“A lâmpada de Deus ainda não havia se apagado, e Samuel estava deitado
no santuário do Senhor, onde se encontrava a arca de Deus” (1 Samuel 3:3).
Introdução
Na história do povo de Deus, há
épocas iluminadas e períodos de apagões. Tempos de altos; tempos de baixo.
Tempos de tempestades; tempos de bonança.
Ao observar a linha do tempo, ainda que
instigados por ela, não se pode afirmar que a história seja cíclica, porém
fatos se repetem. Até certo ponto, isso significa que a história não comporta
nenhum fato singular; pelo contrário, a história é marcada pela reedição de
acontecimentos passados - ciclos.
Após a queda, registrada em Gênesis 3, a
história do povo de Deus é marcada por ciclos de pecado (períodos, sucessões). E
por quê? Porque vivemos num mundo dominado pelo pecado. São os chamados cinco
esses e tem sua origem no pecado: separação, servidão, súplica, salvação e silêncio. Um dos mais críticos está
registrado no livro de Juízes: “Naquela
época não havia rei em Israel; cada um fazia o que lhe parecia certo”
(Juízes 21:25; 17:6) – NVI).
Existem vários indicadores nas
entrelinhas do relato de 1 Samuel 3 que apontam para o escurecimento espiritual da nação. Em, outras palavras,
gradativamente Deus estava sendo deixado de lado. Deixar Deus de lado consiste
em um grande risco; mau presságio, pois está escrito: “Bem-aventurado é o povo cujo Deus é o
Senhor” (Salmos 144:15 – ACRF).
Primeiramente, o autor informa que
“naqueles
dias raramente o Senhor falava, e as visões não eram frequentes” (1Sm
3:1). Quando Deus fala, o povo sonha e tem visões. Enxerga possibilidades.
Acredita no futuro. Em suma, tem esperança. Quando o Senhor se silencia, o profeta não tem
o que dizer. Quem é o profeta? O profeta é o porta-voz de Deus. Razões para
ouvi-lo não faltam. Ele precisa ser ouvido, pois está escrito: “Crede no Senhor vosso Deus, e estareis
seguros; crede nos seus profetas, e prosperareis” (2 Crônicas 20:20 - ACRF).
A consideração de Deus por seu povo
é tamanha que levou o profeta Amós a escrever: “Certamente o Senhor DEUS não fará coisa alguma, sem ter revelado o seu
segredo aos seus servos, os profetas” (Amós 3:7 – ARCF).
Quando o Senhor não fala é
preocupante e mais preocupante ainda são as consequências: “Não havendo profecia (revelação divina), o povo perece (corrompe)” (Provérbios
29:18).
Em segundo lugar, lemos que os olhos
de Eli, o líder espiritual da nação, “estavam ficando tão fracos que já não
conseguia mais enxergar” (v.
2). Olhos fracos são sinônimos de cegueira, falta de percepção, de
discernimento, anuviamento. Se o líder
não enxergava, muito menos o povo.
O mundo carece de líderes
espirituais verdadeiros, relevantes como Moisés, Josué, Josias. Em pleno século
XXI, no meio religioso, ainda
persiste uma ideia equivocada acerca de
líder e consequentemente de liderança. Desde os dias de Eli, esta é uma triste
realidade ainda presente em nossos dias. Oséias 4:6-11 que o diga. Se assim não
fosse, qual seria a razão do conselho dado por Deus à igreja de Laodicéia: “Aconselho-te... que unjas os teus olhos com
colírio, para que vejas” (Ap 3:18 – ARCF)?
Em terceiro lugar, é dito que “a
lâmpada de Deus ainda não havia se apagado” (v. 3). Aparentemente, esse
detalhe é positivo. Porém, a luz do templo nunca deveria se apagar, pois
simbolizava a luz de Deus; em última instância, a presença divina. Apagar uma luz que deve brilhar
permanentemente é preferir a escuridão. Lamentavelmente tem sido assim ao longo
de toda história; uma luta constante, incessante. Na tentativa de equilibrar as
coisas Deus enviava seus servos, os profetas, na maioria das vezes com
mensagens de advertência, contundentes, incisivas e por esta razão sofriam toda
sorte de maus tratos. Finalmente, no devido tempo Deus enviou seu próprio filho
e o que foi que aconteceu? Está escrito: “E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os
homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más” (Jo 3:19 - ACRF).
