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SAN ANTONIO - TEXAS - 60ª ASSEMBLEIA GERAL DA IASD


Uma pré-reflexão sobre o pós-assembleia

            Hoje, 02 de junho de 2014 (data em que comecei redigir este artigo), sinaliza-nos que daqui a exatos 13 meses (número que os norte-americanos abominam) os olhares de pelo menos 17.6 milhões de pessoas estarão voltados para a cidade de San Antonio, no estado norte-americano do Texas, para abertura da 60ª Assembleia Geral da IASD.

            Dada sua abrangência, magnitude e relevância para o os Adventistas do Sétimo Dia – o povo que aguarda a volta do Senhor e Salvador Jesus Cristo (do qual eu faço parte); esta data já pode ser considerada histórica; sem exagero algum, comparada com a 27ª Assembleia Geral, ocorrida em Minneapolis em 1888, considerado um dos eventos mais importantes da história da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

            O que acontecerá na próxima assembleia, que nos leva a compará-la com a de 1888?  Em 1888 o tema que monopolizou a atenção da igreja foi o da justificação pela fé. De antemão, é inegável que entre 02 e 11 de julho de 2015, período em que ocorrerá a próxima assembleia, o assunto mais aguardado, comentado, discutido tanto nos bastidores e comissões, como fora deles, será o que diz respeito à ordenação de mulheres na IASD.

            Até lá muita coisa a favor e contra, será dita, produzida, escrita, editada e veiculada sobre o assunto; oportunidade ímpar que se nos apresenta para melhor conhecermos a história da nossa igreja. Mas cuidado, não devemos acreditar em tudo que assistimos, escutamos ou lemos. Gente despreparada, mal preparada, mal intencionada estará a postos com muito material que em nada contribuirá para nossa edificação. O conselho do apóstolo Paulo vem a calhar nesta hora: “ponham à prova todas as coisas e fiquem com o que é bom” (1 Tessalonicenses 5:21).  Como é que se põem prova? Através da oração pedindo por sabedoria, através de consultas e pesquisas a fontes dignas de confiança: bons livros, boas revistas, bons artigos, bons autores; sempre procurando saber a fonte, onde foi publicado, edição, ano, número, página. Por amor ao que lhe é mais sagrado, cheque a veracidade da informação!            

            O novo grande desafio para a igreja, iniciar-se-á assim que a decisão sobre ordenação de mulheres for anunciada, independentemente do resultado, podemos estar certos de que embora oficial, legal em termos eclesiásticos, ela trará consequências.
            Muito embora a decisão seja de cunho administrativo, não envolvendo crenças fundamentais (doutrinas), e por esta razão tem muita gente querendo minimizar a crise; ela afetará sim, entre outras, a área mais sensível do povo de Deus – o lado espiritual. Não sei explicar o motivo, mas ao pensar sobre o assunto me ocorreram duas passagens bíblicas:  2 Crônicas 7:14  e  Tiago 5:16.

            A crise de autoridade ainda que negada por alguns, já se instalou e será duramente testada e obviamente contestada nos mais variados níveis institucionais. A prova concreta para tal afirmação baseia-se no rompimento da União Columbia e da União do Pacífico, bem como da Associação Sudeste da Califórnia (a mesma que elegeu com 72% dos votos, a pastora Sandra Roberts como presidente).
            De nada valeram os protestos do presidente da AG, Pr. Ted Wilson que alertou através de um email que o voto não seria reconhecido pela Associação Geral. O então presidente da União do Pacífico, Pr. Ricardo Graham retificou, no entanto, que o voto estaria sendo tomado dentro das políticas da União votadas em 2012.
            As duas uniões (nos EUA), deliberaram não esperar os resultados do estudo solicitado lá em 2010 sobre o tema e tomaram votos em seu território já que pelos poderes conferidos pela Associação Geral, é a União que decide quem será ordenado.
            As decisões das Uniões antecipam uma mudança da política de ordenação prevista para 2015. Encurtando a história: Surpreendentemente, antes de qualquer retaliação ou mesmo, demonstração inoportuna de autoridade por parte da AG fosse demonstrada em resposta ao fato, ambas decidiram romper com a AG. Coube a AG num gesto simbólico informar que todas elas estão removidas. Pergunta-se: Pode uma instituição jurídica ser removida? O manual prevê apenas a remoção de pessoas físicas. Em que se baseiam estas remoções? Alegação de insubordinação eclesiástica? Ademais, ainda que se encontre respaldo para tal atitude elas se tornaram incabíveis a partir do momento em que foram as uniões tomaram a iniciativa de rompimento.
            São tantas as perguntas ainda sem respostas, entre elas: Porque estas uniões resolveram não esperar até 2015? Será que dá para esperar por “uma mudança da política de ordenação” em 2015?

            O ceticismo se faz presente. Basta revermos os antecedentes históricos: Uriah Smith em 1866; Neal C. Wilson em 1988; Assembleia Geral em 1990; Assembleia Geral em 1995. Não olvidemos o fato de que Ted Wilson é filho de Neal C. Wilson. Em outras palavras, o conservadorismo continua imperando.

            Por outro lado, como em qualquer instituição, seja ela religiosa ou não e a nossa não é a exceção; a centralização, o autoritarismo, o conservadorismo, o sectarismo, e tantos “ismos” quanto a sua imaginação permitir, fazem parte do dia a dia das mesmas.

