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UNIÃO COLUMBIA X CONFERÊNCIA GERAL



            Há alguns dias (2ª quinzena março/2014) fomos surpreendidos com a notícia: UNIÃO COLUMBIA SE REVELA CONTRA A CONFERÊNCIA GERAL. Através de um vídeo postado na internet, o presidente da Associação Geral da IASD, Pr. Ted Wilson faz um apelo dramático para que a União Columbia (uma das uniões que compõem a Divisão Norte Americana da IASD), não rompa os vínculos com a AG.

            Breves considerações
            Antes de adentrarmos o assunto propriamente dito, ou seja, o fato que ocasionou a cisão, algumas considerações se fazem necessárias.

            Antes de qualquer coisa, necessitamos adotar uma postura imparcial, racional, despojando-nos por completo dos arroubos emocionais, quer sejam eles, pessoais ou institucionais. O momento está nos cobrando serenidade e seriedade. Institucionalmente temos dois problemas (um antigo, que por falta de solução acabou gerando o segundo) e ambos devem ser resolvidos.

            A Palavra de Deus afirma em João 4:34 que “Deus é espírito e importa que os Seus verdadeiros adoradores O adorem em espírito e verdade” (livre tradução). Neste caso específico a razão deve imperar, pois não se tratam de assuntos doutrinários ou espirituais, muito embora as consequências acabem por atingir tais âmbitos.

            Atitudes radicais como as encontradas entre as centenas de comentários que se seguiram a postagem do aludido vídeo (aproximadamente 1000), em nada contribuem para a solução do problema:

            Remoção dos rebelados. Afinal de contas, quem é o rebelde nesta história? Depende. Depende de que lado se está. Cada lado envolvido acha-se coberto de razões. A remoção deve estar baseada em algum regulamento. Que regulamento? O Manual da Igreja é omisso quanto a esta questão. O manual não prevê a remoção de uma entidade jurídica e ou, institucional – somente de pessoas físicas. Ademais não é a AG que está querendo remover a União Columbia, é a União Columbia que ameaça romper com a AG. Que hora mais inoportuna para se demonstrar autoridade! Não nos esqueçamos do que recomenda a Palavra de Deus: Não por força nem por violência, mas pelo meu Espírito’, diz o Senhor dos Exércitos” (Zc 4:6).

            A turma da oração. Gente que o apóstolo Paulo afirma lá em Romanos 10:2 “serem pessoas zelosas de Deus, mas faltas de entendimento”. Gente que trata esta poderosa ferramenta a disposição dos cristãos como se fosse uma panaceia. Não estou de forma alguma questionando o poder da oração. Não mesmo! Apenas constatando que muitas vezes (inclusive neste caso), nós mesmos criamos uma situação delicada (são 148 anos a espera de uma solução coerente) e quando as consequências aparecem, apelamos para que Deus as resolva. Certamente Deus não irá resolvê-la. Até podemos orar a Deus, porém, para pedir por sabedoria, pois o problema carece de solução. A solução está nas mãos da instituição. É a instituição, não Deus, quem terá que encontrar uma saída. Há momentos sim, em que carecemos de oração; em outros (e esse agora, o é), necessitamos de coragem, de vontade política, de ação para mudarmos o rumo das coisas!

            Obcecados por profecia. Sabemos da importância das profecias bíblicas na vida dos membros da igreja. O fortalecimento de nossa fé está diretamente ligado ao conhecimento que temos, sobretudo daquelas contidas nos livros de Daniel e Apocalipse. Mas daí a concluir que tudo que acontece no mundo, dentro ou fora da igreja é cumprimento desta ou daquela profecia; convenhamos, é leviandade!

            Obra do diabo. Este é o grupo dos “práticos”. Aqueles que por alguma razão, na tentativa de encontrar logo uma saída, preferem atribuir a qualquer coisa mais complexa, “sobrenatural”, como sendo “obra do diabo”. Sabemos de sua origem, existência, seus planos contra Deus e contra nós, mas também convenhamos, pecamos transgredindo mandamentos, leis naturais e na hora de arcar com as consequências – “a mulher que tu me deste”; “a cobra que tu criaste”. Sempre os outros é que são os culpados. Culpamos a Deus, direta ou indiretamente, ou ao diabo; é muito mais fácil, mais cômodo, mais prático. Por amor ao que nos é mais sagrado. Não hajamos como neófitos!

            Aqui cabe mais uma consideração. Sempre que fizermos uso da palavra igreja, precisamos saber exatamente o que estamos tentando comunicar com tal uso. Devemos evitar certas e costumeiras ambiguidades e esclarecer de que igreja estamos realmente falando.
            A igreja pode ser: (a)- o espaço físico onde costumeiramente nos reunimos – o templo; (b)- pode ser o conjunto de crenças fundamentais que observamos – as doutrinas; (c)- pode ser as diversas entidades jurídicas (Associações, Confederações, Corporações, Uniões, Divisões, e AG) que administram os bens e os interesses da instituição religiosa; (d)- a igreja biblicamente dita – o corpo de Cristo (os membros).
            Neste caso específico, a crise instalada é de ordem institucional. De autoridade. A autoridade institucional estabelecida está sendo colocada em xeque. Pior que ser colocada em xeque, são as suas consequências. Abrem-se precedentes, juridicamente falando - jurisprudências. Para a consolidação da unidade; isto é danoso!

