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DIFERENTES E IGUAIS AO MESMO TEMPO

 

 

            Introdução

            Pode um destacado líder dos judeus (um fariseu), ter algo em comum com uma mulher samaritana, rejeitada social e moralmente até mesmo dentro de sua própria comunidade?

 

            Objetivo da mensagem

            Mostrar que independentemente de títulos, rótulos e autoridade atribuídos a alguém, diante de “Deus que não faz acepção de pessoas” (Rm 2:11; Atos 10:34), isto não tem a menor importância, “pois todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3:23), em outras palavras, quer admitamos ou não, estamos todos no mesmo nível, necessitados da graça divina que é inclusiva, e, portanto, alcança a todos indistintamente.

 

            Por que?

            Para Timothy Keller, autor do livro intitulado Encontros com Jesus – Respostas Inusitadas aos Maiores Questionamentos da Vida, Editora Vida Nova, incorremos num erro quando estudamos separadamente os capítulos três e quatro do Evangelho de João, que tratam do encontro de Jesus com Nicodemos e com a mulher samaritana respectivamente.

            Ele afirma que deve existir um motivo para que esses dois encontros apareçam um após o outros nesse Evangelho: o autor (João), quer que os consideremos em conjunto. Por quê?

            Tendo a Bíblia como regra de fé e prática, ninguém consegue fugir do veredicto de pecador; é essa a questão central dessas duas histórias.

            O que a marginalizada samaritana e o prestigiado fariseu têm em comum?

            Se ambos têm algo em comum – são pecadores; então todos nós temos.

            O encontro da samaritana com Jesus, mostra já de início uma imagem que a maioria das pessoas reconheceria.

            Se para muitos o diálogo desenvolvido entre os dois não parece incomum, porém deveria ser. Por quê?

            1º - Judeus e samaritanos eram inimigos. Os judeus consideravam os samaritanos como racialmente inferiores e hereges.

            2º - Se já era escandaloso para um homem judeu falar com qualquer mulher estrangeira em público; imaginem com uma mulher samaritana.

            3º - Buscar água no poço ao meio dia não era nada comum.

            O que a fez buscar água justamente no período mais quente do dia?

            Ela não era uma pessoa querida em sua comunidade, era alvo constante de antipatia, de hostilidade; era alguém que possuía uma má fama. Em outras palavras, alguém que era detestada, repudiada em sua própria cidade (Sicar) na região de Samaria.

            Está escrito: “Deus não faz acepção de pessoas” (Atos 10:34; Dt 10:17; II Cr 19:7; Rm 2:11; Ef 6:9; Jó 34:19). Jesus sendo o Deus encarnado inicia uma conversa com ela ignorando deliberadamente as barreiras impostas; barreiras que deliberadamente ou não, as pessoas (inclusive as que almejam o Céu) são capazes de erguer entre si, nesse caso específico, barreiras de cunho racial, cultural, de gênero – incluindo todas as convenções da época. Era necessário passar por cima de todos aqueles divisores humanos a fim de estabelecer uma conexão com ela. E Jesus passou.

            Um aspecto interessante desse encontro é a forma de abordagem que Jesus utilizou. É evidente que Ele se mostra aberto e afetuoso e ainda assim Ele a confronta,

todavia faz isso de maneira muito gentil, amável e habilidosa.

            Jesus começa o diálogo dizendo: “Se soubesse quem Sou, você me pediria água viva, e, se bebesse dessa água viva, jamais voltaria a ter sede” (João 4:14).

          O que é “água viva”? De que água Jesus estava falando?

          Trata-se de uma metáfora. Uma figura de linguagem em que se transfere o nome de uma coisa para outra com a qual é possível estabelecer uma relação de comparação, neste contexto específico, para algo por Ele chamada de “vida eterna “.

            Você sabe o que é ter sede?

            Você já andou por um deserto (50 graus Celsius à sombra)?

            Se a resposta for não, então é impossível mensurar o que é sentir sede profunda.

