Quando Deus nos desafia a manter a eternidade em nosso coração
Sua vida poderia ter sido
diferente. O homem que todo mundo chamava de “abençoado” não parecia ser
abençoado. Baruque havia frequentado as melhores escolas. Recebeu treinamento
em um dos melhores escritórios da corte real. Seu irmão servira como “oficial
do exército” de Zedequias (Jr 51:59), o último rei de Judá. No museu de Israel,
em Jerusalém, você pode ver uma bula, um selo de argila fechando um documento,
com seu nome e o nome de seu pai.* Sua família tinha feito parte do
estabelecimento de Jerusalém. No entanto, Baruque não se uniu à corte como um
dos escribas da realeza. A vida dele tomou um rumo diferente – um caminho cheio
de desapontamentos, perseguições e dor; permeado pela penetrante “Palavra do Senhor”.
As escolhas da vida
Certo dia, Baruque se encontrou com
Jeremias, o profeta, e de alguma forma o ministério de Jeremias se tornou
também seu ministério. Ele escreveu o que Jeremias tinha visto e ouvido (Jr
36:4; 45:1). Havia inclusive ido ao templo como porta-voz de Jeremias para ler
as mensagens de Deus quando o profeta não podia ir pessoalmente (Jr 36:5-10). Seu
envolvimento com Jeremias não lhe rendeu nenhuma nomeação lucrativa no palácio.
Ao contrário, colocou Baruque, o abençoado, no alvo de críticas intermináveis e
perseguições implacáveis. Significava viver constantemente no seu limite.
Finalmente foi forçado a emigrar para o Egito (Jr 43:1-7) e morrer longe da
terra natal. Certamente, um epílogo nada emocionante. No entanto, mais de 2.500
anos após a morte de Baruque, ainda nos lembramos dele. Sem seu ministério, o
de Jeremias não teria sido tão divulgado como foi. Não fosse seu
comprometimento com a Palavra, poucas palavras de Jeremias teriam chegado até
nós. Não podemos nos esquecer de Baruque – e Deus também não Se esqueceu dele.
É fácil questionar sobre as
escolhas de vida, quando as coisas não vão bem. Baruque certamente as
questionou. Muitas vezes, ele deve ter se sentido abandonado. De alguém íntimo
e privilegiado, ele se tornou um estranho cuja associação com o profeta de
Deus, aparentemente, não oferecia nenhuma regalia visível. Pelo menos foi o que
pensou. Um pequeno capítulo (Jr 45), escrito por volta de 605 a.C. durante o
quarto ano do reinado do rei Jeoaquim, foi exclusivamente dirigido a Baruque.Imagine
apenas por um momento: como você se sentiria se Deus enviasse uma mensagem
pessoal diretamente para você? Ela estaria em seu nome, trataria de um assunto
em particular que só você saberia, e daria a perspectiva de Deus sobre tal
assunto. Imagino que Baruque tenha ficado impressionado. O ano de 605 a.C.
marca a primeira vez que ouvimos sobre Baruque escrevendo as palavras de
Jeremias (Jr 36). Esse deve ter sido o início da amizade entre Jeremias e
Baruque. Neste mundo em que constantemente se procura pelo maior, mais amplo,
mais forte, mais longo – e tudo mais – podemos aprender lições valiosas da
mensagem de Deus a Baruque sobre o que é realmente importante:
1 - Deus sabe todas as coisas: Em momentos de
crise, muitas vezes nos sentimos isolados. Estamos feridos, lutamos para
enxergar além do problema que turva nosso dia e deixa nossa visão limitada e
interiorizada. Deus sabe disso: “Você
disse, ‘Ai de mim! O Senhor acrescentou tristeza ao meu sofrimento. Estou
exausto de tanto gemer, e não encontro descanso’” (Jr 45:3).
2 - Deus nos envolve: Deus não apenas
sabe como estamos nos sentindo e sobre o que estamos remoendo, como também está
ansioso para nos envolver e nos trazer de volta à vida. Ele sabe, tanto quanto
nós nos momentos de lucidez, que uma batalha de dimensões cósmica está sendo
travada ao nosso redor. Às vezes podemos nos sentir como peões nessa batalha.
No entanto, finalmente podemos ver que Deus está realmente no controle. “Destruirei
o que edifiquei e arrancarei o que plantei em toda esta Terra” (Jr 45:4).
