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NA DIVERSIDADE – UNIDADE


 
    "Há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos" (Efés. 4:4-6). 

 

            Introdução

             O ponto central da epístola aos efésios inicia-se com o capítulo quatro. Os primeiros três capítulos estabelecem a teologia da unidade cristã, unidade que anula todos os fatores divisores da humanidade. Os últimos três capítulos destacam as implicações práticas dessa unidade na vida do cristão. Agora, Paulo avança da teologia para a prática, da exposição à exortação, do que Deus fez ao que devemos nós fazer em resposta ao que Deus fez por nós. Nossa teologia deve iluminar nossa moralidade, e nossa moralidade deve refletir nossa teologia. 

 

             Assim, Paulo volta a atenção para o tipo de vida que os crentes devem ter, de acordo com a grande verdade teológica do mistério de Cristo. A unidade entre judeus e gentios não é mito, mas uma realidade que requer que nos conduzamos "de modo digno da vocação a que [fomos] chamados" (Efés. 4:1). 

 

            "No quarto capítulo de Efésios o plano de Deus é revelado com tanta clareza e simplicidade que todos os Seus filhos podem se apropriar da verdade. Aqui é exposto claramente o meio que Ele designou para manter a unidade em Sua igreja, isto é, que seus membros revelem ao mundo uma experiência religiosa saudável." – Comentários de Ellen G. White, SDA Bible Commentary, vol. 6, pág. 1.117. 

 

 

           Andando de modo digno (Efés. 4:1-3) 

            Nos três primeiros capítulos, Paulo falou muito do que Deus fez em Cristo por nós. Agora, como resultado, ele nos aconselha a "andar de modo digno" de nossa vocação, e diz como devemos fazer isso. 

            Cinco graças são fundamentais para o caráter cristão: 

             1ª - Humildade. Romanos e gregos consideravam a humildade um sinal de debilidade. Os romanos e gregos nunca viram a palavra humildade com admiração, mas como uma descrição de servilismo e subserviência. A Bíblia é diferente. Isaías descreve Deus como alguém que transcendente mas também imanente: “O alto, o Sublime, que habita a eternidade” é alguém que habita “também com o contrito e abatido de espírito” (Isa 57:15).   Para o cristão, no entanto, esta é fonte de força. É o oposto do orgulho. O orgulho está no centro da desunião (por exemplo, Lúcifer no Céu), enquanto a humildade está no centro da reconciliação, como na encarnação e na cruz (Filip. 2:2-8). Foi a humildade que levou Jesus a Se esvaziar, a tomar a forma de um servo e Se humilha r aponto de morrer.

 

             2ª - A gentileza ou mansidão é essencial para a unidade da igreja. Na Bíblia, mansidão é força interna, derivada de uma qualidade da gentileza. Não sendo arrogante ou condescendente, a mansidão é gentil com os outros, sensível às suas fraquezas e encorajadora, de forma que subam mais alto. Moisés demonstrava esse caráter. Ele não era um líder sem coluna dorsal, mas a Bíblia declara que ele era o homem mais manso da Terra (Nm 12:3). Sendo o oposto da autoafirmação, a mansidão não reage diante das ofensas. No fim, os mansos herdarão a Terra (Mat. 5:5). 

 

             3ª - A paciência, longanimidade ou tolerância é característica do próprio Deus. Ele é "longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento" (II Ped. 3:9). Paciência significa resistência diante da aflição, recusa de vingar as injustiças, e não abrir mão da esperança de reparar relacionamentos interrompidos. Comunidade e unidade cristã não podem existir onde não há paciência e tolerância.

 

            4ª - Suportar uns aos outros (Efés. 4:2) significa mais do que tolerância mútua. Envolve o entendimento da outra pessoa e disposição para se perdoarem e aceitar-se mutuamente. 

 

            5ª - Evidentemente, todas essas graças têm suas raízes no amor, e é esta prática ativa do amor que preserva as relações e promove paz e unidade na comunidade cristã e além. “O mais forte argumento em favor do evangelho é um cristão que sabe amar e é amável” – Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver, pág. 470.

           

            Por que unidade? (Efés. 4:4-6) 

            Qual é a importância da unidade para o cristianismo? Efés. 4:4-6 

            Efésios 4:4-6 é uma das passagens mais majestosas da Bíblia. A estrutura de sua construção, a grandeza de sua prosa e a fundamentação da unidade na plenitude da Divindade são incríveis.

