“Guarda o teu pé, quando entrares na casa de
Deus; porque chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de
tolos, pois não sabem que fazem mal” (Ec 5:1
ACF).
Introdução
Concluímos a mensagem intitulada REVERÊNCIA – I com a seguinte citação:
“Possivelmente a história do Movimento
Adventista, à luz de sua filosofia doutrinária pode ser a chave. Contudo, não
devemos esquecer-nos que sempre é perigoso tentar remediar alguma coisa que
está errada quando o pêndulo balança para o outro extremo.”
Pode ser a chave para que? Para se
encontrar o fiel da balança; ou seja, para tentar desvendar o porquê da
irreverência reinante em nossas igrejas.
É presumível que na tentativa de se escapar de um formalismo frio e
legalístico presente nos cultos de antigamente, tenha nos levado a desenvolver
um culto informal, ao qual se acha atrelado muita leitura e diferentes partes,
parecendo mais um clube do que uma congregação de adoradores.
Esquece-se, no entanto, de que a informalidade desrespeitosa é tão
prejudicial quanto um formalismo frio. “Enquanto
que um formalismo dignificado não é o fim do serviço de culto, isto, contudo,
provê um ambiente propício e genuíno para um verdadeiro culto. Assim, como as
obras são os feitos de uma fé real, e a fé sem as obras é morta, assim, a
dádiva de nós mesmos a Deus é basicamente sacrilégio se é oferecida sem a
devida reverência” (Horne P. Silva, Culto e Adoração, pág. 165).
A pergunta pertinente
O que contribui para a boa reverência do culto?
1. Conscientização da presença de
Deus
Habacuque 2:20, usada
muitas vezes de forma inadequada na tentativa de conter a irreverência, deveria
ser o pensamento dominante de todos os que se acham presentes para adoração. Como consequência deste
sentimento - da presença do Ser supremo, há um despertamento na alma humana que
a leva a prostrar-se ajoelhada.
A sabedoria de Salomão aliada a
inspiração divina levou-o a afirmar: “Guarda o teu pé, quando entrares na casa de Deus” (Eclesiastes 5:1). O que deve motivar
a reverência não deve ser o muito falar, ou pela vigilância exercida por parte
dos diáconos, mas sim pelo reconhecimento da santidade de Deus e de nossa
indignidade e falta de méritos.
“Entre por esta porta como se o assoalho fosse de ouro e cada parede
fosse composta de joias de incalculável valor; como se cantasse aqui um coro
com trajes de fogo. Não grite, não corra, mas guarde silêncio, porque Deus está
aqui”. (Palavras gravadas no assoalho da igreja em que John Wesley pregou
seu primeiro sermão).
2. Ordem e organização
A começar pelo pregador. Ele
próprio compõe a atmosfera do culto. De que forma? Pelo seu preparo, pela forma
de se vestir, pela sua postura, pela sua habilidade, pelo seu vocabulário, pela
sua mensagem. Depois os anciãos e diáconos. Todos devidamente preparados e
organizados. Cada um previamente ciente do papel a desempenhar. A parte
musical, os hinos, ofertórios, tudo bem escolhido, apropriado e adaptado às
necessidades espirituais da congregação.
3. O Ambiente
Se a plataforma estiver devidamente
arrumada com bom gosto e esmero, todas as cadeiras e bancos igualmente
arrumados e limpos, as janelas abertas, os boletins devidamente distribuídos, a
sonoplastia preparada e testada com antecedência, o pessoal da recepção
ocupando seus postos no devido tempo, é bem provável que tudo redunde em
silêncio e reverência na igreja e no culto, e Deus será louvado e os
verdadeiros adoradores ficarão agradecidos.
A pergunta (im) pertinente
O que contribui para a irreverência
na igreja?
1. Falta de organização
Quando a congregação e os
visitantes já estão chegando e muita coisa ainda está por ser feita (isso sem
contar que às vezes encontram a igreja ainda fechada). As partes do culto
ainda estão sendo distribuídas: Quem vai compor a plataforma? Quem vai recolher
as ofertas? Quem irá acompanhar o pregador? Vai ou não vai haver mensagem
musical? Quem fará os anúncios? Quem irá
cobrir as ofertas? Gente envolvida procurando gente irresponsável que recebeu
uma atribuição e não apareceu nem delegou sua participação a outrem. Gente
ensaiando; gente transportando cadeiras de um lado para outro; gente
distribuindo literatura, envelope de dízimos, correspondência e etc.
2. Serviço de som
Quando muitas pessoas já se
encontram no recinto e os responsáveis (que chegaram atrasados) começam a...
Esticar fios, carregar tripés, arrastar mesas de som, ligar microfones, dar
tapinhas no microfone para saber se estão funcionando ou então dizendo “alô,
alô”; “teste”; “testando”; “um dois três”, zerar o volume antes da hora, etc.
