Chapter two
CONQUISTA
As circunstâncias não fazem um homem: elas o revelam. À semelhança
dos saquinhos de chá, a nossa verdadeira força se manifesta quando somos
imersos em água quente. Não há nada de errado em acontecer de se ver uma bela
mulher tomando banho. Nada de errado em se reconhecer a sua atração física e
encanto dados por Deus. Nada de errado com um rápido e involuntário pulsar do
coração, uma onda de sangue viril, uma exclamação silenciosa: “Puxa”! Mas agora começa a luta, a luta com as suas
fantasias, a sua carne, a sua fé e o seu futuro.
Davi conhecia bem a lei de Deus e a sua proibição do
adultério. Ele sabia que, de acordo coma lei, uma mulher que fosse
comprovadamente adúltera podia ser apedrejada. Na mocidade, ele decorara: “Não
cobiçarás a mulher de teu próximo”. E, sem dúvida, esta não era a primeira
tentação desse tipo que ele sentia. Como jovem forte, sadio, no palácio do rei,
admirado pelas moças do reino, ele tivera o seu quinhão de seduções e
oportunidades. Mas isso era diferente – ou não? Os seus pensamentos corriam de
forma selvagem, desenfreada. “Mais bonita do que qualquer de minhas esposas.
Tão jovem, fremente, convidativa; ela me excita. Tenho sofrido tanta pressão;
mereço um pouco de relaxamento. Tenho guardado a lei de Deus por muito tempo;
uma pequena infração não é nada sério demais. De fato, pode ser que Deus me fez
andar aqui fora esta noite para que pudéssemos estar juntos. Talvez este seja o
objetivo de uma noite insone, e só uma vez... um ato... não um “caso”
prolongado. A coisa não precisa passar desta noite. E ninguém ficará sabendo;
eu tomarei as providências neste sentido”. E pergunta ao seu servo: “Quem é
aquela moça? A casa é de quem? Preciso saber”.
Nenhuma hesitação, nenhuma espera, consideração, medição
de consequências, desistência. Ele não conseguia ver além daquele momento; fora
cegado pela paixão. Um fusível começa a despedir fagulhas. Ele já podia vê-la
em seus braços.
“Ela é Bate-Seba, a esposa de Urias” – informa o servo.
Davi murmura: “E Urias está ausenta, na guerra. Tudo se encaixa tão bem. Urias
é um grande soldado, mas provavelmente não é muito bom marido ou amante – tão
mais velho do que ela – e ficará ausente por muito tempo. Esta jovem precisa de
um pouco de conforto, em sua solidão. Esta é uma forma em que a posso ajudar.
Ninguém ficará ferido. Eu não tenciono nada de errado com isto. Não é
concupiscência – que já senti muitas vezes. É amor. Não é a mesma coisa que
achar uma prostituta na rua. Deus sabe”. E ordena ao servo: “Traze-a para mim”.
Evidentemente, Davi não pensou muito. O que ele vira
incendiou a sua imaginação, e, em menos tempo do que leva para contar o que
aconteceu, ele estava alimentando uma fantasia, que se tornou uma obsessão. Ele
fora arrastado pelos seus próprios desejos; aqueles desejos conceberam, e ele
estava prenhe de pecado antes de Bate-Seba chegar ao aposento real e ficar
grávida. A tentação apela para o desejo, o desejo cria a fantasia, a fantasia
incendeia os sentimentos, e os sentimentos clamam por ação.
O OCULTAMENTO
Durante vários dias – provavelmente semanas – as coisas
continuaram como antes. Muitas vezes Davi relembrou aquela noite memorável,
embora ele e Bate-Seba tivessem jurado guardar segredo e não tivessem planejado
nenhum outro encontro. Era uma recordação particular deles, trancada só em dois
corações. Dentro de um mês ou dois os sinais: a ausência de um período
menstrual, tontura matinal, náuseas... e o segredo foi exposto. “Estou
grávida”.
Desde a época e o exemplo de Adão e Eva, o homem, instintivamente,
procura encobrir os seus rastros, “porque os seus atos são maus”. Watergate
nãofoi nada de novo. O que se pretendia fosse um prazer clandestino e
passageiro – um ato – agora requer a minuciosa estratégia do engano – uma
atitude. O fato de ter vivido uma mentira uma noite – se não for confessado
completamente, requer muitas mentiras para encobri-lo.
E a pessoa que tem reputação de integridade agora recorre
a todo tipo de engano concebível para salvar a sua pele. Viver uma mentira
torna fácil o desencadeamento de outras mentiras; de fato, elas se tornam
necessárias. “Este é o primeiro segredo que escondi de minha esposa em dezoito
anos”, confessou um esposo infiel. “Eu me sinto um miserável, tendo que
inventar tantas mentiras, visto que nunca fiz isso antes”. A estratégia é
sempre a mesma. As táticas, imemoráveis: proteja-se, culpe os outros, elimine
as evidências. Através dos séculos, o homem ainda não inventou maneiras novas
de se esconder.
E também o crente bem doutrinado que prefere ocultar em vez
de confessar conta as mesmas histórias enganosas, tanto quanto o galanteador
que nunca ouviu falar da graça de Deus. Um Davi – homem segundo o coração de
Deus – torna-se ardiloso, traiçoeiro, implacável e sem consciência.
