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ORDENAÇÃO DE MULHERES – 3ABN



            Conforme já havia previsto e dito, trata-se mais um vídeo circulando nas redes sociais sobre o assunto que monopolizará a 60ª Assembleia Geral da IASD, em San Antonio, Texas – USA de 04 a 11 de julho de 2015.
            O aludido vídeo, na realidade uma edição do programa Night Ligth é apresentado por Danny Shelton e Jim Gilley, tendo como convidados os pastores Doug Batchelor, Stephen Bohr e Jay Gallimore.

            O objetivo, ao que tudo indica, é a busca de consenso em torno de um assunto delicado, polêmico e controverso que já se arrasta por quase 150 anos. A tarefa é árdua, praticamente impossível; convencer a todos: indecisos, imparciais e opositores a estarem com seus pontos de vista alinhados de acordo com os ditados pela instituição.
            Prega-se muito sobre a unidade – “unidade na diversidade”, contudo, na prática o que se busca, contrariando frontalmente a mais longa oração intercessória de Jesus registrada na Bíblia (João 17) é a uniformidade.  

            O modelo segue a receita clássica dos programas evangélicos veiculados na mídia mundial: apresentadores e entrevistados fazendo perguntas eclesiasticamente corretas (previamente acertadas) e todos, ora se fazendo de desentendidos, ora revelando grande sapiência em suas respostas. Tudo muito bem embasado com textos bíblicos, do espírito de profecia, ilustrações e testemunhos pessoais; tudo muito convincente, muito impressionável, a partir de uma pesquisa realizada pela própria emissora de TV.

            Um dos objetivos, entre outros da emissora de TV ao promover a pesquisa, segundo o apresentador Jim Gilley, era o desejo de começar a ouvir a voz vinda dos próprios bancos da igreja em vez de necessariamente de líderes, porque já se sabe que os líderes, incluindo aí os delegados, estão mais preocupados em defender os interesses da instituição do que os legítimos interesses das congregações a que pertencem. Até aqui nenhuma novidade.

            Logo no início o vídeo peca quando alfineta as duas uniões norte americanas (diga-se ex uniões), que a revelia da AG, segundo Jim Gilley, desobedecendo as orientações bíblicas e as normas vigentes da IASD ordenaram mulheres. Peca por omitir  a verdade: tem mais entidades jurídicas adventistas espalhadas pelo mundo ordenando mulheres, inclusive associações. Peca por omitir informações: as duas aludidas uniões já não fazem parte do corpo de instituições adventistas; não esperaram 2015, se anteciparam, não levando em conta os apelos do presidente, Pr. Ted Wilson e tomaram a decisão e a iniciativa de romper com a AG. Tentativa de atribuir-lhes alguma parcela de culpa? Perda de tempo. 
            A intrigante pergunta ainda sem resposta é: se a ordenação de mulheres é antibíblica de fato, porque ainda se perde tempo debatendo este assunto?  Seria por que assim foi acordado por ocasião da 59ª Assembleia Geral? Um dos motivos sim, mas existem outros. Quais?
            Outra questão: Se a Associação Geral já se posicionou acerca do assunto e o mesmo já foi dado por encerrado por ocasião das Assembleias da AG em 1990 e em 1995, porque reabri-lo? Se as decisões adotadas pela AG não estão sendo acatadas pelas várias entidades jurídicas ao redor do mundo, isso é ruim, alguma coisa está errada. Seria “crise de identidade” ou o que é pior: crise de autoridade? Ou, as duas juntas? Ou o que?
            E o imponderável aconteceu. Ao Jim Gilley efetuar uma interessante e oportuna observação, alegando que um membro após cinco anos estudando diligentemente as lições da Escola Sabatina pode ser considerado detentor de um curso teológico, foi contestado pelo Pr. Bohr. “Um dos grandes problemas que temos, e olha que eu viajo muito para a América Latina é que as pessoas não estão bem informadas sobre todos esses assuntos porque não os estudaram a fundo”; afirmou o pastor Bohr. Pode?
            Latinos aos olhos do Pr. Bohr são todos ignorantes. Pergunta-se: Como ficar “bem informado”, como “estudar a fundo” se as informações pertinentes, fontes de conhecimento, são sonegadas dos membros, permanecendo à disposição de apenas uns poucos privilegiados da “elite”? Como, se a DSA há muito tempo, alinhada com as orientações da AG, se posicionou contrária a ordenação. Até departamento foi criado para se evitar qualquer tipo de oposição.
            Lamentavelmente há muito mais coisa mantida a sete chaves nesse meio, inclusive dos próprios colaboradores (obreiros). Certa vez, um departamental, a nível de associação ao ser interpelado sob esta prática abominável respondeu: “Para que maus obreiros não venham a fazer mau uso”. Novamente; pode?
            Esqueceram-se de avisar o desavisado e mau informado pastor de que foi o seu “colega de ministério” Pr. Neal C. Wilson em 1988, quando então presidente da AG que considerou o assunto proscrito (“Role of Women Commission Meets”, Adventist Review, 12 de maio de 1988, 6-7). Em tempo: Neal C. Wilson é pai do atual presidente da AG, Pr. Ted Wilson.
            Incoerências a parte, o intrigante é que mesmo após o banimento decretado pelo Pr. Neal C. Wilson muito material foi produzido, sobretudo nos EUA e que pelos motivos óbvios, já citados, não chegaram até nós. No Brasil o único material digno de nota (com ressalvas), é uma TCC elaborada por Heber N. de Lima em 2003.

