“Meu povo está arruinado porque não sabe
o que é certo nem verdadeiro. Vocês viraram as costas para o conhecimento, por
isso eu virei as costas para vocês, sacerdotes. Vocês se negam a reconhecer a
revelação de Deus, Por isso já não reconheço seus filhos” (Oséias 4:6 – A Mensagem).
É digno de nota que em 40 anos de
igreja nunca vivenciei um momento assim. Até parece que estamos vivendo um
período pré-eleitoral. Estamos?
Como já havia dito em outro artigo
publicado em meu blog “Até lá [60ª Assembleia
Geral] muita coisa a favor e contra, será dita, produzida, escrita, editada e
veiculada sobre o assunto [ordenação de mulheres]; oportunidade ímpar que se
nos apresenta para melhor conhecermos a história da nossa igreja. Mas cuidado,
não devemos acreditar em tudo que assistimos, escutamos ou lemos. Gente
despreparada, mal preparada, mal intencionada estará a postos com muito
material que em nada contribuirá para nossa edificação. O conselho do apóstolo
Paulo vem a calhar nesta hora: “ponham à prova todas as coisas e fiquem com o
que é bom” (I Tessalonicenses 5:21)”.
Dois fatos atuais pertinentes ao
assunto são no mínimo intrigantes:
O primeiro diz respeito ao fato de “personagens célebres
adventistas”, agora jubilados, começam a se manifestar contra ou a favor da
ordenação de mulheres.
Nada contra tal posicionamento;
afinal de contas estão exercendo o livre arbítrio facultado por Deus a todos os
seres humanos indistintamente; inclusive aos pastores; o problema é que esses
ditos “cabos eleitorais” cobram dos membros, um posicionamento segundo suas
preferências. Será que é possível deixar a politicagem para os políticos?
Cá entre nós, uma vez que este
assunto já se arrasta por um século e meio por que tomaram esta decisão só
agora? Por que não atuaram assim quando estavam na ativa? Talvez a situação não
tivesse chegado a tal ponto (igreja polarizada em torno da questão). Maldito
corporativismo!
O segundo tem a ver com a quantidade de vídeos corporativos, repletos
de bajuladores, com conteúdo para lá de apelativo, apregoando a tão propalada (com
o perdão da redundância), unidade na diversidade.
Concorda-se plenamente de que o
idioma português não é de fácil compreensão, porém confundir uniformidade com
unidade é inaceitável. Se para a DSA, em perfeito alinhamento com a AG, unidade
na diversidade significa sair em defesa da posição
1, conclui-se que definitivamente que a instituição na América do Sul não
sabe a diferença entre uma coisa e outra. Se sabe, maldita ambiguidade!
Pior que isso, só mesmo a
unanimidade “orientada” em torno da referida posição, repassada aos delegados
da DSA eleitos para próxima Assembleia Geral, pois reza um velho
adágio popular : “a unanimidade é burra”.
A Palavra de Deus encerra um
princípio que as lideranças evangélicas de modo geral (e a nossa, infelizmente,
não é a exceção), insistem em olvidar: que não é pela força, nem através do
poder, nem pela violência, que se consegue as coisas no Reino de Deus, mas pelo
Espírito Santo (atentem para quem manda e assina o recado), nada mais nada menos
que “o Senhor dos Exércitos” (Zacarias
4:6). Até quando?
Ser cristão é um privilégio que implica em direitos e deveres, indistintamente,
porém a responsabilidade dos pastores, como líderes espirituais é muito maior. Cabe
a eles, entre outras coisas: alimentar, educar, guiar o rebanho do Senhor por
caminhos seguros; quando isto não acontece, e as posições são determinadas pela
conveniência ou praxes institucionais, as consequências são inevitáveis e
desastrosas, como Oséias de forma tão impressionante e contundente registrou cerca
de 730 anos a.C.:
“Mas
não tentem culpar ninguém. Nada de apontar o dedo! Vocês, sacerdotes, são os
que estão no banco dos réus. Vocês ficam tropeçando por aí em plena luz do dia.
Em seguida, os profetas assumem e tropeçam a noite inteira. Sua mãe é tão má
quanto vocês. Meu povo está arruinado porque não sabe o que é certo nem
verdadeiro. Vocês viraram as costas para o conhecimento, por isso eu virei as
costas para vocês, sacerdotes. Vocês se negam a reconhecer a revelação de Deus,
Por isso já não reconheço seus filhos. Quanto mais sacerdotes, mais pecado.
Eles transformam a glória em vergonha. Eles se alimentam dos pecados do meu
povo. Não conseguem esperar para ver o que há de mais novo em maldade. O
resultado: tal sacerdote tal povo; tal povo tal sacerdote. Estou para fazer que
ambos paguem por seus atos e assumam as consequências por sua vida pecaminosa.
Eles comerão e, mesmo assim, continuarão famintos; terão relações sexuais e não
ficarão satisfeitos. Eles bateram a porta na minha cara, na cara do Eterno, e
saíram por aí para festejar com prostitutas!” (Oséias 4:4-10 – A Mensagem).
