Introdução
O Êxodo estava em pleno andamento.
Após terem vivido quatrocentos e trinta anos (Êx 12:40), dois quais 400 como
escravos, uma nação inteira – o povo de Deus deixa o Egito, e marcha rumo a
Terra Prometida. Um grande exército composto de 603.550 soldados (Nm 1:46), sem
contar mulheres, crianças, idosos e os levitas.
Não se tratava de um amontoado de
gente buscando desesperadamente sua liberdade, mas de Deus promovendo a prometida
libertação de seu povo, feita muito tempo atrás a Abraão (Gn 15:13) e não há
exército, rei ou reino capaz de impedi-Lo. Educadamente os israelitas chegam e
pedem passagem. Quando esta lhes é negada, simplesmente o seu poderoso exército
entra em ação arrasa tudo que se encontra pela frente e segue adiante.
Objetivo da mensagem
Mostrar que Deus, em Sua
metodologia de ensino, não escreve as biografias de Seus filhos, inclusive dos
profetas, como um pai coruja, varrendo
para debaixo do tapete todas as suas jumentices (burradas). Ele as expõe abertamente
com o intuito de evitar que nós cometamos os mesmos erros; caso venhamos a
pecar não poderemos jamais atribuir culpa alguma a Deus!
A mesma notícia durante 40 anos
Ora em movimento, ora acampado, durante
aqueles quarenta anos que durou o Êxodo, o povo de Deus foi motivo de
inquietação e preocupação entre os povos daquela região.
Se existissem jornais e revistas
naquela época, certamente seriam manchete e matéria de capa quase que
diariamente.
Todos os seus movimentos são acompanhados,
inclusive por Balaque, o rei dos moabitas que os vê cada vez mais próximo de
seu reino, até que um belo dia acampam em suas planícies. A Palavra de Deus
afirma que acamparam e ficaram ali até o dia que atravessaram o rio Jordão e
entraram na Terra Prometida (Nu 22:1; 33:50-56; 36:13).
Um rei em apuros
Balaque está com um tremendo
problema em suas mãos. Ele sabe que aquele povo tem algo especial. Sabe também
que não dispõe de meios para enfrentar aquela situação sozinho. Sabe que
precisa de algo sobrenatural para solucionar o problema.
Há um texto bíblico que diz: “Deus é o
nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia” (Salmos 46:1). Então alguém dirá: “Que
bom então que Balaque foi procurar logo um profeta para livrá-lo daquela
situação!” – Errado.
Ela sabia
que por detrás daquela multidão havia um poder extraordinário atuando. Poder
que ele obviamente desconhecia a origem e que para neutralizá-lo era necessário
poder que ele não possuía, com o objetivo de expulsar os intrusos de suas
terras.
Do que Balaque
realmente necessitava era de um milagre e para ele pouco importava em nome de quem
esse milagre fosse realizado. Por conta disso, estava disposto a pagar, e pagar
muito bem pelo serviço.
É aqui que
entra em cena um dos personagens mais emblemáticos do Antigo Testamento -
Balaão.
O profeta Balaão
Não se sabe onde ele nasceu, nem de que povo
fazia parte. Usando a terminologia bíblica hebraica – um gentio, um não
israelita que por mais incrível que possa parecer era profeta do Senhor - o Deus
de Israel (Nm 22:13,18; 23:12,26; 24:13). Pode?
O povo de
Deus esteve no Egito durante 430 anos (Êxodo 12:40); 30 anos como convidado de Faraó e 400 anos escravizado
(Gênesis 15:13; Atos 7:6) e aí surge a incisiva pergunta: Balaão,
filho de Beor, estava em Petor, perto do Rio Eufrates, no território de Amave,
na Mesopotâmia – fazendo o quê?
