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UMA INTRIGANTE PERGUNTA

 

"Perguntou-lhe Jesus: Que queres que Eu te faça?” (Marcos 10:51).

 

 

            Introdução

            Ultimamente muito se tem falado em missão. Pergunta-se: quanto vale uma vida?

            Reformulando a pergunta: Quanto vale uma “alma vivente” (Gn 2:7)?

            Vale o bastante para fazer Jesus desviar-se da rota rumo a Jerusalém; para quê?

            Para o cumprimento de Sua missão: “Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido” (Lucas 19:10).

 

            O contexto histórico

            Jesus estava a caminho de Jerusalém para comemorar a Páscoa. Era comum nos dias que antecediam esse grande evento religioso, a presença de uma multidão nas estradas que levavam à Jerusalém.

            Também como costumeiramente acontecia, era seguido por uma grande multidão.

            Nesse roteiro alternativo, saindo da Pereia tendo como destino Jerusalém, Jericó era a última cidade ou aldeia pela qual Ele passaria antes de chegar à cidade amada.

            Sua mente certamente devia estar cheia de preocupações acerca dos acontecimentos que os dias seguintes trariam: traição, prisão, condenação, tortura e morte.

            Considerando que segundo Lucas 3:23: “Jesus tinha cerca de trinta anos quando começou o seu ministério” e que seu ministério durou cerca de três anos; Ele tinha vindo para sua última semana de Sua vida, para o clímax de Seu trabalho, que decidiria para sempre o destino do mundo e o resultado do longo conflito com o mal, porém mesmo tendo tantas coisas com que se preocupar, ainda assim, nenhuma multidão era grande o suficiente para impedi-Lo de ouvir um grito de fé; mais que isso, um clamor.

            Dessa vez, o clamor partiu de um tal Bartimeu, que estava sentado à beira do caminho: “Jesus, Filho de Davi 1, tenha compaixão de mim!” (Marcos 10:47 – NAA).

 

            Quem era Bartimeu?

            Depende. Aos olhos humanos, um homem portador de necessidades especiais, socialmente excluído, atacado pela pobreza; alguém atingido pela ira de Deus e merecedor de infortúnio por causa de algum pecado grave 2.  Pecado este cometido por seus pais, seus ancestrais ou por ele mesmo, segundo a crença vigente naquela época.

            Se ainda hoje é difícil, imaginem nos tempos bíblicos o que era ser portador de necessidades especiais – Bartimeu era cego; cegueira essa que, segundo o Comentário Bíblico Adventista - Série Logus “o texto grego deixa claro que Bartimeu não nasceu cego, mas que se tornou um” (vol. 5, pág. 701).

            Não era chamado pelo seu devido nome, em outras palavras, era como alguém que não tinha nome; Bartimeu como o conhecemos é de origem aramaica 3 (Bar-Tim’ai) e seu significado é “filho de Timeu”. Obviamente ele possuía um nome, mas diante de sua insignificância aos olhos daquela sociedade, era mais conveniente as pessoas que o conheciam chama-lo simplesmente de “filho de Timeu” ou, como afirmam alguns estudiosos, a forma encontrada por Marcos para identificá-lo. 

            Aos olhos divinos, no entanto, foi capaz de levar Jesus a optar por uma rota alternativa a caminho de Jerusalém, a fim de ter um encontro com ele. E convenhamos, encontros com a divindade são sempre marcantes!

  

            A intrigante pergunta

            Que queres que Eu te faça?” (Marcos 10:51).

            O exemplo vem do Mestre. L. A. Weigle diz: “Jesus lançou mão do método educativo, e não do método de força política, ou de propaganda, ou do poder”. E J. A. Marquis afirma que: “A principal ocupação de Jesus foi o ensino. Algumas vezes ele agiu como curador, outras vezes operou milagres, pregou frequentemente; mas foi sempre o Mestre. Ele não se pôs a ensinar porque não tivesse outra coisa a fazer; mas, quando não estava ensinando, estava fazendo qualquer outra coisa. Sim, ele fez do ensino o agente principal da redenção”.4

            Segundo uma postagem publicada nas redes sociais, ensinar exige: Pesquisa, testemunho, novidade, metodologia, estética e ética, respeito, reconhecimento cultural, criticidade. 5 Essa é a razão pela qual na maioria das vezes investe-se tantos recursos,  de todas as ordens e tempo em nossas atividades missionárias e colhe-se tão pouco; em outras palavras, por ignorância, pragmatismo ou conveniência, desconsidera-se esses pré-requisitos tão necessários para obtenção do sucesso.  

            Dentre as várias metodologias de ensino do Mestre uma se destaca: o uso de perguntas.

             

             Ainda acera da intrigante pergunta

            Convenhamos, essa é uma pergunta muito estranha para ser feita a um cego que clama por misericórdia. Você pensaria que: Jesus já sabe o que ele deseja. Além de ser portador de necessidades especiais, Bartimeu carregava o pesado fardo do estigma religioso; todos a sua volta o viam como pecador. Vagava a esmo em Jericó, imerso em trevas. Sendo assim, para ele, a pergunta de Jesus parece soar como um novo golpe em uma ferida antiga. "Será que esse Jesus está brincando ou sendo sarcástico?", poderia ter pensado Bartimeu.

             Contudo, ele se eleva acima de qualquer melindre; não está nem um pouco preocupado com o que os outros pensam ou deixam de pensar e responde seguro, como se realmente cresse que Jesus não soubesse: "Mestre, que eu torne a ver." Jesus lhe diz: "Vai, a tua fé te salvou" (v. 52). E logo seguiu a Jesus pelo caminho. Fácil assim. Será?

