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O PECADO DA CONIVÊNCIA – PARTE II



Não tenha pressa de colocar as mãos sobre alguém para dedicá-lo ao serviço do Senhor. Não tome parte nos pecados dos outros. Conserve-se puro” (I Tim 5:22 - NTLH).


            É preciso admitir que o pecado da conivência não se restringe única e exclusivamente à questões financeiras (devolução de dízimos, entrega de pactos, ofertas, etc.) dentro das instituições religiosas e suas respectivas igrejas; como toda forma de pecado, ele é muito mais abrangente. Portanto, se você acha que o pecado da conivência só acontece nas questões que envolvem dinheiro, você está redondamente equivocado e precisa urgentemente rever seus conceitos.

            Vamos tomar como exemplo algo que acontece em nosso país a cada 2 anos. Não  se sabe ao certo de onde surgiu a ideia de que em caso de eleições, nós como cristãos ou não, estamos obrigados a comparecer às urnas e votar no “menos pior” dos candidatos. Já somos por lei, obrigados a votar (salvo algumas exceções), e ainda nos é infligido mais isso!

            Há de se perguntar se votar em candidato “menos pior” está de conformidade com a vontade divina? Será que Deus nos pediria tal gesto de sacrifício?

            Evidentemente essas são perguntas retóricas. É óbvio que não e não! O padrão divino é muito elevado, mas muito elevado mesmo, tanto para contentar-se com o “menos pior” como para pedir tal coisa de Seus seguidores!

            O que presenciamos nos dias que antecederam as eleições no Brasil em 2018, foi o ressurgimento do voto de cabresto. Pasmem, em pleno século XXI, empresários do setor hipermercadista e de lojas de departamentos, entre outros, na região Sul, coagindo, induzindo, pressionando, determinando, obrigando, enfim, ordenando publicamente e através de cartas, seus funcionários a votarem em determinado candidato, sobretudo para a presidência da República.

            Convenhamos; isto não é nem política nem eticamente correto. Em outras palavras, isso é inaceitável, e pior ainda, quando isso transcende as barreiras que demarcam o profano do sagrado e passa há ocorrer dentro das igrejas.

            Alguns líderes religiosos, não se sabe, se com ou sem o consentimento das entidades a que pertencem, o fazem; alguns de forma discreta, outros abertamente (as redes sociais – outro fenômeno nessas eleições são a prova disso); não raro encontramos nelas, membros atuando como verdadeiros cabos eleitorais.

            Oportunistas, hipócritas e incoerentes a maioria deles ainda alegam que suas instituições religiosas são apolíticas. Não são; aquelas que se autointitulam apolíticas são as que mais praticam a famosa politicagem; aquela praticada na calada da noite, por debaixo dos panos, que não deixa rastro.

            Ironias a parte, até parece que se criou um novo mandamento; o 11°. Se não o fizeram é porque, pelo menos, tem a consciência de que há na Palavra de Deus uma séria advertência a todos: uma maldição para todo aquele que tirar ou acrescentar algo ao Sagrado Livro (Apocalipse 22:18-19).

            Se existisse embasamento bíblico para tal atitude, o décimo primeiro mandamento soaria mais ou menos assim: “Comparecerás às urnas e votarás; votarás no “menos pior”.
            Chame de aberração, incoerência, falsa doutrina ou, simplesmente heresia. Algo inaceitável e inconcebível à luz das Santas Escrituras. Inteire-se: Deus jamais pediria de quem quer que fosse tal procedimento!

            Antes da exposição dos textos bíblicos, cujo objetivo é fazer com que você avalie  a decisão pessoal de ter votado ou não no “menos pior”, pense e responda:
            Você já percebeu que em períodos pré-eleitorais, há por outro lado, uma espécie de silêncio sepulcral da parte das instituições religiosas quanto às questões eleitorais? A quase que totalidade opta por calar-se e como consequência, as congregações ficam desnorteadas, “como ovelhas que não têm pastor”, sem saber como se posicionar diante do caos reinante.

            Por que isso acontece? Trata-se de conivência explicita. Interesses, que se não podem ser chamados de escusos, constituem-se numa afronta aos reclamos bíblicos. Nessa hora, o corporativismo fala mais alto que qualquer outra coisa. As lideranças institucionais pretendendo manter o seu “status quo” não farão nada, absolutamente nada que venha prejudicar a relação amistosa e cordial mantida com os governantes, sobretudo na esfera federal, sejam eles quais forem, moderados ou conservadores, de esquerda ou de direita. O que importa mesmo é que suas instituições continuem sendo agraciadas com mordomias ímpares: não são taxadas, pois gozam de isenções fiscais e outros privilégios mais.

            E você perguntará: Mas onde é que o pecado da conivência se faz presente? Entenda; É interessante para os líderes manterem a boa relação com os governantes e isso implica, por exemplo, ordenar que os seus liderados nunca deixem de votar; faz parte do jogo do “toma cá, dá lá”. Quer tirar a prova? O maior desafio será encontrar um burocrata ou executivo religioso conclamando suas congregações a não exercerem o seu “direito” de votar, votar em branco ou anular o voto. A ordenança sempre será: vá votar, vá exercer o seu “direito”, vá cumprir com seu papel de cidadão, de cristão! De cristão?

            Agora falando mais sério ainda: o que você acha de tudo isso? Como você acha que Deus reage diante de tamanha injustiça? Deixar o povo de Deus “como ovelhas que não têm pastor”, é um assunto sério demais para ser tratado com tamanha leviandade. As consequências são danosas, pois podem comprometer inclusive a sua salvação.