            Alegra-nos, no entanto, o fato de que, apesar de todos os pesares, ainda que de forma bastante tímida e discreta, a liderança mundial da igreja começa a dar mostras que apontam desejo de mudança em seus procedimentos e ideologias eclesiásticos. O reconhecimento de que nem tudo em nosso meio funciona como um relógio suíço já é um bom começo. Líderes leigos (delegados) nas trienais, quadrienais, quinquenais quer seja a nível de Associação, União ou Divisão ou até mesmo nas Assembleias Gerais da AG, precisam realmente representar os anseios das comunidades que os elegeram e não meramente os interesses institucionais.     

            Foi Ella Smith Simmons, vice-presidente da Associação Geral quem disse, em entrevista concedida a Revista Adventista, por ocasião da última AG em 2010 que a maior fraqueza de nossa igreja hoje é “a lentidão para adaptar nossos processos e procedimentos aos tempos em que vivemos”. Afirmou também que a maior ameaça da igreja hoje é “a falta de coerência em relação a alguns princípios da vida cristã e questões teológicas que podem fragmentar o corpo da igreja”. – (RA I Agosto2010, pág. 10).

            Jan Paulsen, quando presidente da AG afirmou em um artigo publicado pela Adventist World: “Há ainda desafios como o tão discutido assunto do papel da mulher no ministério. Esta é uma preocupação que vem à tona de tempos em tempos, tanto em minhas conversas com jovens como durante uma recente conversa, televisionada, com um grupo de pastores da América do Norte. Alguns perguntaram: “Temos que continuar falando sobre isso?” Parece-me que sim. Podemos inclusive achar que deveríamos ter lidado com o problema de maneira diferente, desde o princípio. Entretanto, aconselhamo-nos como uma família mundial e chegamos a uma conclusão. Houve decisões a respeito, das quais todos participaram e não podemos nos desviar delas, dizendo: “Eu não gosto disso! Não importa o que os outros digam, vou corrigir no meu território o que, a meu ver, é um engano.” Não funciona assim na igreja. Antes de tomarmos um novo caminho, especialmente quando se trata de um ponto difícil e, potencialmente, divisor, deve haver amplo consenso entre a liderança, disposição para ouvir uns aos outros e para concluir que chegou o momento de pensar de maneira diferente.

A grande preocupação de muitas mulheres que se sentem chamadas ao ministério, e que possuem formação profissional para tanto, não é a ordenação, mas apenas o fato de serem admitidas e ter a oportunidade de trabalhar no ministério. As igrejas locais são relutantes e as associações encontram dificuldade para empregá-las. Essa é, em minha opinião, uma grande falha. Os jovens, tanto homens quanto mulheres, devem aceitar o chamado que Deus colocou em seu coração. Vamos necessitar de todos para concluir nossa missão e sermos recebidos por Deus na eternidade”. (Adventist World I Janeiro 2008, pág. 10).

            George R. Knight, pastor, historiador e professor de história da igreja na Universidade Andrews,  em seu sermão intitulado Se Eu Fosse o Diabo, proferido por ocasião da 57ª Assembleia Geral da IASD em Toronto do Canadá em  2000: "Se eu fosse o diabo, faria dos pastores e administradores o centro do trabalho da igreja. Faria pastores e administradores planejarem e executarem tudo sem autorizar nem capacitar os leigos para planejar e executar sozinhos e independentemente o trabalho da Igreja.
"Se eu fosse o diabo, questionaria a importância da congregação local, subestimando-a enquanto focalizasse a atenção da Igreja sobre objetivos mais distantes e abstratos.
"Se eu fosse o diabo, criaria novos níveis administrativos e geraria mais administradores. Retiraria os pastores e pregadores mais eficientes da linha de frente e os colocaria atrás de uma escrivaninha. A Igreja Adventista possui mais níveis administrativos que qualquer outra igreja no mundo! Mais até que a Igreja Católica Romana. Nós, adventistas, temos quatro níveis de administração enquanto a hierarquia Igreja Católica tem apenas dois...
"Se estivesse no lugar de Deus, encorajaria Sua igreja a usar seu tempo e energia pensando, planejando e agindo para fazer fracassar o plano do diabo."

            Como povo de Deus carecemos de paciência, de perseverança. O futuro não está em nossas mãos; a Deus pertence. Ele está no controle. “Embora existam males na igreja, e tenham de existir até o fim do mundo, a igreja destes últimos dias há de ser a luz do mundo poluído e desmoralizado pelo pecado. A igreja, débil e defeituosa, precisando ser repreendida, advertida e aconselhada é o único objeto na Terra ao qual Cristo confere Sua suprema consideração. O mundo é uma oficina em que, pela cooperação de agentes humanos e divinos, Jesus está, por Sua graça e divina misericórdia, fazendo experiências em corações humanos” (Ellen G. White, Testemunhos Seletos, vol. II, pág. 355).

            “Não há necessidade de duvidar, de temer que a obra não terá êxito. Deus está a frente da obra, e Ele porá tudo em ordem. Se, na direção da obra, houver coisas que careçam de ajustamentos, Deus cuidará, e operará para corrigir todo erro. Tenhamos fé em que Deus há de pilotar seguramente ao porto a nobre nau que conduz o povo de Deus” – (Review and Herald, 20 de Setembro de 1892).

            Deus está pilotando e “há de pilotar seguramente ao porto a nobre nau que conduz o povo de Deus”. Tenha fé. Acredite!
            Este é o meu desejo, a minha esperança e a minha oração.
            Amém!!!   



© Nelson Teixeira Santos 

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