O que devemos fazer com uma escritora que aconselha as mulheres a encurtar os vestidos em vinte centímetros, num mundo em que muitas já os usam curtos demais, ou que recomenda que as escolas adventistas ensinem as meninas a arrear e montar cavalos, quando a maioria delas nunca precisará desse conhecimento? Parte do problema é que o mundo mudou radicalmente desde o tempo em que Ellen White viveu. Esse, porém, não é o único aspecto que os leitores do século XXI precisam levar em consideração quando leem e procuram aplicar os conselhos de um profeta que viveu em tempo e lugar diferentes. Abaixo estão dez orientações que ajudarão nossa leitura dos escritos de Ellen White a se tornar mais proveitosa e equilibrada.1
1. Concentre-se
no assunto principal.
Uma
pessoa pode ler os escritos de Ellen White de duas maneiras, pelo menos. Uma é
buscando o tema central; a outra é procurando coisas que são novas e
diferentes. O primeiro modo nos leva a uma compreensão mais acurada, enquanto o
segundo leva a distorções no sentido proposto pelo autor e geralmente leva a
extremos, o que Ellen White detestava. Ela mesma defendia o estudo da Bíblia
mediante o qual os leitores procuram “ganhar conhecimento do tema central ‘da
Bíblia’”. Para ela, esse tema era o plano da redenção e o grande conflito entre
o bem e o mal. “Encarado à luz deste conceito”, o grande tema central da
Bíblia, “cada tópico tem nova significação” (Educação, p. 190, 125).
Em resumo, seu conselho era
ler para compreender o todo. O quadro geral mostra o contexto para interpretar
outros assuntos, tanto em termos de significado como de importância. Esse
princípio, além dos escritos de Ellen White, aplica-se igualmente à Bíblia,.
2. Enfatize
o que é importante.
No
início do século XX, quando alguns líderes da igreja usavam os escritos de
Ellen G. White para provar certos pontos proféticos que ela cria serem de menor
importância, ela escreveu que “o inimigo de nossa obra se agrada quando um
assunto de menor importância pode ser usado para desviar a mente de nossos
irmãos das grandes questões que devem constituir a preocupação de nossa
mensagem” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 164, 165).
3. Estude
todas as informações disponíveis sobre o assunto.
O neto
e biógrafo de Ellen White, Arthur White, destacou esse assunto quando escreveu
que “muitos têm errado ao interpretar o significado dos testemunhos tomando
declarações isoladas ou fora do contexto como base para crença.
Alguns fazem isso, mesmo que existam outras citações que, se consideradas com
cuidado, mostram que tomar posições baseadas em declarações isoladas, é
insustentável”.2
4. Evite
interpretações extremistas.
Por não
seguir as orientações que Ellen White deu, alguns indivíduos recriam essas
orientações de uma forma extremista, como eles próprios. Durante toda a sua
vida, a tendência dela foi pela moderação que, infelizmente, falta em alguns
que alegam ser seus fiéis seguidores. Por exemplo: alguns utilizam uma
declaração em que Ellen White mostra desagrado com o jogo de bola para condenar
todos os tipos de jogos, ao passo que ela mesma escreveu: “Não condeno o
simples exercício de brincar com uma bola; mas isto, mesmo em sua simplicidade,
pode ser levado ao excesso” (O Lar Adventista, p. 499). Como em muitas
situações, Ellen White foi moderada, em vez de extremista.
5. Tome
em consideração tempo e lugar.
Por
causa das mudanças no tempo e no espaço, é importante compreender o contexto
histórico de muitos dos conselhos de Ellen White. Só podemos considerar seu
conselho de encurtar o vestido em vinte centímetros como algo apropriado para
as mulheres do século XIX. Nunca poderíamos usar essa citação como se ela
tivesse escrito para o tempo da minissaia. “Quanto aos testemunhos”, Ellen
White escreveu, “coisa alguma é ignorada; coisa alguma é rejeitada; o tempo e o
lugar, porém, têm que ser considerados” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 57).
Repetidamente, ela deu esse conselho ao longo de seu ministério.
6. Estude
cada afirmação em seu
contexto literal.
