprirei o que prometi. A salvação vem de Deus, o Senhor’” (Nova Tradução na Linguagem de Hoje).

           Um Jonas relutante, mas redivivo, eleva uma oração, um apelo do fundo do coração a seu Deus, marcando assim o início de sua transformação.

           Existem três notáveis qualidades na súplica de Jonas, três formas pelas quais as nossas orações poderão conduzir-nos à transformação pessoal.

 

           Primeira: ele sabe com quem está falando

           Em Jonas 1:8, quando estruge o violento temporal, os marinheiros começam a interrogá-lo: “Quem é responsável pelo que nos está sucedendo? A que povo pertence você?” Jonas responde: “Sou um hebreu, e temo ao Senhor, o Deus do céu, que fez o mar e a terra”.

           Para entender a transformação, temos de compreender o Transformador. Jonas podia estar irritado e confuso, mas ele não perdera de vista quem era Deus. Ao iniciar sua oração, ele sabe que está se aproximando do Soberano do Universo. Das entranhas do peixe, Jonas clamou ao Senhor seu Deus.

           Se nossas orações se tornaram fracas, ineficazes ou ritualísticas, pode ser que tenhamos perdido de vista a Pessoa com quem estamos falando. No esforço por remover o temor, temos enfatizado o “Abba”, o “Paizinho Celestial”, em detrimento do outro lado da moeda. O autor de Hebreus encerra o capítulo 12 dizendo: “Nosso Deus é um fogo destruidor.”

           O que ocorreria se o presidente do seu país escolhesse ao acaso cinco pessoas para irem ao seu gabinete, cada uma podendo ficar ali durante 15 minutos, e você fosse uma delas? Já lhe informaram previamente que durante esses minutos você poderia pedir ou perguntar qualquer coisa ao presidente.

           Ao entrar na sala, você poderia dizer rapidamente: “Senhor presidente, obrigado por manter seguro o nosso país e por fazer a economia funcionar bem. Continue a cuidar de cada um de nós e assegure-se de que haverá suficientes fundos na Previdência Social para eu receber a minha aposentadoria. Até logo!”

           Mude umas poucas palavras e dirija-as a Deus, e você estará diante de muitas das orações feitas neste nosso mundo apressado. Alguns de nós perdemos de vista a realidade de Deus, que é tanto o Paizinho Celestial quanto o Fogo Consumidor.

           Um amigo de Martinho Lutero relata o seguinte: “Certa vez ouvi-o em oração... Fazia-o com tanta reverência, como se estivesse falando com Deus, ao mesmo tempo com tanta confiança como se falasse a um amigo.” Outro autor escreveu o seguinte: “Se tão-somente parássemos para nos aperceber de que nesse privilegiado momento da oração o Criador do Universo Se dispõe a ouvir-nos, a caminhar conosco, a assegurar-nos Sua atenção não-dividida por tanto tempo quanto desejarmos, nossas vidas espirituais seriam transformadas.”

           Jonas sabe quem é a Pessoa com a qual fala, a ponto de se expressar utilizando tempos verbais no passado, embora ainda se encontre no abismo!

 

           Segunda: durante a oração ele é honesto com Deus

           Existem várias formas da palavra “oração” em hebraico, comportando várias conotações. Entre essas se encontra “palal”, usada em Jonas 2:1, cuja definição primária é “intervir, lançar-se a si mesmo no meio de”. O mesmo termo hebraico é utilizado quando os israelitas suplicam a Moisés que ore a Deus pedindo que sejam removidas as serpentes mortais.

           Trata-se de uma forma intensa de oração. Alguém disse: “Cada cristão deveria realizar uma oração agressiva pelo menos uma vez ao dia.” Esse é exatamente o tipo de oração apresentada por Jonas. Ele inicia um diálogo brutalmente honesto com Deus, lançando-se a si próprio sobre a misericórdia divina, confessando que mereceu ser tragado pelo temporal marítimo, e que chegara a acreditar que fora banido da vista de Deus. Ele fala até mesmo em haver sido “embrulhado” na embalagem das espessas e fétidas algas marinhas!

           Numa passagem de Mark Twain em “The Adventures of Huckleberry Finn”, Huck apresenta uma crise de consciência. Aqui estão suas palavras (a gramática também é dele): “Decidi orar e ver se poderia tentar deixar de ser o tipo de garoto que era e tornar-me melhor. Assim me ajoelhei. Mas as palavras não vinham... Não adiantava tentar me esconder dEle (referindo-se a Deus) e nem de mim mesmo. Eu sabia muito bem por que elas não vinham. Era porque meu coração não estava correto... Lá no fundo eu sabia que era uma mentira e Ele também. Você não pode fazer uma oração mentirosa - foi isso que descobri.”

           Jonas vivera uma mentira até esse ponto, mas num momento de catarse, ele expõe a alma nua em honesto diálogo com Deus.

 

           Terceira: ele se compromete com um curso de ação

           Essa é minha parte favorita na oração. Recapitule Jonas 2:9: “Cumprirei aquilo que votei.” Jonas encerra a oração comprometendo-se a um determinado curso de ação. Ele não lança sortes na corte divina, esperando uma resposta. Tenho problemas com a mentalidade que assevera que, pelo fato de ser impossível viver segundo os padrões da lei, devo orar: “Deus, nada sou, nada posso fazer, desta forma Te peço que o faça”. Em algumas oportunidades existe mérito e apoio bíblico para esse tipo de oração, mas com demasiada frequência tal atitude nada mais é que uma escusa. Entregamo-nos à complacência de esperar que Deus atue, liberando-nos convenientemente da responsabilidade. Dizemos: “Deus, já orei, de modo que sabes onde me encontrar. Amém!”

           Jonas dá passos ativos para redirecionar sua vida. “Senhor, sei quem sou e quem desejo ser. Estou tomando o primeiro passo nessa direção.” Esses não são passos para assegurar uma oração atendida; constituem, antes, mudanças fundamentais na forma de pensar e que resultam em ações transformadas. Esse é um dos mais poderosos efeitos da oração!

           Jonas, filho de Amitai, rebelde, confuso e amedrontado, agora reaparece vivo, focalizado e sem temor, embora ainda se encontre nadando no ventre do peixe! George Meredith, escritor do século XIX, declarou-o expressamente: “Quem se levanta da oração sendo um homem melhor, é porque teve sua oração atendida.”

 

           Conclusão

           Não estou afirmando que exista uma transformação instantânea e permanente. Jonas se compromete e avança, e então desaba novamente. Sua compreensão do caráter de Deus e de sua própria missão ainda são limitados. Quando os ninivitas creem e se arrependem, o profeta se irrita, pensando que agora tanto ele quanto Deus parecerão fracos, pois a destruição não ocorrerá. A transformação constitui tanto uma escolha diária quanto a obra de toda uma vida.

           De acordo com a Palavra de Deus e o testemunho de Jonas, se você se sente dominado pelo estresse, uma espécie de morto-vivo, cheio de dúvidas e insatisfação com aquilo que é e com sua vida espiritual, lembre-se de que você tem acesso a um recurso capaz de conduzi-lo a um novo lugar. A oração constitui o meio de transporte para a transformação.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

           Costin Jordache é membro da equipe pastoral e diretor dos ministérios de mídia na igreja da Universidade de Loma Linda, Califórnia, EUA, onde implementa vários projetos para televisão e mídia digital. Seu e-mail é: cjordache@lluc.org

 

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