"Muitos preferem as trevas,
porque se sentem seguros e confortáveis na escuridão. Não ver, às vezes, é
conveniente. “Que queres que Eu te faça?", Ele nos pergunta, porque a
visão não é imposta. Jesus nos desafia a ver a realidade sobre Deus e sobre nós
mesmos, enxergando as distorções que devem ser corrigidas em nossa vida. Você
pode responder: "Obrigado, Senhor! Não preciso de nada. Eu não enxergo,
mas está tudo bem." Ou você pode dizer como Bartimeu: "Senhor, eu
quero ver. Abre-me os olhos para que eu veja as coisas que tenho evitado por
muito tempo. Mestre, eu quero ver, pois só assim posso ser Teu discípulo e
contemplar a Ti, que és a luz do mundo. Abre-me os olhos, Senhor!" -Amin A. Rodor, Encontros
com Deus, MD 3172014.
Em quarto lugar, descobrimos que “Samuel
ainda não conhecia o Senhor. A palavra do Senhor ainda não lhe havia sido
revelada” (v. 7). O líder antigo já não recebia a mensagem divina, e o
novo ainda não tinha familiaridade com a
voz de Deus. Havia um vácuo de revelação.
Uma das passagens mais intrigantes
e impactantes da Bíblia encontra-se em Gênesis 22: “E aconteceu depois destas coisas, que
provou Deus a Abraão, e disse-lhe: Abraão! E ele disse: Eis-me aqui. E disse:
Toma agora o teu filho, o teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à
terra de Moriá, e oferece-o ali em
holocausto sobre uma das montanhas, que eu te direi” (Gênesis 22:1,2 – ACRF). Abraão
conhecia o decálogo ou não? É óbvio que sim. É lá que está escrito: “Não
matarás” Êx 20:13). Que garantia possuía Abraão que aquela voz que lhe falava
era de Deus?
Trazendo a questão toda para os
nossos dias surgem mais perguntas ainda, entre elas: Como reconhecer a voz de
Deus em meio a tantas vozes que ouvimos no decorrer do dia? A palavra chave é
COMUNHÃO! O passo seguinte vem através do profeta Isaías: “E os teus ouvidos ouvirão a
palavra do que está por detrás de ti, dizendo: Este é o caminho, andai nele,
sem vos desviardes nem para a direita nem para a esquerda” (Isaías 30:21 – ACRF)
Por fim, Deus se revela a
Samuel, mas o conteúdo é triste: “Vou realizar em Israel algo que fará tinir
os ouvidos de todos os que ficarem sabendo” (v. 11). Deus julgaria a
família de Eli por causa dos atos desprezíveis de seus filhos. A ação divina
seria proporcional à omissão humana.
Conclusão
Se o capítulo 3 de 1 Samuel
descreve o crepúsculo de Israel, o capítulo 4 pinta a escuridão da calamidade.
“Israel perdeu 30 mil homens de
infantaria” (4:10), os dois filhos de Eli morreram e a arca de Deus foi
tomada (v. 11). Ao saber da notícia, o pesado sacerdote de 98 anos caiu para
trás e morreu. Antes de morrer, a nora deu ao filho recém-nascido o nome de
Icabode, para marcar o momento escuro. “A
glória se foi de Israel” (v. 21), suspirou.
Contudo, o capítulo 3 termina com
uma nota de esperança: “O Senhor continuou aparecendo em Siló, onde
havia se revelado a Samuel por meio de sua palavra” (v. 21). A luz de
Israel estava se apagando, mas voltaria a brilhar. Todo crepúsculo é a promessa
de uma nova aurora. O salmista Davi
conhecia muito bem o assunto quando escreveu: “Porque não passa de um momento a sua ira; o seu favor dura a vida
inteira. Ao anoitecer, pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã”
(Salmos 30:5).
Vivemos dias para lá de
conturbados. Não só o nosso país, o mundo todo está mergulhado em crises de
todos os tipos. Ainda assim somos privilegiados. Temos a esperança na promessa
feita por nada mais nada menos que o Criador do Universo de que... “E tenho a certeza de que Deus, que começou essa boa
obra na vossa vida, vai completá-la até ao momento em que Jesus Cristo voltar” (Filipenses 1:6).
É o meu desejo e a minha oração.
Amém!!!
©Nelson Teixeira Santo
Comentários
Postar um comentário