“O profeta é uma pessoa chamada de maneira
sobrenatural e qualificada como porta-voz de Deus {...} o profeta era, em sentido especial, o representante oficial de Deus para
Seu povo na Terra {...} o profeta era
um professor da retidão, espiritualidade e conduta ética, um reformador moral
com mensagens de instrução, aconselhamento, admoestação e advertência, cuja
obra incluía, com frequência, a predição de acontecimentos futuros”
Dicionário Bíblico Adventista, Série Logos, pág. 1091.
Não se sabe
como, mas Balaque possuía essa informação acerca dos profetas e por isso Balaão
estava cheio de moral com Ele. Atentem para o versículo 6 do capítulo 22: “Eu sei que quando você abençoa alguém, esse
alguém fica abençoado e, quando você amaldiçoa, fica...” (Números 6:22).
Até então
nenhuma jumentice, mas note que em Números 31:16 Balaão aparece como alguém que
leva os israelitas a serem infiéis a Deus.
No Novo Testamento
sua história é usada como advertência contra a cobiça e a adoração de ídolos
(II Pedro 2:15-16; Judas 11; Apocalipse 2:14).
1ª Jumentice
Entre as
muitas instruções dadas por Jesus aos seus discípulos (Mateus 10:5-15; Marcos
6:7-13; Lucas 9:1-6), encontramos a ordenança de que “nada levassem para o caminho... nem dinheiro”.
Se levar
dinheiro consigo ao sair para pregar o evangelho já se constituía em coisa
abominável, reprovável por Jesus, imagine receber dinheiro, pagamento para
amaldiçoar alguém, e esse alguém, nada mais nada menos que o povo de Deus!
Aí o
cobiçoso profeta chega para os mensageiros de Balaque e diz o seguinte: “Fiquem aqui esta noite, e amanhã eu contarei
a vocês o que o Senhor me disser” (Números 22:8).
Deus veio
falar com ele e perguntou: “Quem são
estes homens que estão com você?” (Números 22:9). Balaão responde quem são
e a resposta é óbvia, um sonoro não! “Não
vá com eles, nem amaldiçoe o povo de Israel, pois é um povo abençoado”
(Números 22:12).
O rei
Balaque não se dá por vencido. Ele tem um sério problema e acha que a solução
chama-se Balaão. Acha que Balaão está se fazendo de difícil, quem sabe querendo
uma proposta mais vantajosa, mais dinheiro e então envia novos emissários a
Balaão, com uma proposta irrecusável de lhe dar muitas riquezas e tudo o que
ele quiser contanto que ele vá e amaldiçoe aquele povo.
2ª
Jumentice
Os representantes
levam a mensagem ao rei a Balaão e a história se repete: “Peço que vocês também fiquem aqui esta noite para que eu possa saber se
o Senhor tem mais alguma coisa para me dizer” (Números 22:19).
Não havia
mais nada; coisa alguma que o Senhor tivesse a dizer para o insistente Balaão.
O surpreendente nessa história é a paciência demonstrada por Deus para com seu
servo de “dura cerviz”. Durante a
noite o Senhor apareceu a Balaão e respondeu: “Já que esses homens vieram chamá-lo, apronte-se e vá com eles”
(Números 22:20).
Desta vez o
Senhor não lhe perguntou quem eram aqueles homens e para alegria de Balaão a
resposta foi sim e não, não!
Através dos
olhos da fé é possível visualizar um agora eufórico Balaão socando o ar e
pronunciando um sonoro “yes” !
A história
continua e o texto bíblico não descreve, é omisso quanto ao porque de Deus ter
ficado irado com Balaão, contudo o motivo é óbvio.
Mais uma
vez em Sua quase que infinita misericórdia Deus enviou o Seu anjo, que procurou
fazer com que Balaão desistisse daquela obra; e não se tratava de qualquer anjo;
era o próprio Cristo (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, pág. 366), que por
três vezes tenta impedir que Balaão siga em frente.
A pergunta
pertinente: Quem de fato estava agindo como jumento nessa hora?