Em um golpe de mestre, de desígnio maligno, Davi passou
rapidamente e decisivamente a fazer as três coisas ao mesmo tempo: Tragam Urias
da guerra, façam-no dormir com Bate-Seba uma noite ou duas e mandem-no de volta
à batalha. Urias gostaria de muito desse descanso; ele e todo mundo creria que
o bebê era dele e Davi estaria completamente livre do alçapão, livre do
escarmento, da culpa e da responsabilidade. Um plano engenhoso! A verdade seria
sepultada na ignorância de Urias. E teria funcionado sem empecilhos, se Urias e
Deus tivessem cooperado. Davi não contou com a integridade de seu soldado nem
coma discordância de Deus.
Urias chegou ao palácio por ordem do rei, fez um
relatório da batalha e recebeu ordens de ir para casa e descansar aquela noite.
Presentes de comida e vinho foram mandados adiante dele, para indicar que Davi
se alegrava com ele e para preparar o palco para uma noite agradável. Mas
aquele homem era um soldado na plena a acepção da palavra, e, embora
possivelmente não sentisse nenhum motivo oculto da parte de Davi, não se podia
permitir descansar e desfrutar de sua esposa enquanto os seus colegas oficiais
estavam aquartelados no campo, em uma zona de batalha. Ele dormiu na casa da
guarda do palácio.
Com decisão e ira crescentes, Davi o enviou ao segundo
estágio. “Se eu o embriagar, poderemos fazer com que ele entre em sua casa, e
então ele desejará Bate-Seba. Mesmo que ele não durma com ela, estará bêbado
demais para lembrar-se do que aconteceu, e assim tudo estará bem. Mas Urias,
embora inteiramente bêbado, dormiu outra noite com os guardas.
Toda a consideração por esse soldado leal estava se
transformando em medo e ressentimento. “Então ele precisa ser tirado da cena.
Se isto significa que eu estou me voltando contra os que me amam e me servem,
que se saivá que os meus amigos podem ser sacrificados. É assim que as coisas
são, às vezes. Eu sacrificarei qualquer pessoa – qualquer relacionamento – para
me proteger e manter a verdade amordaçada.
“Ponde Urias na frente onde for mais renhida a peleja, e
retirai-vos dele, para que seja ferido e morra”. Ele enterrou o seu pecado no
túmulo de Urias. Um “caso” extraconjugal que tem continuidade sempre necessita
de sacrifício. O sacrifício egoístico do amor, da lealdade, dos
relacionamentos, do respeito, da integridade, da consciência – e da comunhão
com Deus. “Mas isto que Davi fez desagradou ao Senhor”.
A noite de prazer que Davi gozara tornou-se um pesadelo
de dor. O seu filho morreu. A sua bela filha, Tamar, foi violentada pelo seu
meio-irmão Amom. Amom foi morto pelo seu irmão mais velho Absalão. Absalão foi
separado de Davi durante três anos, e voltou para formar uma conspiração contra
o pai. Quando finalmente Absalão foi morto, em uma emboscada, Davi rompeu em
pranto e soluçou: “Meu filho Absalão, meu filho, meu filho Absalão”.
O que modifica um homem de Deus, de forma que ele se
torne velhaco, sinistro, destruidor de tudo o que ele e as outras pessoas
prezam? O que transforma o terno e sensível amor de um homem a Deus em uma
determinação dura, implacável, de agir à sua própria maneira? As lições da
experiência de Davi são óbvias, e se aplicam a todos nós. Sublinhe-as em sua
mente e em seu coração.
1. Ninguém,
embora escolhido, abençoado e usado por Deus, está imune a um “caso”
extraconjugal.
2. Qualquer
pessoa, a despeito de quantas vitórias tenha tido, pode cair desastrosamente.
3. O
ato de infidelidade é o resultado de desejos, pensamentos e fantasias
descontrolados.
4. O
seu corpo é seu servo; se não o for, torna-se seu senhor.
5. O
crente que cair vai desculpar-se, racionalizar e encobri-lo, quanto qualquer
outra pessoa.
6. O
pecado pode ser agradável, mas nunca ser oculto de maneira eficaz.
7. Uma
noite de paixão pode desencadear anos de dor a família.
8. O
fracasso não é fatal nem final.
Todas estas lições serão abordadas nos próximos
capítulos.
O Mito da Grama Mais Verde de J. Allan Petersen, 4ª
Edição/ 1990, Juerp, págs. 27-31.
Comentários
do Nelson
Como o próprio texto afirma, todas estas [oito] lições
serão abordadas nos próximos capítulos. Somente rogo a Deus que a oitava lição
não seja encarada como uma licença para a transgressão do sétimo mandamento: “Se Deus perdoa qualquer tipo de transgressão,
inclusive a do sétimo mandamento, logo, posso pecar e pedir-Lhe perdão que Ele
irá perdoar”. Enfatizo: todo cuidado é pouco com este tipo de
racionalização.
Comentando o texto
“Desde a época e o exemplo de Adão e Eva, o homem, instintivamente,
procura encobrir os seus rastros, “porque os seus atos são maus”. Watergate
nãofoi nada de novo. O que se pretendia fosse um prazer clandestino e
passageiro – um ato – agora requer a minuciosa estratégia do engano – uma
atitude. O fato de ter vivido uma mentira uma noite – se não for confessado
completamente, requer muitas mentiras para encobri-lo”.
Aprendi há muito tempo, através da observação e
experiência própria uma grande lição de vida: À luz da palavra de Deus, se todo
mundo parasse para pensar antes de tomar qualquer atitude, por mais simples que
seja, ninguém cometeria desatinos. Ela é infalível.
Ser
cristão é isso: pautar a vida nos “assim diz o Senhor”.
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