 

            Que dizem os especialistas?

            Segundo um especialista na área de oftalmologia, a recuperação da visão depois do prolongado convívio com as trevas representa uma experiência perturbadora. A pessoa sente dor de cabeça e no estômago, tonteiras e enjoos, além do incômodo da luz. Quem tem essa experiência é quase compelido a pensar que ver não é o que imaginava.

            Pense agora em Bartimeu. Apertado no meio da multidão, tenta orientar-se com o velho cajado, enquanto a outra mão busca proteger os olhos da luz que o fere. Na hora de voltar para casa, ele não sabe o caminho. Daquele momento em diante, o que iria fazer? Agora ele deve trabalhar, entrar na competição da vida, mas ele não tem nenhuma profissão, não sabe fazer nada. Ainda depende das pessoas, que agora já não o querem ajudar. Em uma palavra, Bartimeu não está bem. Qual é seu problema? Ele pode ver! Ele se sentia seguro nas trevas, mas a visão o desorienta.

 

            A visão tem um preço

            Você percebe? A visão tem um preço. Podemos, afinal, entender que a pergunta de Jesus não é tão estranha, mas é difícil de ser respondida.

            Muitos preferem as trevas, porque se sentem seguros e confortáveis na escuridão. Não ver, às vezes, é conveniente.

            "Que queres que Eu te faça?", Ele nos pergunta, porque a visão não é imposta. Jesus nos desafia a ver a realidade sobre Deus e sobre nós mesmos, enxergando as distorções que devem ser corrigidas em nossa vida.

            Você pode responder: "Obrigado, Senhor! Não preciso de nada. Eu não enxergo, mas está tudo bem." “E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más” (João 3:19). Ou você pode dizer como Bartimeu: "Senhor, eu quero ver. Abre-me os olhos para que eu veja as coisas que tenho evitado por muito tempo. Mestre, eu quero ver, pois só assim posso ser Teu discípulo e contemplar a Ti, que és a luz do mundo. Abre-me os olhos, Senhor!"

            Conclusão

            Bartimeu era mendigo. Ele não tinha nada, foi seu coração que superou suas circunstâncias, que convenhamos, eram bastante adversas.

            A fé não exige olhos, ouvidos, pés nem mãos. Tudo o que é necessário é um coração ansioso para conectar-se com seu Criador.

            Sua fé perseverante foi recompensada. ... Todo aquele que sentir necessidade de Cristo como o cego Bartimeu, e que for tão sério e tão determinado quanto ele, receberá, como ele, a bênção que almeja” (Comentário de Ellen G. White, SDA  Bible Commentary, vol. 5, pág. 1.111).

            Que seja essa a experiência de cada um de nós.

            É o meu desejo e a minha oração. Amém!!!

 

 

       

Referências bibliográficas:

 

Texto criado a partir de Encontros com Deus, Meditação Diária de 2014 (versão online) de autoria do Pr. Amin A. Rodor.

 

1Filho de Davi. O uso deste título estritamente messiânico implica algum grau de reconhecimento de   

     Jesus como o Messias prometido (Comentário Bíblico Adventista, Série Logus, vol. 5, pág. 701.

 

2 – Emilson dos Reis, em MD, O Samaritano Agradecido 20/09/2023, CPB

 

3 - aramaico é uma língua semítica pertencente à família linguística afro-asiática. O nome da língua é baseado no nome de Aram,[1] uma antiga região do centro da Síria. Dentro dessa família, o aramaico pertence ao subgrupo semítico, e mais especificamente, faz parte das línguas semíticas do noroeste, que também inclui as línguas canaanitas assim como o hebraico e o fenício. A escrita aramaica foi amplamente adotada por outras línguas, sendo assim, ancestral do alfabeto árabe e hebraico moderno.

Foi a língua administrativa e religiosa de diversos impérios da Antiguidade, além de ser o idioma original de muitas partes dos livros bíblicos de Esdras e Daniel, assim como do Talmude.

O aramaico foi a língua falada por Jesus e ainda hoje é a língua materna de algumas pequenas comunidades no Oriente Médio, especialmente no interior da Síria. Sua longevidade se deve ao fato de ser escrito e falado pelos aldeões cristãos que durante milênios habitavam as cidades ao norte de Damasco, capital da Síria, entre elas reconhecidamente os vilarejos de Maalula e Yabrud, além dessas outras aldeias da Mesopotâmia, como Tur'Abdin ao sul da Turquia, fizeram com que o aramaico continuasse a ser falado até os dias de hoje. (Aramaico – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org).

 

4 – Learning to Teach from the Master Teacher pp. 76 e 77 – The Westminster Press, Filadélfia, 1913, citado por J. M. Price em A Pedagogia de Jesus – O Mestre por Excelência, pág.15.

 

5– Revista Conexão Literatura – Facebook: http://www.facebook.com/conexaoliteratura

 

 

 

 

 

 

© Nelson Teixeira Santos

Comentários

  1. PRECIOSA LIÇÃO
    "O padrão de fazer perguntas está presente em todo o ministério de Jesus. Ele preferia perguntar e permitir que Seus interlocutores tirassem suas conclusões. Que agudo contraste entre Deus e a humanidade! Os amigos de Jó queriam oferecer respostas definitivas, enquanto Deus, que as possuía, preferiu simplesmente perguntar. Que preciosa lição sobre o caráter de Deus!" (Jônatas de Mattos Leal, A ira de Eliú, Comentário da LES CPB).

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