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COMO A ARCA FOI CONSTRUÍDA



            A Terra estava prestes a ser destruída por um dilúvio. Noé e sua família, juntamente com animais, aves e outras criaturas selecionadas, deveriam ser preservados em um grande barco que deveria ser construído segundo as diretrizes de Deus. Noé deve ter empregado alguns carpinteiros, e Matusalém e seus filhos ajudaram por algum tempo.1  Matusalém, entretanto, morreu no ano do Dilúvio e seus filhos aparentemente perderam a fé e abandonaram o projeto.
            Quando Noé advertia seus vizinhos a respeito do juízo vindouro, só ouvia chacotas e zombarias. Para eles, aquela ideia era uma estupidez! Um barco em terra seca! Chuva para inundar a Terra? Nunca tinha havido chuva. Como poderia acontecer agora? De onde viria a chuva?
            Desconhecemos os detalhes de como Noé realizou um projeto tão importante. O relato nos diz que ele usou madeira de cipreste.2  Devido a problemas de tradução e mudanças na linguagem, os termos bíblicos nem sempre transmitem o significado original com exatidão. Mas Noé, sem dúvida, tinha árvores de madeira resistente para escolher. Talvez espécies que não mais existam hoje. Resquícios de árvores consideradas pré-diluvianas, aparentam ser altas e eretas; podemos ter certeza de que ele escolheu a melhor madeira que poderia haver.
            Provavelmente, Noé não tinha uma serraria para cortar madeira. É mais provável que ele e seus filhos utilizassem machados ou serras para acertar os troncos de forma muito semelhante à que os lenhadores faziam não muitos anos atrás. O acabamento poderia ter sido feito com enxós – ferramentas construídas pelos primeiros ferreiros.
            Os índios americanos, habilidosos como eram na caça, no combate e na construção de cidades-tesouros nas Américas do Sul e Central, ainda não tinham pensado na roda, no tempo em que Colombo chegou ao continente. No entanto, surpreendemo-nos com aquilo que foram capazes de realizar sem esse invento básico.  Noé e seus ajudantes realizaram grandes coisas com simples instrumentos, seguindo cuidadosamente as instruções de Deus.
            A falta de engenhosidade do povo ao tempo de Noé era compensada em tempo e força. Esses homens eram poderosos gigantes que mediam de três a cinco metros. Eles podiam facilmente lidar com toras de madeira, o que para nós seria um feito formidável.
            Imagine-os trabalhando. Jafé corta uma árvore com seu machado de ferro, elimina os ramos e carrega o tronco para o local onde a arca está tomando forma. A pesada quilha está montada. Sua estrutura interna já está bem adiantada. As vigas são de troncos quadrados, pregados como os pregos de ferro e firmados com braçadeiras de metal, iguais às que Tubalcaim ensinara a fazer séculos antes.
            As laterais da arca também são construídas com troncos quadrados justapostos, laminados, talhados e presos firmemente à armação. Não há preocupação em construir um barco leve pois não há necessidade de lançá-lo na água; a água viria até ele. Mas deve ser tão forte quanto a pressão da água e isso exige um trabalho hábil e cuidadoso. Os troncos do casco são revestidos com betume em suas junções.
            A arca era enorme, mesmo para os padrões de nossos dias. Entre as instruções dadas a Noé, a arca deveria medir 300 côvados de comprimento por 50 de largura e 30 de altura.3  Um côvado é a distância entre o cotovelo de um homem até a ponta do seu dedo indicador. O côvado mede aproximadamente 50 centímetros. Estudos a respeito das medidas das pirâmides egípcias levaram os arqueólogos a acreditar que o côvado, no tempo em que as pirâmides foram construídas, media cerca de 57 centímetros. Moisés foi educado nas escolas do Egito; portanto é possível que ele tivesse essa medida em mente quando escreveu o livro de Gênesis.