            Sabe o que significa estar em agonia? Experimentar o gosto da água depois de sentir sede de verdade é a experiência mais satisfatória possível.

 

            Moral da história

            O que Jesus está dizendo a samaritana e, extensivamente a todos nós, é que Ele tem é tão básico e elementar, algo indispensável para o espírito quanto a água o é para o físico. Algo imprescindível para a nossa salvação. Algo sem o qual você e eu estaremos completamente perdidos.

            Há entre os antropólogos, sociólogos e afins, estudiosos da área das ciências humanas quase que uma unanimidade ao afirmar que o ser humano possui quatro necessidades básicas: ar, água, alimento e um teto, entretanto como cristãos ou não, pecadores que somos, quer saibamos ou não, quer admitamos ou não, temos uma necessidade a mais: a necessidade de um Salvador.

            Mas a metáfora não para por aí; o Mestre não está apenas dizendo que pode salvar a sua, a minha, as nossas vidas; Ele também está revelando que sua oferta satisfaz por dentro. “Minha água, se você a obtiver haverá de se tornar uma fonte de água em você jorrando para a vida eterna”. Ele está falando da profunda satisfação da alma que se encontra com Jesus; da satisfação e da alegria incríveis que se apoderam de você, de mim, de nós, independente do que se passa em nosso exterior. E aí surgem perguntas:

            O que é que te faz feliz?

            O que é capaz de lhe dar uma vida de real satisfação?

            É inerente a nós, seres humanos, a necessidade de adorar e caso nossa adoração não se concentre no Deus verdadeiro, qualquer outra coisa adorada nos consumirá. A lista de idolatrias é grande: dinheiro, fama, bens materiais, sexo, culto ao corpo, álcool, drogas, jogos, roupas de grife (vestuário), etc. Nós nunca nos sentiremos saciados, totalmente satisfeitos; sempre vamos querer mais e mais e isso nos tornará infelizes. A verdade é que: Só Deus é capaz de suprir todas as nossas necessidades!

            No caso da mulher samaritana, Jesus foi enfático ao dizer-lhe o que a consumia: “Porque tiveste cinco maridos, e o que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade” (João 4:18 - ACF). Transgressão explícita do 7º mandamento.

            E no caso de Nicodemos, o que era?

            Para descobrirmos o pecado de Nicodemos necessitamos de um estudo mais aprofundado das Santas Escrituras. Humanamente falando era alguém acima de qualquer suspeita, todavia o capítulo 23 de Mateus, entre outras citações não poupa adjetivos a este grupo de religiosos. Vejamos Lucas 18:11-13 (uma parábola esclarecedora).  

            Nicodemos era um homem com o coração em conflito. Como autoridade judaica, membro do Sinédrio e fariseu que amava a lei, conhecia os fundamentos da religião e as rotinas de sua prática. Todavia, um vazio interior o atraia a Jesus.

             A abordagem é feita de uma forma bem diferente. Primeiramente, é o líder judeu quem vai ao encontro de Jesus à noite (medo, precaução - o problema de ambos: evitar a exposição). Nicodemos possuía um nível acadêmico elevado e dirige-se a Jesus de forma cortês: “Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele” (João 3:2 – ACF).

            Jesus por sua vez parte logo de início para o confronto: “Você precisa nascer de novo”. A Palavra de Deus não menciona qual foi a reação de Nicodemos ao ouvir essas palavras, todavia dá para acreditar que ele não ficou nada satisfeito. Pensem em um homem que passou a vida inteira adorando a Deus de acordo com os elevados padrões da rígida tradição judaica, alguém admirável, dotado de autocontrole, bem sucedido, disciplinado, correto, religioso ouvir esse tipo de coisa: “Você precisa nascer de novo”.

