“O Senhor não retarda a sua promessa, ainda
que alguns a têm por tardia; mas é longânimo
para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a
arrepender-se” (2 Pedro 3:9).
Introdução
Há algum tempo atrás estava
selecionando artigos para preparação de mais uma mensagem – um sermão, quando
me deparei com a seguinte citação acerca de líderes há muito tempo a frente de
suas congregações: “Não é de se admirar
que os crentes mais ativos e criativos sejam, muitas vezes, os mais carrancudos
e intolerantes” (Alexandre
Ramalho da Silva, em A Síndrome de Elias).
Tal afirmação levou-me a pensar: Intolerante
eu? Após uma breve reflexão cheguei a conclusão que precisava rever urgentemente
meus conceitos, pois sem me dar conta estava enveredando pelos caminhos da intolerância.
Positivamente falando é possível
substituirmos a palavra intolerância por outra mais light. Por exemplo: tolerância; mas aí surge um problema. A maioria
das versões bíblicas (para não dizer todas as consultadas), não fazem uso de
tal palavra.
Isto significa que a Palavra de
Deus não trata deste assunto?
De modo nenhum. As Santas
Escrituras empregam outras palavras: paciência; paciente; tardio em irar-se;
lento para a cólera; longânimo; longanimidade.
A Pequena Enciclopédia Bíblica O. S. Boyer
define longanimidade como: Paciência
para suportar ofensas. Não só por dedução então, mas pelo que a Palavra de Deus
afirma, somos levados a concluir ou crer que Deus é longânimo.
Deus é longânimo
A longanimidade de Deus pode ser
encontrada em diversas passagens do AT: Êx 34:6; Nm 14:18; Sl 86:15; 103:8; Is
48:9; Na 1:3 sendo que a palavra empregada transmite a ideia de lentidão para a
ira e para punir o erro. No NT Rm 2:4; 3:35; 9:22; II Pe 3:15 duas palavras
utilizadas literalmente traduzidas como grandeza de ânimo – para amar e
esperar, perdoar e esquecer, tolerância,conter, fazendo referência ao juízo.
A longanimidade divina
manifesta-se quando Deus retarda, temporariamente, o merecido julgamento e
continua ofertando salvação e graça por longos espaços de tempo, dando oportunidade
para arrependimento e conversão. Exemplos: nos dias de Noé, com o antigo
Israel, através dos profetas (reinos do Norte e Sul, antes do cativeiro) e em
nossos dias, com o mundo antes da volta de Jesus.
A longanimidade de Jesus
Quando Jesus habitou na Terra o
exercício da longanimidade foi percebido no seu modo de tratar com os seus
discípulos. Ele teve de lidar com pessoas imaturas, que haviam tido na vida um
desenvolvimento errado e falho; alguns deles eram governados apenas por
impulsos – impetuosos.
Mas o Mestre não só teve que lidar
com pessoas de caráter subdesenvolvido e de fortes impulsos, mas também de
acentuadas tendências para o pecado. Lidou com pessoas desafiadas pelas
perplexidades e problemas da vida que O procuravam para que Ele os resolvesse.
Com gente ignorante, provenientes
das baixas camadas da sociedade, gente que não estava preparada para
compreender muitas coisas, uma vez que a mente deles não estava habilitada a
assimilar toda a verdade.
Como ensinar verdades espirituais,
que só se discernem espiritualmente, para gente que possuía uma concepção muito
materialista da vida e a ideia ritualista acerca da religião? Se tudo isso já
não bastasse, eram cheios de preconceitos e instáveis.
Se um dia Ele nos disse: “Porque eu vos
dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também” (João 13:15 – ACF). Logo, nós também
devemos ser pacientes para com aqueles que estão a nossa volta; contudo isto
apenas será possível se o Espírito Santo habitar em nosso ser. Somente
Ele é capaz de operar este milagre!
A longanimidade do cristão
Uma vez que tal virtude está
condicionada ao cumprimento de um pré-requisito tão importante – devemos ser o
templo do Espírito de Deus; certamente o é por uma razão muito importante
também, qual seja, a salvação; nossa e dos que estão ao nosso redor.
Carecemos ser pacientes com os fracos
No final da epístola aos romanos,
Paulo ao tratar da ética cristã, mencionou como deve ser a relação entre
cristãos fortes e fracos. Cristãos fortes são aqueles maduros em sua
experiência cristã. Os fracos são imaturos em suas convicções, incultos e até
equivocados; contudo, não devem ser ignorados ou censurados. A igreja (comunidade
cristã) deve acolhê-los sem discussões, debates ou julgamentos, respeitando
suas opiniões (Rm 14:1).