Uma sonoplastia de má qualidade,
que fica falhando, dando estouros e outros barulhos contribui sobremaneira para
a irreverência.
3. Apresentação da plataforma
Por ocasião da apresentação da
plataforma, desafortunadamente algumas igrejas mais se parecem com uma agência
de RH na explanação de um currículo. Aproveitar-se da situação para
enaltecer e bajular certas pessoas constitui-se numa desonra a Deus – culto
presta-se tão somente a Deus “Ao Senhor
teu Deus adorarás, e só a Ele darás culto” (Lc 4:8 - ARA).
Se a presença de algum visitante
necessite ser enfatizada, que se faça de modo simples no que se diz e na
maneira de falar. De preferência deveria ser feito através do boletim da igreja
(quando houver), não se esquecendo em hipótese alguma de que vamos a igreja
para encontrar-se com Deus e para ter um relacionamento com Ele, sem a
interferência de ninguém.
4. Diáconos
Todos (escalados) deveriam chegar a
tempo para o culto. O trabalho dos diáconos é de vital importância durante a
realização dos cultos em nossas igrejas e deve contribuir para que haja a
máxima reverência e não sejam eles próprios a provocar irreverência. Ao
invés de exercer tão somente o papel de policial ou de abrir e fechar portas
precisam conhecer a igreja, sua rotina, seus frequentadores, estar atento ao
que acontece e se encontra ao redor, ser visionário, proativo.
5. Coral ou orquestra
Em que o coral ou
orquestra podem contribuir para irreverência no culto?
Afinal não são eles que cantam,
louvam e adoram através da música?
O problema na maioria das vezes não
ocorre quando estão cantando, mas enquanto aguardam o momento para entrar em
ação. Você dirá: Não estou entendendo. Pergunto-lhes: Onde na maioria das vezes
o coral ou a orquestra ficam posicionados? Resposta: Atrás do púlpito. Assim sendo eles compõe o cenário de fundo.
Alheios ou indiferentes, muitas vezes, parece que as diferentes partes do culto
não são para eles. Ignoram o fato de que qualquer coisa que façam serve de distração
para a congregação. E aí o adorador se distrai e torna-se irreverente. Não
devem, portanto, ficar conversando ou alheios à programação que está ocorrendo. Integrantes do coral ou orquestra não
deveriam sair antes do término da programação. Se for para sair antes, então
que nem entrem. Evidentemente existem as exceções. Nem pensar em
afinar instrumentos quando a igreja já se encontrar cheia. Isto deve ser feito
bem antes dos adoradores chegarem ao espaço sagrado.
6.
Anúncios e campanhas
Parte da irreverência é causada
por anúncios e campanhas indevidos que acima de qualquer outra coisa, só
desonram o sábado. A maioria das campanhas são justas e necessárias, mas arrasam
toda a reverência de uma igreja. Façam uso do boletim ou, se não o tem, façam
os anúncios com ordem, na hora certa e da maneira correta.
“O princípio de uma atividade direta com Deus põe de lado qualquer uso que o pastor ou seja quem for,
fizer do culto para distinguir qualquer negócio com sua congregação. A conduta
correta de um culto demanda que cada momento e cada parte do serviço de culto
seja planejado e conduzido de maneira que todos os presentes possam saber e sentir
que estiveram na presença espiritual de um Deus eterno.” (Horne P. Silva,
Culto e Adoração, pág. 170.
7. Horário
O que é horário? O Aurélio define
horário como: Relativo a hora (s). Que se percorre no espaço de uma hora. Tabela
indicativa das horas de certos serviços. Em outras palavras; horário
pressupõe hora de começar e hora de acabar. Isto transmite segurança par
quem chega pontualmente e uma forma de estimular os atrasados contumazes a
chegarem a tempo.
Os pregadores nunca deveriam permitir que o tempo de culto ultrapassasse os limites de um bom horário para
terminar todos os serviços religiosos. Não cometam o desatino de asseverar
algo do tipo: “Bem hoje é sábado, ninguém
trabalha mesmo então posso falar a vontade”. Você pode falar a vontade; só
não sei quanto tempo as pessoas se sujeitarão a ouvi-lo.
Ao procederem desta maneira,
esquecem-se de que com o passar do tempo as crianças e os idosos ficam cansados e cansaço é
sinônimo de irritação; mães preocupadas com alimentação e com os horários dos
ônibus que a partir de determinada hora ficam mais escassos. Se acontecer de
avançar a hora, o pregador deveria abortar o sermão e despedir os irmãos na
hora determinada. Devemos começar e terminar na hora certa como sinal de
respeito e consideração à nossa congregação.