           Desde os tempos de Moisés, passando por Jeremias, Ezequiel, Oseias, João e o próprio Jesus trataram desse relevante assunto. Enfim, não se sabe o que é mais prejudicial ao rebanho: deixá-lo abandonado, a mercê de mercenários ou tratá-lo como gado, levando-os a adotarem a postura de manada?

            Quando Jesus esteve aqui pela primeira vez, deixou-nos o exemplo de orar; até ensinou, a pedido dos discípulos, como orar. Numa outra ocasião orou a Deus pelos seus discípulos e a nós extensivamente, pedindo: “Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal” (João 17:15 - ACF).
            Tiago foi bastante enfático quando divinamente inspirado declarou: “Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tiago 4:4 – ACF).

            Você poderá argumentar que a Palavra de Deus ordena que “Todos devem sujeitar-se às autoridades governamentais, pois não há autoridade que não venha de Deus; as autoridades que existem foram por Ele estabelecidas” (Romanos 13:1 – NVI).
            A resposta para tal argumentação pode ser encontrada nas palavras da serva do Senhor: “Cumpre-nos reconhecer o governo humano como instituição designada por Deus, e ensinar obediência a essa instituição como um dever sagrado, dentro de sua legítima esfera. Mas, quando suas exigências se chocam com as reivindicações de Deus, temos que obedecer a Deus de preferência aos homens. A Palavra de Deus precisa ser reconhecida como estando acima de toda a legislação humana...” (Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, página 69).

            Somos também doutrinados a orar pelos nossos governantes, contudo, orar e respeitar não significa necessariamente votar neles, ou em algum deles!
            Aliás, como foi dito, o respeito aos governantes dar-se-á até o ponto em que as leis humanas entrem em choque com as leis divinas. A partir daí, como ordenam as Santas Escrituras: “Mais importa obedecer a Deus do que aos homens” (Atos 5:29 – ACF).

            Aí se pergunta: Quando pessoas perdem a vida em acidentes rodoviários por trafegarem em rodovias em péssimo estado de conservação; quando pessoas morrem em  nos corredores de hospitais, por falta de leitos, de medicamentos básicos, por infecção hospitalar, pela falta de médicos; quando perecem pessoas vítimas da bandidagem que impera nas grandes e pequenas cidades por falta de segurança;  por tantos outros motivos, simplesmente porque os gestores públicos corruptos desviaram os recursos que nos são assegurados pela Constituição Federal; eles estão ou não sendo coniventes com a matança de pessoas?

            Às vezes, deixamo-nos envolver com tamanha intensidade com as coisas do mundo (política é uma delas), que se tem a impressão de que nos esquecemos das palavras contidas no sexto mandamento do Decálogo – “Não matarás” (Êx 20:13 – ACF). Para o vosso conhecimento, apenas dois exemplos: Segundo levantamento do G1, só em 2017 morreram aproximadamente 60.000 pessoas no Brasil vítimas de assassinato. Isso corresponde a 9 mortes a cada minuto, em média.  O trânsito igualmente violento foi responsável pela morte de 47.000 pessoas. Ser cristão consiste em não pactuar de tamanha barbárie!

            Entenda; quando você comparece a sua seção eleitoral e vota em alguém porque alguém disse que assim você deveria proceder; porque este ou aquele candidato irão favorecer as coisas para sua igreja; porque assim fazendo iremos postergar a tão temida perseguição, você está sendo conivente com a corrupção reinante. Corrupção é pecado, e, portanto, você está cometendo o pecado da conivência!

            Ser cristão é clamar a Deus por serenidade suficiente para não se deixar levar por um banditismo sistêmico chamado equivocadamente de política!

            Acredite; muita gente perderá o Céu, simplesmente porque praticou uma religião de aparência, superficial, de segunda mão e consequentemente não teve o discernimento suficiente e se deixou levar pela maioria, acreditando naquela falácia de que “a voz do povo é a voz de Deus”.
            Faltou fé, coragem, determinação para se impor diante de tanta indecência. Essas pessoas são aquelas que no dia do Juízo Final alegarão diante do Juiz que em nome de Deus fizeram muitas coisas, operaram milagres, sinais e prodígios, contudo ouvirão da parte de dEle: “Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” (Mateus 7:23 – ACF).

            Não se deixe enganar. Deus o criou como ser moral livre. Deus te concedeu o livre-arbítrio. Cabe a você somente decidir o que fazer ou deixar de fazer. Haja com decência, com responsabilidade, ciente de que: “Deus há de trazer a juízo toda a obra, e até tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau” (Eclesiastes 12:14 – ACF).

            Atenha-se ao que o apóstolo Paulo admoesta: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma” (1 Coríntios 6:12 - ACF).

            Se você carece de sabedoria, fique atento ao conselho divino: “E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-á dada” (Tiago 1:5 – ACF).

            E mais um conselho/desejo de Deus para todos nós seus filhos e filhas: “E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará” (João 8:32 – NVI).

            Quando os perigos cercam o povo de Deus,... Ele o convida a olhar para Ele, assentado em Seu trono e dirigindo os negócios do Céu e da Terra, para que tome esperança e coragem” (SDA Bible Commentary, vol. 4, p. 128).

            E finalmente como parte integrante do texto chave: “Se alguém estiver envolvido num pecado grave, você não vai querer se tornar cúmplice involuntário, não é?” (I Tim 5:22 – A Mensagem).




© Nelson Teixeira Santos         

   

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