Por que eles devem ser aceitos?
1° - Porque o próprio Deus os acolheu (Rm 14:2-3);
2° - Porque Cristo morreu e ressuscitou para ser o Senhor (Rm
14:4-9);
3° - Porque eles são nossos irmãos (Rm 14:10);
4° - Porque todos nós compareceremos diante do tribunal de Deus (Rm
14:10-13).
Como bem observou o pastor e
teólogo anglicano britânico John
Robert Walmsley Stott: “No essencial, unidade; em coisas não
essenciais, liberdade; em todas as coisas, caridade”.
Devemos ser pacientes quando anunciamos o evangelho
Os evangelistas acabam por descobrir
na prática o que a Bíblia atesta há séculos.
Sempre que o evangelho for
anunciado três coisas podem acontecer:
1° - Rejeição – Quem
ouve decididamente não aceita. A história do moço rico que foi ter com Jesus se
encaixa nesta categoria (Mt 19:16-22).
2° - Procrastinação – No
momento a pessoa não aceita, contudo, algum tempo depois diz “sim” Jesus como
seu Senhor e Salvador pessoal. O exemplo clássico real da Bíblia é encontrado
na pessoa de Nicodemos (João 3:1-21).
3° - Aceitação – O
evangelho é aceito sem mais tardar – imediatamente. Este foi o caso da mulher
samaritana (João 4:1-43).
A aceitação ou não do evangelho,
a rapidez ou a demora para que isso ocorra não dependem apenas de Deus ou do
mensageiro, mas em grande parte da
disposição do coração daquele que o recebe. Jovens são mais suscetíveis à
aceitação da verdade de que as pessoas mais vividas. Isto acontece porque as
pessoas costumam filtrar os conhecimentos que recebem. Mais experiência, mais
filtros; menos vivência, menos filtros.
Portanto, é de se esperar que a conversão do
jovem seja mais fácil e rápida do que a do mais experiente.
Necessitamos desenvolver a paciência
Desenvolvê-la por quê? Porque nós não
nascemos com ela. Nessa busca por paciência ou longanimidade podemos contar com
a ajuda divina.
Sabe aquela pergunta recorrente ao
longo da história humana: Porque sofremos? Aí está uma das razões pelas
quais Deus nos permite passar por provações, por desafios e por dificuldades – cultivar
um caráter paciente,constante e a desenvolver a maturidade cristã. Foi o
apóstolo Paulo quem escreveu: “Também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a
tribulação produz a paciência, e a paciência a experiência, e a experiência a
esperança”(Romanos 5:3,4). Em outras palavras: Paciência tem a ver com
santificação, pré-requisito básico para alcançarmos o Céu. (ver Hebreus 12:14).
Precisamos saber que a paciência tem limites
Onde está seu espírito cristão?
Ser cristão significa ser capacho
dos outros?
Você tem pavio curto ou longo?
Qual é o tamanho do pavio divino?
“Deus é longânimo e não quer que ninguém pereça; mas sua paciência tem limite, e quando o limite
for ultrapassado, não haverá segunda chance. Sua ira se manifestará e Ele
destruirá sem escape”. SDA Bible Commentary, volume 7, página
946.
Comentando sobre o
assunto, Ellen G. White declarou: “Passado
o período de nossa prova, se formos achados transgressores da lei de Deus,
encontraremos no Deus de amor um ministro de vingança. Deus não se
compromete com o pecado. Os desobedientes serão punidos. [...] O amor de
Deus agora se expande para incluir o mais baixo e vil pecador que, contrito,
venha a Cristo. Estende-se para transformar o pecador num obediente e fiel
filho de Deus; mas nenhuma alma pode ser salva se continuar em pecado. O pecado
é a transgressão da lei, e o braço que é agora poderoso para salvar, será forte
para punir quando o transgressor ultrapassar as fronteiras que limitam a
paciência divina” (Mensagens Escolhidas, vol. 1, pág. 313).
É óbvio que não é
correto ter pavio curto, estourar rapidamente; contudo é parte do fruto do
Espírito ser longânimo.
Conclusão
“Portanto, Deus é longânimo para
com os homens e para conosco, individualmente. Por essa razão, Ele nos concede
tempo suficiente para o arrependimento e a mudança de vida; para formarmos um
caráter como o de Cristo. Aproveitemos a oportunidade e permitamos que o Seu
Espírito nos faça pacientes em nossos relacionamentos”. Emilson dos Reis,
Depois do Perdão, pag. 60.
Sejamos mais pacientes, mais
tolerantes, mais longânimos.
É o meu desejo e a minha oração.
Amém!!!
© Nelson Teixeira
Santos
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