            Se alguém ousar fazer a pergunta: "Por que os cristãos devem ser um?", a resposta virá neste argumento inexpugnável: Porque tudo o que se refere à fé e à vida cristã é um. 

            Deus ordenou a unidade do corpo cristão. Um Deus, por meio de um Cristo nos redimiu do pecado, deu-nos uma fé, nos regenerou por um Espírito, nos fez membros de um corpo por meio de um batismo, e nos deu uma esperança eterna. 

             A estudarmos esta fórmula sétupla, outro fator significativo precisa ser notado. Toda a Divindade está envolvida na unidade da igreja. Esse tema está em harmonia com o espírito da epístola, que frequentemente enfatiza o papel da Divindade na história da redenção. 

             Deus Pai"o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos" (Efés. 4:6). Ele é tudo em todos. 

             Deus Filho"o autor e consumador da nossa fé" (Hb. 12:2), "a esperança da glória" (Col. 1:27), o fundamento da igreja, Seu corpo. 

             Deus Espírito Santo – o agente de nossa experiência de novo nascimento que nos leva ao batismo (I Cor. 12:13). 

             "Satanás separa. Deus une. O amor nos une." Assim disse o famoso evangelista Dwight L. Moody. Ninguém gostaria de ser agente de Satanás, e todos gostaríamos de ser instrumentos do amor de Deus. Por que as cinco graças são tão decisivas para experimentarmos essa unidade? 

 

            Unidade: diversidade de dons (Efés. 4:7-11; I Cor. 12:28-31) 

             Efésios 4:6 fala de Deus como "Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos". A ênfase de que todos temos o mesmo Pai destaca a unidade da igreja.

            No verso 7, Paulo diz que "a graça foi concedida a cada um de nós segundo a proporção do dom de Cristo". Nem todos receberam o mesmo dom, nem na mesma medida (v. 11).

            Assim, Paulo se volta de "todos nós" (v. 6) para "cada um de nós" (v. 7) – e então, da unidade para a diversidade na igreja.

            Diversidade não significa divisão; significa que existem diferentes dons, e esses dons devem ser usados para a unidade da igreja. Afinal, o mesmo Espírito que distribui os dons nos permite trabalhar juntos para o fortalecimento e a edificação da igreja de Deus. 

            O que deu a Cristo o direito de derramar dons sobre a Sua igreja? Como estas palavras nos ajudam a entender os dons que Ele nos deu? Efés. 4:7-11 

             "Quando Ele subiu às alturas" (v. 8), deu dons aos crentes; isto é, quando subiu ao Céu, Ele derramou o Espírito sobre a Terra. Mas como devemos entender o verso 9, onde Paulo declara: "Também havia descido às regiões inferiores da terra"? O contraste entre subir e descer não é espacial, mas teológico. Sua subida e exaltação à presença de Deus é contrastada com Sua descida e humilhação mais profundas da cruz (Filip. 2:5-11). A vitória na descida e a exaltação na subida são celebradas pela concessão de dons à igreja, cujos membros Cristo arrancou do príncipe das trevas. Por Sua vitória sobre Satanás e Sua subida "acima de todos os céus" (Efés. 4:10), Cristo preenche todas as coisas. Ele é o Senhor do Universo, mas está intimamente ligado com a igreja na Terra e a preenche de dons. 

                  

            Unidade: equipados para o ministério (Efés. 4:12 e 13

            Acabamos de compartilhar os dons que Deus deu à igreja. A seguir, Paulo relaciona em Efésios 4:12 duas razões para esses dons. Quais são elas? Como se relacionam? 

           A primeira é a de equipar os santos para o trabalho do ministério. 

            O termo equipar vem de uma palavra que significa consertar, como remendar uma rede rasgada (Mat. 4:21) ou reparar um osso quebrado. Assim, equipar os santos se refere a preparar, treinar e torná-los prontos para o serviço para o qual eles são chamados. 

            Isso desperta a pergunta: Quem são os ministros da igreja? De acordo com o Novo Testamento, todos os cristãos são ministros, comissionados pelo próprio Senhor para ir, fazer discípulos de todas as nações, batizar e ensinar (Mat. 28:18-20).

            O trabalho do ministério não é reservado a uns poucos privilegiados (clero), mas a todos os que professam o nome de Cristo. O ministério cristão é individual, olho-no-olho. Nenhum membro da igreja pode alegar isenção do ministério, e ninguém do ministério pode alegar privilégio exclusivo para a função. 