            O côvado egípcio nos daria medidas aproximadas de 170 metros de comprimento, 29 de largura e 18 de altura. O volume do espaço seria de aproximadamente 700 mil metros cúbicos, considerando as extremidades mais estreitas do barco, poderíamos arredondar para 600 mil metros cúbicos.
            A área total do piso nos três andares seria de cerca de 40 mil metros quadrados, ou com descontos, cerca de 30 mil metros quadrados. Havia também jaulas, gaiolas e ninhos. O espaço foi, sem dúvida, aproveitado ao máximo.
            Os animais maiores ocuparam provavelmente o andar inferior. O teto deveria ser alto o suficiente para acomodar elefantes, girafas ou seus ancestrais. Possivelmente, havia pássaros e animais pendurados em gaiolas próximas ao teto e passagens entre os estábulos individuais, utilizados por Noé e seus filhos, para alimentar os animais. Havia sete pares de animais limpos e apenas dois pares dos imundos.
            Se considerarmos que há mais de um milhão de espécies de animais no mundo atualmente, podemos nos admirar de como todas couberam e viveram na arca durante aquele período. No entanto, se examinarmos esse número, ele não parecerá tão grande quanto à primeira vista. Por exemplo: 800 mil dessas espécies são insetos. Eles poderiam viver tranquilamente entre os animais maiores, pois ocupam muito pouco espaço. Além disso, apenas as formas de vida animal criadas por Deus foram colocadas na arca.4  Os animais que ainda vivem  e se intercruzam vieram, provavelmente, da mesma espécie original do Gênesis. Uma vez que cães, raposas e chacais se intercruzaram, eles poderiam representar apenas um par de animais, na arca. O mesmo poderia ocorrer com a família do veado, do gato, do antílope e outros, respectivamente.
            Vamos fazer um cálculo para investigar a possibilidade de que todas as espécies do Gênesis tivessem entrado na arca. Primeiro, vamos analisar o registro de todos os animais do mundo e tentar determinar quais devem ter se originado de ancestrais comuns. Então, calcularemos o tamanho do espaço que cada espécie necessitaria para ficar confortavelmente distribuída em compartimentos de dois ou sete pares. Uma estimativa já feita calculou um total de 18.288 metros cúbicos, cerca de 3%dos 600 mil metros cúbicos disponíveis na arca. A área de piso necessária seria de 1.828 metros quadrados ou 4% do espaço disponível.
            Não podemos esperar que este cálculo seja preciso, mas deixa muito espaço para que os animais possam se movimentar, alimentar e acomodar. Assim, é perfeitamente plausível que as espécies originais pudessem ter sido abrigadas na arca.
            Quando dividimos os 18 metros de altura da arca em três compartimentos, calculamos que cada um deveria medir aproximadamente seis metros do chão até o teto. Como uma girafa adulta mede cerca de seis metros, o compartimento inferior deveria ter sete metros e os outros dois poderiam ter 3,5 cada, deixando 60 centímetros de espessura para cada piso e 2,5 metros para a parte inferior da arca. Assim, haveria espaço suficiente para estábulos, ninhos, gaiolas e o que quer que fosse necessário.
            Não sabemos o que os animais comeram enquanto estiveram na arca. É difícil imaginar os carnívoros retornando, de repente, ao regime vegetariano, mas sabemos que havia muitos animais ferozes na arca de Noé. Pode ser que a população de roedores fosse controlada pelos animais selvagens, como ocorre atualmente.  Há sempre alguns animais – pássaros e especialmente insetos – que se multiplicam tão rapidamente que medidas controladoras são necessárias para impedir que infestem seu habitat.
            Alguém sugeriu que os animais escolhidos para a arca eram novos, tornado-se, portanto, mais fáceis de controlar. Se foi assim, a quantidade de alimento deve ter sido reduzida. Prover ração para todos os animais, constituía um sério problema para Noé. Foi sugerido também que muitos animais deveriam ter hibernado durante o período em que estiveram na arca. Se isso ocorreu, muitos problemas de alimentação e cuidados foram reduzidos.