Seu envolvimento ativo neste mundo e na vida de Seus filhos nos anima a
confiar.
3 - Deus nos desafia: Quando as coisas
ficam difíceis e lutamos para manter a fé, a esperança e o amor, muitas vezes
precisamos ser desafiados. Nosso Pai celestial, o Educador, Mestre e sábio
Conselheiro sabe disso: “Você deveria
buscar coisas especiais para você? Não as busque, pois trarei desgraça sobre
toda a humanidade’ diz o Senhor” (Jr 45:5). Busque aquilo que possa levá-lo
para a eternidade – podemos ouvir Deus dizer – não se concentre no que
certamente perecerá.
4 - Deus nos salva: A mensagem especial
a Baruque não termina com um desafio. Ela conclui com a promessa de salvação. Sim,
a vida pode ser difícil e podemos sentir suas contusões e desapontamentos, mas
como filhos de um Pai amoroso, podemos ter certeza de que Deus quer nos salvar
– de nós mesmos, da dor, dos ferimentos e de nossas más escolhas. “Mas Eu o deixarei escapar com vida aonde
quer que você vá” (Jr 45:5).
A eternidade em nosso coração
A história de Baruque é um bom
lembrete do grande conflito que ocorre em nossa vida. Ele não foi esquecido.
Deus o envolveu. Deus o desafiou. Deus o salvou. Ele faz o mesmo por nós. A
história de Baruque também nos desafia a olhar para o que é realmente
importante.
Enquanto estudava no Seminário
Schloss Bogenhofen, na Áustria, há quase três décadas, fui abençoado por uma
Semana de Oração ministrada pelo Pastor Kurt Hasel, um dos principais
evangelistas públicos. Seus sermões eram bem construídos; suas ilustrações, no
lugar exato; sua apresentação, graciosa – mas eu me esqueci dos seus sermões,
da maioria das ilustrações e de suas apresentações. No entanto, há uma pergunta
específica, da qual me recordo quase todos os dias. Na verdade, sempre falo
sobre ela com minhas filhas adolescentes, enquanto viajam em direção à vida
adulta pela estrada muitas vezes assustadora e desafiadora. O que fazemos hoje fará diferença para a
eternidade?
O ministério silencioso de Baruque
não lhe garantiu um imóvel numa região nobre em Jerusalém, com um bom salário
do tesouro real. Em face ao avanço do exército babilônico, ele percebeu que as
coisas que desordenam nossa vida são apenas isso: coisas. Um dia, na última
parte do século VII a.C., Baruque tomou uma decisão que fez a diferença para a
eternidade. A despeito das marcas, desapontamentos e questões não resolvidas,
ele permaneceu firme àquela decisão. Sua vida nos desafia a estar concentrados
no que é realmente importante. Seu serviço nos relembra que, de maneiras
pequenas ou grandes, nós também podemos fazer a diferença. Suas decisões nos
animam a ouvir cuidadosamente o ritmo da eternidade em nosso coração. Muito
suave, mas ainda audível, ele nos fala do amanhã sem marcas, doenças,
desapontamentos e dor. O que fazemos hoje
fará diferença para a eternidade?
* Na estampa da bula lê-se:
“Pertence a Berekyahu, filho de Neriayahu, o escriba”. Berekyahu e Neriayahu
são formas mais longas de Baruque e Neria. Veja Nehaman Avigd e Benjamim Sass,
Corpus of West Semitic Stamp Seals (Jerusalém: Academia de Ciências e
Humanidades de Israel/ Sociedade Exploração de Israel/Instituto de Arqueologia,
Universidade Hebraica de Jerusalém, 1997), p. 175, 176, bula nº 417.
Autor: Gerald A. Klingbeil
– editor associado da Adventist World
Fonte: Adventist World, portuguese edicion, Novembro/2014, CPB, p. 12,13.
Precisamos urgentemente deixar de priorizar as coisas urgentes, em detrimento das coisas importantes. Necessitamos deixar de colocar em primeiro plano as coisas mundanas, que são passageiras, aquelas coisas que irão fatalmente virar cinzas, esquecendo-nos daquelas que são visualizadas somente pelos olhos de fé – aquelas que são eternas. Eis o conselho bíblico: “Assim, fixamos os olhos, não naquilo que se vê, mas no que não se vê, pois o que se vê é transitório, mas o que não se vê é eterno” (II Cor. 4:18).
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