            O fato
            O que ocasionou a instalação da aludida crise?
            A IASD tem, desde o grande desapontamento (mileritas marcaram a data da volta de Jesus para 1843/1844) e após a sua organização (1863), enfrentado crises diversas, de toda sorte, de toda ordem, de toda natureza, mas esta, por remontar Ellen G. White, é redundantemente antiga. Umas foram bem resolvidas, outras nem tanto; estas ainda estão por serem solucionadas. George R. Knight, pastor, historiador e professor de história da igreja na Universidade Andrews, faz menção de muitas delas em seu livro intitulado Em Busca de Identidade, editado pela CPB, contudo é omisso quanto a esta – ordenação de mulheres.
            O assunto tem se delongado tanto que para efeito de estudo foi dividido em períodos. O primeiro é chamado de Antecedentes Históricos (1866 a 1968); o segundo de Período de Cristalização do Problema (1968 a 1984) e o último, a partir de 1985 de Período de Polarização Em Relação ao Problema.
            Cada um deles está repleto de idas e vindas. Fatos e histórias pitorescos. Muita coisa foi escrita; contra e a favor; muita coisa foi debatida, mas conclusão que seria bom – nada. A frase mais proferida em todo o tempo tem sido: “Vamos estudar o problema”. Eclesiasticamente falando; não ficaria melhor: “Vamos todos juntos em busca da solução”?
  
            O início
            Sabe aquele enunciado atribuído à Lei de Murphy: “Tudo que começa... acaba...”.
            “Quinze anos antes da assembleia da Associação Geral de 1881, Uriah Smith escreveu que as mulheres desempenhavam um papel de subordinação, e que não deveriam ter um cargo de liderança ou autoridade sobre os homens. Ele usou textos como Gênesis 3:16; 1Coríntios 11:8; 1Timóteo 2:13-14, como evidência de que o homem está revestido de liderança e autoridade sobre a mulher. Qualquer tentativa de uma mulher usurpar a autoridade masculina não deveria ser aceita, porque ela recebeu um papel de subordinação”. Uriah Smith, “Let Your Women Keep Silence in the Church”, Review and Her-ald, 20 de junho de 1866, 28.
   
           “O meio”
           E aconteceu de novo. Em 1988 o Pr. Neal C. Wilson, pai do atual presidente da AG considerou o assunto proscrito “até que a igreja soubesse o que fazer sobre o assunto da ordenação” Neal C. Wilson, “Role of Women Commission Meets”, Adventist Review, 12 de maio de 1988, 6-7. 

            A pergunta que não quer calar
            Porque só agora, quando falta pouco mais de um ano para a realização da próxima Assembleia Geral, a União Columbia resolveu radicalizar?
            Em tempo: Foi durante a 59ª Conferência Geral (2010) que se tomou um voto de constituir grupos de estudos para analisar o assunto, cujas conclusões deverão ser apresentadas e discutidas em 2015 na próxima.  Uma segunda pergunta até agora sem resposta: Porque a União Columbia está usando a ordenação de mulheres como pretexto para romper com a AG uma vez que outras instituições (inclusive nos EUA) estão, a revelia da AG, ordenando mulheres? Existe até uma associação nos EUA que chegou a eleger uma mulher como presidente da mesma.

            O fim
            O fim. Entenda-se, a solução para a crise. Ainda não dá para visualizar a luz no final do túnel. Não sei onde, nem quem, nem quando aquele vídeo foi gravado, nem mesmo a sua veracidade. Não obstante, por um lado percebe-se claramente o desconforto, o constrangimento do Pr. Ted Wilson ao mencionar o assunto – ordenação de mulheres; por outro, fica muito evidente a preocupação em convencer, o mais depressa possível, a União Columbia a permanecer unida (como líder supremo da IASD ele sabe das consequências diante de um eventual rompimento).

            A lição a ser aprendida
            Em duas ocasiões – Assembleias Gerais de 1990 e 1995 o assunto foi colocado em votação e o grupo dos contrários à ordenação de mulheres sagrou-se vitorioso. Daí a outra pergunta que não quer calar: Por que voltar a discutir um assunto sobre o qual a instituição já se posicionou contrariamente? Porque aqueles que são escolhidos para representar a igreja (delegados), oriundos das mais diversas partes do mundo, orientados ou não, estão defendendo os interesses da instituição superior e não os anseios legítimos das pessoas (igrejas) que os elegeram. Paradoxalmente a decisão eclesiástica é oficial, portanto legal, mas infelizmente não atende aos anseios do povo de Deus. Daí o descontentamento. O tempo mostrou que considerar o assunto proscrito, lá em 1988 não foi uma decisão muito sensata.

            A outra lição
            A Palavra de Deus afirma em Romanos 8:28 que “todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus”.  Pois bem, acreditando nesta preciosa promessa somos levados a crer que temos algo a aprender com a crise (que ainda não foi debelada).
            Do alto de meus quase sessenta anos (quarenta de igreja adventista) aprendi; aliás, a igreja me ensinou que existem pelo menos três maneiras de lidarmos com um problema: ignorando-o; contornando-o; resolvendo-o. As três demandam que se dê um certo tempo. Trata-se do famoso “dar tempo ao tempo”. Tempo suficiente para que sejam analisados, mensurados, discutidos todos os prós e contras envolvidos na questão. Quanto tempo? Cada caso é um caso; casos mais simples demandam menos tempo; já os mais complexos mais tempo. No caso em questão: 148 anos; é muito ou pouco tempo? Com a palavra as autoridades eclesiásticas.





© Nelson Teixeira Santos

Comentários

  1. É... eu só sei que as coisas não darão muito certo com rebeldia. Eu só acho, que como crendo na igreja e que a IASD e a igreja remanescente acredito que o que os delegados votarem e firmarem através de estudos aceitarei de bom grado. O problema e que esse é o tempo de haver união e não separação, de atender e não se rebelar, de unir e não dividir.

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