Jeremias 18:1-6
Introdução
Ao longo de toda a Escritura, profetas e
pregadores pintam retratos de Deus. Davi (Salmo 23), Ezequiel (Ez 34:8), João
(Jo 10:11,14,16) e Paulo (Hb 13:20)
descrevem nosso Senhor como pastor, enquanto Jesus descreve Deus como alguém
que semeia e cuida de vinhas (João 15:1-6).
Por ter sido um país tipicamente
agropastoril, ou seja, um povo cuja economia estava baseada na agricultura e na
criação de gado, pastores e agricultores eram profissões muito comuns. Essa
metodologia de ensino levou Israel a compreender essas figuras, as quais
mostravam Deus agindo por meio de Seu povo.
A Palavra de Deus também descreve
Deus como oleiro – metáfora que exploramos muito pouco.
Isaías disse: “Ó Senhor, Tu és nosso Pai, nós somos o barro, e Tu, o nosso oleiro;
e todos nós, obra das Tuas mãos” (Is 64:8).
Em Jeremias, Deus adverte Seus
filhos errantes: “Como o barro na mão
do oleiro, assim sois vós na Minha mão, ó casa de Israel” (Jr 18:6). Essa imagem, que falou claramente
na antiguidade, pode ainda falar a nós, hoje, não importa o lugar em que
vivemos.
Quando a metáfora do vaso é usada na
Bíblia, na maioria das vezes ela se encaixa em duas categorias: (a) o julgamento dos ímpios e (b) a restauração dos justos.
Quando Deus anuncia Seu julgamento,
Ele destrói o pote de barro, às vezes, despedaçando-o no chão: “Com vara de ferro as regerás e as
despedaçarás como um vaso de oleiro” (Sl 2:9; Ap 2:27).
Entretanto, o processo de
restauração de Deus assemelha-se à criação de um vaso de barro. Em
Jeremias 18, Deus, o Oleiro, está ativo em Seu propósito. Ele está na
roda de oleiro, fazendo do barro um vaso.
Deus disse a Jeremias: “Dispõe-te, e desce à casa do oleiro, e lá ouvirás as Minhas palavras”
(Jr 18:2).
Ao visitar a casa de um oleiro,
com Jeremias, também podemos aprender as lições que Deus quer nos ensinar:
Lição: 1. Necessidade do Espírito
Santo
Um dicionário bíblico
explica que o barro se torna “incrivelmente maleável à medida que se lhe
adiciona água, e mais rijo quando a mistura seca”. Sua natureza é
transformada quando tocada pela água.1 As partículas de barro
não se unirão sem a água e, se não ficarem ligadas, o oleiro não pode moldá-las.
A água – agente que amacia e une – representa o Espírito Santo.
Quando Jesus afirma que “Se alguém tem sede, venha a Mim e beba”,
João nos diz que o Mestre “disse com respeito ao Espírito que haviam de
receber os que nEle cressem” (Jo 7:37-39).
Esse Espírito, segundo Paulo,
promove a unidade entre o povo de Deus: “Esforçando-vos
diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz” (Ef
4:3).
À medida que o Espírito é concedido
aos crentes, “Ele faz com que transcendam preconceitos humanos de cultura,
raça, sexo, cor, nacionalidade e condição social”.2 O Espírito
nos une.
A primeira lição que tiramos da
casa do oleiro é que necessitamos da água do Espírito, que nos torna maleáveis,
a fim de sermos usados por Deus.
Lição 2: Ainda não somos vasos
A Bíblia nos chama de
barro e, embora haja uma similaridade química entre o barro e o vaso, as
Escrituras fazem clara distinção (teológica) entre os dois.
Podemos ter a aparência de um
vaso quando o barro é manipulado, assim como o próprio barro é um vaso em
desenvolvimento.
O vaso, por si mesmo, não endurece
ou se recicla. Quando o vaso era mal manipulado e rachava, os oleiros da
antiguidade ajuntavam os cacos e os colocavam em um local próprio, semelhante
ao lugar em que Jó se assentou enquanto coçava suas feridas (Jó 2:8).
O Vale de Hinom, do lado de fora de
Jerusalém, era um desses locais, onde toda a cidade colocava os entulhos,
inclusive, vasos quebrados. Foi ali que Deus levou Jeremias.
Como lição para Judá (e para nós),
Deus joga o vaso de barro no monte de entulhos, não apenas desprezando-o, mas
destruindo-o.
Quando Jeremias, obediente à ordem
de Deus, quebra o vaso de barro, Ele explica: “Deste modo quebrarei Eu este povo e esta cidade, como se quebra o vaso
do oleiro, que não pode mais refazer-se”, nem com fita adesiva, superbonder
ou qualquer outro agente humano. O vaso está em cacos. O “teste” acabou.
Tal como o vaso de barro de
Jeremias, cada um de nós está entre dois futuros. Ou seremos esmiuçados em
algum Vale de Hinom ou nos tornaremos vasos perfeitos, criados para ser usados
por Deus em Sua casa – ambos de caráter eterno: destruição ou serviço (Ml 4:1;
Jo 14:2, 3).