A jumenta
vê o anjo e tenta se proteger e a seu dono de tamanha insensatez.
Balaão
pensa estar coberto de razões, cego pela avareza e ira, descarrega toda sua
fúria e toda sua indignação no indefeso animal.
Convenhamos,
como é fácil irar-se e cometer injustiças com aqueles que nos são fiéis, sendo nós
mesmos a causa do problema! Quem parece ser o irracional nessa história?
Verdadeiramente o homem desobediente a Deus é mais irracional que um
animal. Isso porque a natureza, em especial os animais, diferentemente dos
seres humanos que foram criados a imagem e semelhança de Deus, costumam
obedecer às ordens divinas sem questioná-las.
“Debaixo do Sol”, ou seja, aqui na Terra,
tudo tem limite. Até a paciência e a misericórdia divina. Deus faz com que a
jumenta fale e ela questiona o porquê do espancamento.
3ª Jumentice
A jumenta
precisou falar para que Balaão entendesse o tamanho da sua burrice.
Ele estava
tão irado, tão fora de si que nem se deu conta de estar falando com um animal.
Estava tão cego de ódio que nem percebeu que o animal que o havia carregado
durante toda sua vida estava se portando de uma forma estranha, incomum.
“E a jumenta disse a Balaão: Porventura não
sou a tua jumenta, em que cavalgaste desde o tempo em que me tornei tua até
hoje? Acaso tem sido o meu costume fazer assim contigo? E ele respondeu: Não”
(Números 22:30 – ACF).
Passados
alguns instantes, através dos olhos da fé, dá para imaginar a adrenalina retornando ao seu nível de normalidade. Agora,
após este inusitado diálogo, o profeta encontra-se em condição de enxergar e de
ouvir alguma coisa. “Então o Senhor abriu
os olhos a Balaão, e ele viu o anjo do Senhor, que estava no caminho e a sua
espada desembainhada na mão; pelo que inclinou a cabeça, e prostrou-se sobre a
sua face” (Números 22:31 – ACF).
“Então o anjo do Senhor lhe disse: Por que já
três vezes espancaste a tua jumenta? Eis que eu saí para ser teu adversário,
porquanto o teu caminho é perverso diante de mim; porém a jumenta me viu, e já
três vezes se desviou de diante de mim; se ela não se desviasse de diante de
mim, na verdade que eu agora te haveria matado, e a ela deixaria com vida”
(Números 22:32,33 – ACF).
A lição
O que ocorre a seguir com Balaão é
o que acontece conosco após um encontro com Deus, onde fica patente a nossa
insensatez, a nossa mediocridade, a nossa falta de fé, a nossa pecaminosidade e
convenhamos, não há outra coisa a fazer a não ser reconhecer nossa pequenez
diante de um Deus supremo e afirmar: “Então Balaão disse ao anjo do Senhor: Pequei, porque
não sabia que estavas neste caminho para te opores a mim; e agora, se parece
mal aos teus olhos, voltarei” (Números
22:34 – ACF).
Conclusão
Agimos de forma incorreta,
intempestiva, transgredimos a lei divina, seus mandamentos e ainda temos, a
semelhança de Balaão, o atrevimento de indagar
“se o Senhor tem mais alguma coisa
para dizer”; é óbvio que tem.
Para Balaão não havia mais nada a ser dito; mas para nós Deus
sempre tem! Basta querer; basta estar disposto a ouvir os reclamos divinos. O
acervo é enorme: bons conselheiros, bons programas, bons livros e revistas, o
Espírito de Profecia, Sua Palavra.
Que Deus nos conceda a humildade suficiente
para admitirmos as nossas burradas ou jumentices que praticamos no decorrer de
nossa experiência cristã, contudo, sem atribuir culpa alguma a Deus!
Que Deus nos livre e nos perdoe dessa
e de tantas outras insensatezes!
É o meu desejo e a minha oração.
Amem!!!
© Nelson Teixeira Santos
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