8. Crianças
A voz de Deus é diminuída em muitas
de nossas igrejas por causa dos gritos, choros e manhas das crianças. Na
igreja Deus quer ser ouvido. O pastor, o oficiante, o líder do culto tem a
obrigação de fazer alguma. Deus não irá fazer absolutamente nada. Mas, fazer o
quê?
Os espaços consagrados ao Senhor
são feitos para adorarmos a Deus em ordem, silêncio e reverência. Deus é um
Deus de ordem e não um Deus de confusão. Ele não pode ser adorado em uma
reunião marcada pela desordem. O apóstolo Paulo exorta-nos: “Faça-se tudo com decência e ordem” (I Co
14:40).
Nada deveria roubar a nossa
reverência na casa de Deus impedindo-nos de receber as ricas bênçãos da
comunhão com o Senhor.
Recomendação salomônica
Sabedoria é com ele mesmo. É dele a
recomendação que para se reverenciar o santuário de Deus os adoradores deveriam
observar três pontos importantes ao irem à igreja: os pés, os ouvidos e a língua.
Quando é que começa o culto
racional e aceitável, aquele descrito por Jesus no evangelho de João: “Deus é
Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade” (João 4:24)?
Acreditem. Começa muito antes dos
adoradores adentrarem os portais da igreja. O conselho contido no texto chave -
(Ec
5:1 ACF), descreve um aspecto da conduta do adorador ao
dirigir-se à casa de Deus. Todo adorador deveria dirigir-se a casa de Deus
com reflexão e compenetrado do que irá lá fazer. Se a pessoa que vai a
igreja não fizer antes, um preparo mental e de coração, logicamente o seu culto
não será aceitável.
Os pés desempenham um papel
muito importante no culto que se oferece a Deus. Devemos saber como andar
diante do Senhor; dentro e fora do santuário. Antes que alguém exija
embasamento bíblico para tal afirmação; respondo. Em Êxodo 3:5: “E disse: Não
te chegues para cá; tira os sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás
é terra santa”.
Moisés
achava-se na presença do Senhor. Pelo ato de tirar as sandálias Deus o estava
ensinando como se portar devidamente diante do Senhor. Daquele dia em diante
Moisés aprendeu a andar nos caminhos do Senhor. Os seus pés agora
deveriam ser guiados por Aquele que o chamara. Os que guardam bem os
seus pés quando estão na presença do Senhor, não terão dificuldade em caminhar
co m Deus e servi-Lo.
Os ouvidos também desempenham
um papel muito importante no culto. É de Salomão também o sábio conselho: “chegar-se para ouvir é melhor do que
oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal” (Ec
5:1 ACF). Pessoas vêm à igreja pelos motivos mais diversos:
entre eles, ver e ser vistos. Poucos são os que vêm para ouvir o que o
Senhor tem a lhes dizer. O fato de possuírem ouvidos não significa
necessariamente uma prova de que podem ouvir. “Ouvindo, ouvireis, mas não compreendereis, e, vendo, vereis, mas não
percebereis. Porque o coração deste povo está endurecido, E ouviram de mau
grado com seus ouvidos,E fecharam seus olhos;Para que não vejam com os olhos,E
ouçam com os ouvidos,e compreendam com o coração,e se convertam,e eu os cure”
(Mateus
13:14-15).
Outro
ponto altamente relevante na adoração ao Senhor é o domínio da língua. Desta vez o conselho vem do apóstolo
Pedro: “Refreie a sua língua do mal”
(1
Pedro 3:10).
Na igreja os adoradores deveriam falar menos e ouvir mais a Palavra de Deus. A
igreja não é um lugar para encontros e falatórios inúteis. A conversa prejudica
demais o ambiente do culto. A Bíblia encerra uma experiência desta natureza,
onde todos queriam falar e houve necessidade de por ordem no culto (1 Coríntios 14:14-26).
Conclusão
Independentemente de idade, de
ocupar cargos e funções ou não; a busca pela reverência é dever de todos, no
entanto, a responsabilidade maior recai obviamente sobre os adoradores adultos
– pais, líderes; de nada adianta jogar toda responsabilidade sobre o pastorado
da igreja, no que diz respeito a educação, formação e conscientização dos
filhos na igreja. Incoerência é exigir dos pequeninos um melhor comportamento
na igreja enquanto os adultos não tiverem plenamente conscientizados quanto a
postura com que devem usar os pés, ou ouvidos e a língua para honrar e cultuar
a Deus.
Que ao adentrarmos os portais da
igreja nunca nos esqueçamos do conselho bíblico: “Deus é Espírito, e importa que os que o
adoram o adorem em espírito e em verdade” (João 4:24).
É o meu
desejo e a minha oração. Amém!!!
© Nelson Teixeira
Santos
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