Com
muita frequência, as pessoas baseiam sua compreensão dos ensinos de Ellen White
no fragmento de um parágrafo ou numa afirmação isolada, totalmente fora do
contexto. Falando sobre o mau uso que alguns fazem dos seus escritos, ela
escreveu que: “Citam metade de uma frase, e omitem a outra metade, a qual, se
fosse citada, mostraria que o raciocínio de quem assim procede, é falso”
(Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 82).
7. Reconheça
a compreensão de Ellen White sobre o ideal e o real.
Frequentemente, Ellen White
dava conselhos sobre o mesmo assunto, sob dois aspectos. O primeiro pode ser
considerado como o ideal. Nesse aspecto, as declarações não permitem exceções.
Um exemplo é o conselho em relação ao ideal de que os pais deveriam ser os
“únicos professores de seus filhos até alcançarem a idade de oito a dez anos”
(Testemunhos Para a Igreja, v. 3, p. 137). Por outro lado, quando ela trata com
situações do cotidiano do mundo, frequentemente seu conselho é ajustar as
necessidades reais do povo com suas reais limitações. Embora tenha moderado seu
conselho para que os pais sejam os “únicos” professores ao acrescentar que esse
ideal deveria ser mantido, “se” tanto o pai como a mãe desejassem fazer o
trabalho. Se não, as crianças deveriam ser enviadas à escola (Mensagens
Escolhidas, v. 3, p. 215-217).
Ellen White nunca perdeu seu senso de
ideal, mas estava pronta a acomodar seus conselhos para se adequar à realidade
do mundo. Um dos aborrecimentos de sua vida foi com aqueles que coletavam suas
afirmações do ideal procurando apenas “impô-las a todos, e, em vez de ganhar
almas, repelem-nas” (Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 284-288).
8. Use
o bom-senso.
As
citações de Ellen White não resolvem todos os problemas. Às vezes, simplesmente
não encaixam. Quando surgiram alguns problemas porque estavam mencionando suas
declarações de que os pais deveriam ser os únicos professores de seus filhos
até os 8 ou 10 anos de idade, ela respondeu dizendo que “Deus deseja que
lidemos sensatamente com esses problemas”. Ela estava sendo provocada pelos que
tomaram uma atitude dizendo: ‘Ora, a irmã White disse assim e assim, e a irmã
White falou isto ou aquilo; e, portanto, procederemos exatamente de acordo com
isso.’” Sua resposta para tais pessoas foi: “Deus quer que todos nós tenhamos
bom-senso, e deseja que raciocinemos movidos pelo senso comum. As
circunstâncias alteram as condições. As circunstâncias modificam a relação das
coisas” (Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 215, 217). Seu conselho foi que os
leitores precisavam usar bom-senso, mesmo quando tinham uma citação sua sobre o
assunto.
9. Descobrir os princípios implícitos.
Na
virada do século XIX para o XX, Ellen White escreveu que seria bom que “as
moças pudessem aprender a arrear e cavalgar” (Educação, p. 216, 217). Aquela
era uma prática em seus dias, mas não mais hoje. Os princípios implícitos nesse
conselho, entretanto, ainda são muito importantes. Ou seja, as mulheres devem
ser autossuficientes ao locomover-se. Portanto, em nossos dias, devem ser capazes
de dirigir um carro e trocar um pneu. A especificação exata do conselho pode
mudar, mas o princípio implícito tem valor permanente.
10. Tenha
certeza de que isso foi dito por Ellen White.
Muitas
declarações atribuídas a Ellen White nunca foram feitas por ela. O único método
seguro é usar declarações que podem ser encontradas em seus trabalhos
publicados ou não publicados, mas validados pelo Departamento de Pesquisas
Ellen White. Muitos têm sido desviados por declarações que ela nunca fez, mas
que são atribuídas a ela.
Os escritos de Ellen White
têm sido uma bênção a leitores em todo o mundo. E serão muito mais eficazes se
forem lidos tendo em conta as orientações acima.
1Discussão mais detalhada sobre esse assunto pode ser
encontrada em George R. Knight, Reading Ellen White: How to Understand and
Apply Her Writings (Hagerstown, Md.: Review and Herald Publishing Assn.,
1997).
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