            De acordo com Gênesis 6:16, a arca tinha uma janela mas o significado do texto não está claro. Alguns comentaristas sugerem que havia uma fresta de 57 centímetros de altura, acompanhando o comprimento total do barco, bem abaixo do beiral. Isso facilitaria a ventilação, iluminação e ainda impedia a entrada da chuva. Não sabemos como a arca era iluminada. Durante os primeiros 40 dias, não havia muita luz do lado de fora.
            A arca tinha uma porta lateral que, provavelmente, abria para o segundo andar. A porta era larga o suficiente para permitir a entrada dos animais de grande porte. Ela foi lacrada por Deus sete dias antes de a chuva cair. Os animais possivelmente entraram por uma rampa, talvez a mesma usada por Noé e seus filhos para carregar o material usado na construção da arca. Dentro da embarcação havia também, outras rampas utilizadas para conduzirem ao primeiro e terceiro andares.
            Noé deveria ter armazenado grande quantidade de feno, grãos, sementes, castanhas, nozes e frutas no andar superior da arca – alimentos que se conservariam sob as condições precárias que prevaleceram durante o Dilúvio. Noé conservou ainda algumas sementes para plantar quando saísse da arca.5  Deveria haver aberturas no assoalho do celeiro através das quais o feno pudesse ser jogado para os andares inferiores. Um número significativo de animais provavelmente andava solto e se alimentava em comum. O que era desperdiçado por um, o outro aproveitava como alimento. Alguns, sem dúvida, teriam que ser alimentados em suas jaulas, especialmente os carnívoros de maior porte.
            Algumas pessoas com senso prático poderão perguntar o que Noé fazia com todo o excremento acumulado de todos os animais. É possível que o assoalho fosse feito de estrados, permitindo assim que os excrementos caíssem embaixo do andar inferior. Ali, as bactérias, os insetos, os ratos e os musaranhos agiriam arejando os dejetos, permitindo sua decomposição natural e transformando-os em substância inodora. O calor gerado ajudaria a manter comodamente os pássaros e animais. Esse sistema é usado por alguns fazendeiros, criadores de gado de corte, que consideram tal método prático.
            Alguns talvez perguntem como os homens daquele tempo puderam conceber e realizar um projeto tão grande como a arca uma vez que não havia nada parecido anteriormente. Lembrem-se de que Caim construiu uma cidade na terra de Node e lhe deu o nome de seu primeiro filho. Passaram-se séculos até se chegar aos inventivos filhos de Lameque. Apenas sabemos de modo geral as habilidades que os homens possuíam antes do Dilúvio. Eles competiam na construção de casas suntuosas tal como os homens fazem hoje em dia.
            Considere o que o homem construiu após o Dilúvio.  Ninrode ergueu uma cidade e a seguir o povo começou a construção da Torre de Babel com o intuito de alcançar o céu. Algum tempo depois, as pirâmides e as ricas cidades do Egito foram construídas com grande precisão e habilidade. Como os homens primitivos puderam cortar e polir enormes pedras com ferramentas rústicas? Transportá-las através de grandes distâncias, colocá-las umas sobre as outras tão perfeitamente? Como puderam pré-determinar a altura da pirâmide da sua base e como puderam planejá-la para tomar uma forma simétrica tão bela? É maravilhoso, sem dúvida. Não muito tempo depois, algumas das outras maravilhas do Velho Mundo foram construídas.
            Quando estudamos detalhadamente algumas das criações mais antigas do homem, podemos ter melhor ideia a respeito dos seres humanos e dos poderes físicos e intelectuais que receberam do Criador. Eram bem diferentes dos primitivos sub-humanos que muitos creem terem sido os ancestrais do homem.


Harry J. Baerg, Creation  and Catastrophe, Portuguese Edition, CPB 1992, pages 27- 32

1. Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, página 91.
2. Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, página 91.
3. Gênesis 6:15
4. Ellen G. White, Spiritual Gifts, vol. 3, página 75.
5. Ellen G. White, Spiritual Gifts, vol. 3, páginas 76 e 77.

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