Por
outro lado, exercendo o papel que lhe cabe, a instituição adventista, através
da TOSC (pela falta de consenso em torno da questão) já deliberou que em San
Antonio – Texas, durante a 60ª Assembleia Geral, três posições serão colocadas
em votação; sendo:
“Posição 1: Enfatiza as
qualificações bíblicas para a ordenação como encontradas em 1 Timóteo 3 e Tito
1, bem como o fato de que, na Bíblia, as mulheres nunca eram ordenadas como sacerdotes, apóstolos ou
anciãos. Por isso, conclui que a Igreja Adventista do Sétimo Dia não tem
base bíblica para ordenar mulheres.
Posição
2: Enfatiza os papéis de liderança de
mulheres tanto no Antigo como no Novo Testamento, como Débora, Hulda e Júnia, e
passagens bíblicas em Gênesis 1 e 3, e Gálatas 3:26-28 que declaram que todas
as pessoas são iguais aos olhos de Deus. Portanto, conclui que o princípio
bíblico de igualdade permite à Igreja Adventista ordenar mulheres para cargos
de liderança na igreja sempre que possível.
Posição
3: Apoia a Posição 1 ao reconhecer o
padrão bíblico de liderança masculina em Israel e na igreja cristã primitiva.
Mas, também enfatiza que Deus fez exceções, como no caso de conceder um rei a
Israel, quando esse foi o desejo do povo. Esta posição conclui que a
ordenação de mulheres é uma questão política da igreja e não um imperativo
moral. Portanto, a Igreja Adventista deve permitir que cada campo decida se
deve ou não ordenar mulheres”. Revista Adventist World, edição
Novembro/2014
O próprio presidente da AG, Pr. Ted
Wilson apela aos membros da igreja para que examinem as três posições
apresentadas no fim do relatório da TOSC: "Examine todas as apresentações para compreender o que Deus está falando
a você pela Palavra e por meio de sua caminhada diária com Ele.”
Primeiro apelo:
Por favor, não ajamos como
neófitos. O contexto aqui é outro, mas permite-nos aplicar o princípio contido na epístola de
Paulo aos Romanos, capítulo 14 versículo 3, até porque, independentemente da
decisão que venha a ser tomada por ocasião da próxima AG, o estrago causado pela
demora em se tomar uma atitude para por fim a crise já se instalou. A ruptura institucional em
termos administrativos é uma lamentável realidade, e certamente, dependendo da
decisão que venha ser tomada durante a AG, irá se intensificar, por um tempo,
agora impossível de ser mensurado e de consequências imprevisíveis, alcançando
inclusive a igreja de Deus descrita em 1 Pedro 2:9.
Segundo apelo:
Por amor ao que lhes é mais sagrado,
não “orientem”, não induzam, não coajam, não exerçam qualquer tipo de pressão
sobre aqueles (os delegados) que terão a solene responsabilidade de traçar os
destinos da igreja para os próximos cinco anos e quiçá, para a eternidade.
A ética cristã é ferida especialmente
quando líderes na tentativa de persuadir irmãos a adotarem esta ou aquela
posição, defendida por eles, passam a criticar quem não pactua da sua, bem como
a utilizar-se de métodos pouco ortodoxos na tentativa de persuadi-los. Que a
única interferência seja aquela propiciada pela inferência do Espírito Santo!
Terceiro apelo:
Ao longo dos quase 150 anos faltou
da parte da instituição, seriedade, serenidade, sinceridade, transparência,
humildade, boa vontade, vontade política, para solução desta questão. É
incontestável a responsabilidade da mesma sobre esta delicada questão (aliás,
vista como problema pela instituição).
Cabe a ela, somente ela, agora, de
uma vez por todas, dar o respaldo legal e toda forma de subsídios para que os
delegados possam exercer livre e dignamente a responsabilidade que lhes está
sendo confiada. Também se espera, que ninguém, mas ninguém mesmo venha a
culpar-lhes pelos eventuais desdobramentos que esta votação venha ocasionar. Consequências
certamente virão e terão que ser administradas sabiamente. É o preço a ser pago
por 150 anos de procrastinação!
O que fazer?
Orar. Orar para que Deus resolva de
uma vez por todas tamanha polêmica? Não. Definitivamente não. Deus não vai
resolvê-la. Por quê? Por uma razão muito simples: Não foi Ele quem provocou
esta dissensão.
Orar sim, para que Deus conceda
sabedoria suficiente àqueles que têm em suas mãos a responsabilidade de
fazê-lo. Qualquer tipo de intervenção humana na tentativa de manipular o
resultado final, só irá piorar ainda mais esta crise institucional.
Enquanto discute-se, por tanto
tempo, de forma tão acirrada, uma questão político-administrativa (dita
cultural), que não envolve diretamente princípios ou crenças fundamentais,
perde-se não só o equilíbrio, mas principalmente o foco na missão confiada pelo
Senhor, e o que é pior, dá-se ao inimigo a oportunidade de deitar e rolar as
custas da igreja.Isto é: uma pena; é lamentável; é constrangedor; é vexatório e
portanto, inaceitável!
Lá pelos idos de 1860, portanto
antes da institucionalização da igreja Tiago White afirmava que ‘a “igreja viva
de Deus” necessitava avançar com oração e bom senso’. Cento e cinquenta e cinco
anos se passaram e continuamos com a mesma carência!
Que o clamor contido no hino n°
311do HÁ seja uma constante em nossas vidas e de uma forma muito especial,
nestes dias que antecedem a 60ª Assembleia Geral da IASD - Dai-nos Luz!
É o meu desejo, a minha esperança e a
minha oração. Amém!!!
© Nelson Teixeira Santos
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