            A bem da verdade, a instituição está diante de uma questão complexa, criada por ela mesma (não pela igreja) e não quer, ou não sabe exatamente como lidar com ela. Alegar que, se a ordenação de mulheres for aprovada, isso irá facilitar o caminho para que advogados de casamentos e ordenação de ministros gays agitem a igreja buscando aprovação; porque este foi o caminho percorrido por outras instituições religiosas; é, no mínimo, leviandade. Mas leviandade maior é afirmar que por esta razão as comunidades religiosas que adotaram esta prática sofreram acentuado esvaziamento nos últimos anos. Também de nada adianta apelar para primazia, semântica ou para a hermenêutica, ou mesmo achar que é o diabo que está tentando distorcer tudo o que Deus estabeleceu na criação. Isto não irá resolver a questão.
            “Sempre avante! Manda o General”. Sugere-nos o hino de n° 342 do HA, contudo em termos estratégicos, avançar nem sempre significa ir em frente. Às vezes, em determinados momentos, é preciso parar para se reorganizar, para unir forças, parar para recompor as linhas que compõem a vanguarda e a retaguarda, reforçar os flancos e aí sim, seguir em frente, seguros da vitória! Planejar, avaliar, replanejar, reavaliar, se preciso for. Sempre!
            Peca-se na tentativa infrutífera de passar ao mundo uma imagem de perfeição absoluta, onde tudo funciona como um relógio suíço. Doce utopia! Sabemos que na prática as coisas não acontecem assim. Será que a lição de 1844 ainda não foi internalizada? Não devemos dar ao mundo a oportunidade de tripudiar sobre nossas mazelas!
            Peca-se também quando falta humildade suficiente para assumir os próprios erros e falhas. Um expert, Jim Collins, em parceria com seu grupo de colaboradores escreveram na obra intitulada How the Mighty Falls: “Prestamos um desserviço a nós mesmos quando estudamos apenas sobre o sucesso”. Gordon MacDonald editor da revista Leadership - First published in Leadership Journal, afirma que: “Um indício claro de declínio é desencadeado quando líderes ignoram ou minimizam informações críticas, ou se recusam a escutar aquilo que não lhes interessa. Subestimar os problemas e superestimar a própria capacidade de lidar com eles é autoconfiança em excesso”.  O Espírito de Profecia juntamente com a Palavra de Deus são bem claros ao afirmar: a igreja (o povo de Deus) sagrar-se-á vitoriosa; já as instituições religiosas, não sei!   
  
            Devemos ser gratos a Deus porque mesmo em meio a esta e tantas outras controvérsias vivenciadas na comunidade religiosa ainda existem homens e mulheres consagrados, que a semelhança dos dias de Elias não se curvam diante de Baal – “joelhos que não se dobraram a Baal” afirma o texto bíblico.

            O Pr. Jan Paulsen, quando presidente da AG afirmou: “Há ainda desafios como o tão discutido assunto do papel da mulher no ministério. Esta é uma preocupação que vem à tona de tempos em tempos, tanto em minhas conversas com jovens como durante uma recente conversa, televisionada, com um grupo de pastores da América do Norte. Alguns perguntaram: “Temos que continuar falando sobre isso?” Parece-me que sim. Podemos inclusive achar que deveríamos ter lidado com o problema de maneira diferente, desde o princípio. Entretanto, aconselhamo-nos como uma família mundial e chegamos a uma conclusão. Houve decisões a respeito, das quais todos participaram e não podemos nos desviar delas, dizendo: “Eu não gosto disso! Não importa o que os outros digam, vou corrigir no meu território o que, a meu ver, é um engano” Não funciona assim na igreja. Antes de tomarmos um novo caminho, especialmente quando se trata de um ponto difícil e, potencialmente, divisor, deve haver amplo consenso entre a liderança, disposição para ouvir uns aos outros e para concluir que chegou o momento de pensar de maneira diferente (Adventist World I Janeiro 2008, pág. 10). Admirável tom conciliatório!

            No mundo atual as coisas caminham na velocidade da luz e demora-se demais, há muita vagarosidade na busca de solução dos problemas institucionais. Ella Smith Simmons, vice-presidente da AG assim se expressou como sendo a nossa maior fraqueza: “A lentidão para adaptar nossos processos e procedimentos aos tempos em que vivemos” (RA – Agosto 2010, pág. 10).  Para ela a maior ameaça à igreja hoje consiste na “falta de coerência em relação a alguns princípios da vida cristã e questões teológicas que podem fragmentar o corpo da igreja” (idem). Extraordinária visão!

            George R. Knight, pastor, historiador e professor de história da igreja na Universidade Andrews,  em seu sermão intitulado Se Eu Fosse o Diabo, proferido por ocasião da 57ª Assembleia Geral da IASD em Toronto, Canadá em  2000, sinalizando a necessidade de descentralização afirma: "Se eu fosse o diabo, faria dos pastores e administradores o centro do trabalho da igreja. Faria pastores e administradores planejarem e executarem tudo sem autorizar nem capacitar os leigos para planejar e executar sozinhos e independentemente o trabalho da Igreja.

            Não se dedicar com afinco a estabelecer as responsabilidades pelas crises enfrentadas já se constitui uma temeridade. A instituição precisa com urgência encarar a questão com serenidade e seriedade, procurando desta forma assumir a papel que lhe cabe diante da crise – de gestor, na busca de uma solução definitiva, sob pena de provocar uma fragmentação ainda maior do que a já iniciada pelas duas uniões.
            Deus espera que ela cumpra o seu dever!
            A igreja – o povo de Deus, assim espera!


© Nelson Teixeira Santos                                                                                                                                                                                                 
           

  

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