Deus, nosso Oleiro, em breve
completará em nós Sua obra criadora e terminará o tempo de modelagem.
Assim, a segunda lição que tiramos é que
ainda não somos vasos: somos barro nas mãos de Deus. Enquanto podemos ser
moldados, Deus, nosso Oleiro, continua trabalhando conosco, em nós, e dentro de
nós, moldando e construindo “segundo bem
Lhe parecer” (Jr 18:4)
Lição 3: Devemos passar pelo fogo
Para criar um vaso, os antigos
oleiros tiravam o barro da terra, jogavam no chão e pisavam nele (Is 41:25). Em
seguida, amaciavam o barro com água até formar uma pasta. Pegavam, então, o
barro amassado e jogavam com força no centro da roda de oleiro, um disco plano,
montado horizontalmente em uma barra vertical (Jr 18:3). Girando a roda e
segurando o barro com os dedos e palma da mão, a manipulação do oleiro moldava
o vaso.
Mesmo estando moldado, o vaso novo não endurecia com a luz do sol. Mesmo
que endurecesse, trincaria e quebraria quando o enchessem com líquido.
Por essa razão, os antigos oleiros
colocavam seu produto no forno, uma fornalha especial que facilmente chega a
1400° C.
Após ser pisado, amassado, socado
e rodar em velocidade vertiginosa, o barro, finalmente, era assado em um forno
bem quente.
Essa não é uma experiência prazerosa
e relaxante. Mas é isso que enfrentamos como barro. As “fornalhas” da
vida – dívida e divórcio, decadência e desordem, dor e morte – atingem a todos.
Ellen White disse: “O fato de sermos
chamados a suportar a prova mostra que o Senhor Jesus vê em nós alguma coisa de
precioso que deseja desenvolver. [...] Não lança pedras sem valor na Sua
fornalha. É o minério precioso que Ele depura.”3 Por meio de
nossas “fornalhas”, participamos dos sofrimentos de Cristo “para que também, quando a Sua glória for revelada, vocês exultem com
grande alegria” (1Pe 4:12, 13 – NVI).
Lição 4: Quanto mais quente a
fornalha, mais fino o vaso
Embora a porcelana seja
lisa, colorida e brilhante, trinca facilmente se for assada em baixas
temperaturas. Tal vaso não tem força interior necessária para resistir à
pressão ou a trabalhos mais pesados.
Vasos de pedra, muito mais duros e
fortes, suportam fornos duas vezes mais quentes. A porcelana, porém, assada entre
1000 e 1400 graus centígrados, é um utensílio mais caro e mais fino.
A porcelana
é um produto branco impermeável e translúcido.
Ela se distingue de outros produtos cerâmicos, especialmente, da faiança e da
louça, pela
sua vitrificação, transparência,
resistência, completa isenção de porosidade
e sonoridade.
O Oleiro, entretanto, não requer
que nenhum de Seus vasos suporte temperaturas elevadas arbitrariamente.
Na verdade, tipos diferentes de
vasos requerem diferentes tipos de calor, e na casa do Grande Oleiro, nenhum
vaso recebe mais calor do que necessita. Mesmo assim, a “fornalha” ainda é necessária
para produzir um vaso fino, e o produto dessa grande “dor” é a porcelana, cuja
característica é “cantar” quando golpeada.
Como João Huss e Jerônimo, que
cantaram na fogueira, ou Paulo e Silas, na prisão de Filipos, os cristãos são
porcelanas humanas. Dia após dia, pela ação do Espírito, os fiéis
desenvolvem um eco, a total rejeição da vingança, a capacidade de amar sob
pressão.
A porcelana ainda tem uma segunda
característica: quando colocada perto de uma fonte de luz, reflete seu brilho.
Do mesmo modo, após passarmos pelo fogo, refletimos a luz de Cristo nas trevas
deste mundo (Mt 5:16).
Conclusão
≡ Em Sua roda, através do
Espírito Santo, o Grande Oleiro pode moldar você. Você só precisa desejar e
consentir.
≡ Ele o vê, não como “barro
estragado”, como servo inútil ou negligente, mas como fina porcelana.
≡ Ele promete restaurá-lo
porque “Aquele que os chama é fiel, e
fará isso” (I Ts 5:24 – NVI; Fl 1:6).
≡ Deus, o Oleiro, está
esperando por você em Sua casa. Você irá ao Seu encontro?
1 Dicionário Bíblico Adventista, volume 5, página 214.
2 E. D. Nichol. ed., Comentário Bíblico
Adventista, volume
6, página 1021; cf. Crenças Adventistas do Sétimo Dia, página 175.
3 Ellen G. White, A Ciência do Bom
Viver, página
471.
4 White, O Grande Conflito, p. 109-115; Atos 16:26.
© Nelson Teixeira
Santos
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