             A segunda razão para dar dons é "para a edificação do corpo de Cristo" (Efés. 4:12). Nenhum dom que possamos ter – seja ensino, seja pregação, evangelismo, cura, aconselhamento, visitação, consolação, socorro – deve ser reservado para uso pessoal. Todos esses dons são designados para o bem coletivo e o crescimento da igreja, caso contrário, os detentores terão seus dons retirados (Mat. 25:24-30).

            A igreja só pode crescer quando seus membros se amam e se interessam uns pelos outros e juntos buscam alcançar a comunidade que os rodeia com a graça e o amor de Cristo. O ministério de todos os membros apressará o dia em que todo o globo será circundado pela mensagem salvadora de Cristo. Assim, a igreja exercerá "a unidade da fé" e receberá a "plenitude de Cristo" (Efés. 4:13). Uma pessoa plena de Cristo não pode permanecer muda quando alguém lá fora está sem Cristo. Este é o motivo do ministério. 

 

           Unidade: crescendo em Cristo (Efés. 4:14-16) 

            Efésios 4:12 e 13 termina com a nota de que os dons espirituais não são dados apenas para equipar os santos para o ministério da igreja, mas também para levá-los "à medida da estatura da plenitude de Cristo". Ir a Cristo, experimentar a unidade que transcende todas as divisões e estar equipado para o ministério não é suficiente. Os cristãos devem crescer em Cristo. Os versos 14-16 resumem os elementos desse crescimento. (Os versos 17-32 continuam a definir este crescimento para enfatizar a vida como nova pessoa em plena maturidade). 

 

            As advertências de Paulo - Efésios 4:14  

            Deus quer que sejamos como as crianças, mas não infantis. Ele espera que deixemos "as coisas próprias de menino" (I Cor. 13:11) e alcancemos a maturidade da idade adulta, com a qual podemos fazer distinção entre as coisas espirituais e as mundanas, e comer alimento sólido em vez de leite (I Cor. 3:2). 

            A firmeza envolve estabilidade no que cremos, como separamos a verdade do erro e em não sermos enganados por aqueles que alegam ter a verdade. Exige forte fundamentação na Palavra de Deus, de forma que quando "a artimanha" "astúcia" e "indução ao erro" (Efés. 4:14) nos confrontarem, estejamos firmes no testemunho de Deus (Isa. 8:20). 

            Paulo também fala de seguir "a verdade em amor" (Efés. 4:15). Literalmente, significa fazer a verdade. E fazer isso em amor. A igreja deve distinguir entre o evangelho e a heresia, e mesmo aqui a verdade deve ser exposta em amor. "A verdade é dura quando não é suavizada pelo amor; o amor é inconstante se não é fortalecido pela verdade." – João R.W. Stott, The Message of Ephesians, pág. 172. 

            Finalmente, o maior sinal de crescimento é completo compromisso e obediência a Cristo. Nós somos o corpo, e cada parte e função do corpo deve ser ligada e integrada em Cristo. 

            Dons espirituais: "A ausência do Espírito é que torna tão impotente o ministério evangélico. Pode-se possuir cultura, talento, eloquência ou qualquer dote natural ou adquirido; mas sem a presença do Espírito de Deus não se tocará nenhum coração, nem se ganhará pecador algum para Cristo. De outro lado, se estão ligados com Cristo, e se possuem os dons do Espírito, os mais pobres e ignorantes de Seus discípulos terão um poder que falará aos corações. Deus faz deles condutos para a difusão, no Universo, das mais elevadas influências." – Ellen G. White, Parábolas de Jesus, pág. 328.

 

            Crescimento cristão: "A germinação da semente representa o início da vida espiritual, e o desenvolvimento da planta é uma bela figura do crescimento cristão. Como ocorre na natureza, assim é na graça; não pode haver vida sem crescimento. A planta precisa crescer ou morrer. Como seu crescimento é silencioso e imperceptível, mas constante, assim é o desenvolvimento da vida cristã. Nossa vida pode ser perfeita em cada fase de desenvolvimento; contudo haverá progresso contínuo, se o propósito de Deus se cumprir em nós.. ... Tornar-nos-emos fortes para assumir as responsabilidades, e nossa maturidade será proporcional aos nossos privilégios." – Ibidem, págs. 65 e 66. 

 

 

 

 

 

 

Artigo elaborado por Nelson Teixeira Santos a partir de textos da LES 1042005.

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