            2000 anos se passaram e humanamente falando, nascer de novo, tanto naquela época como hoje, seja para quem é mais fraco que os outros, para quem tem falta de autoridade, alguém com problemas emocionais; em outras palavras, é para determinado tipo de gente. Gente tipo a mulher samaritana, mas não para um líder fariseu. Será? “Não se pode entrar no reino de Deus pelo nascimento físico, mas por uma decisão pessoal que todos, mesmo um líder dos judeus, como Nicodemos, tem que tomar” (John Paulien, Em Busca da Vida, LES Professor – 1º Trim. 2004, pág. 43).

            É digno de nota que esse líder judeu possuía duas virtudes que precisam ser levadas em consideração: 1ª – ele era humilde (pois foi procurar Jesus, um jovem sem nenhum treinamento formal) e 2ª – e de mente aberta.

            Só para relembrar. Nicodemos era um líder civil, membro do Sinédrio. O que era Sinédrio? Era a assembleia da Suprema Corte dos juízes hebreus, sediada em Jerusalém, julgava casos civis e criminais; só não tinha autonomia para condenar um judeu à morte (João 18:31).

            Há por parte dos estudiosos um questionamento se realmente havia necessidade de uma resposta um tanto quanto “atravessada” da parte de Jesus ao líder judeu.

 

            Importa renascer

            "As palavras de Cristo quanto ao novo nascimento desmentem dois conceitos presentes em nossa cultura. Primeiramente, elas subvertem a noção otimista que caracteriza o ser humano moderno, a qual insiste que as pessoas são essencialmente boas, ou seja, elas podem se aperfeiçoar se lhe forem dadas condições ideais. Para a mentalidade comum, a doutrina do pecado e da depravação natural do homem é um exagero religioso. Ao mesmo tempo, Jesus desarma o conceito oposto, a visão pessimista da vida, segundo a qual nada pode ser mudado, tudo estaria determinado pela ação de forças externas. Em outras palavras, jogamos com cartas marcadas, onde tudo já está decidido. Jesus disse que não. Deus está acima de todas as forças deterministas" (Amin A. Rodor, MD 2162014, CPB).

 

            Tentativa ridícula

            "Os fariseus subestimavam seu estado real, externalizando o pecado, como se esse fosse apenas um problema do comportamento e não um estado. Legalismo e perfeccionismo são o resultado direto dessa ilusão. O legalista tenta a justificação por meio de atos meritórios. O perfeccionista se envaidece de irrisórias realizações da conduta. Comparativamente, tais alternativas equivalem à tentativa ridícula de tentar curar leucemia com aspirina. Seria como tratar os sintomas da doença, esquecendo-se de sua causa. A compreensão correta da salvação começa com uma compreensão correta do pecado" (Amin A. Rodor, MD 1272014, CPB).

 

            A intervenção divina é necessária

            "A salvação é uma experiência demasiadamente elevada para ser obtida por méritos e esforços humanos. A intervenção divina é necessária do começo ao fim" (Zinaldo A. Santos, MD 12072020, CPB).

 

            O que importa

            “Essas palavras de João 3:8 foram ditas a Nicodemos em hebraico ou aramaico e certamente o fizeram lembrar Gênesis 2:7, quando Deus sopra o fôlego em Adão. De acordo com Jesus, o mesmo Sopro que permite a vida física desperta-nos para um renascimento espiritual.

            No entanto, o renascimento espiritual, tal como o físico, não pode ser explicado; é um mistério de Deus. Considere, por exemplo, a nossa concepção. Por uma fração de segundo, qualquer um dos outros milhões de espermatozoides do nosso pai poderia ter fecundado o óvulo de nossa mãe e gerado outra pessoa. Então, por que Deus nos escolheu para existir?

            Diante da impossibilidade de uma resposta objetiva, o que importa é aproveitar o dom da vida dado por Deus. Da mesma forma, o nascimento espiritual. Por que uns serão salvos e outros se perderão? Também não sabemos, mas o que importa é confiar no Sopro Divino e aceitar a graça divina” (Rodrigo Silva, Descobertas da Fé, pág. 184.

 

            Conclusão

            Nicodemos e a mulher samaritana foram alcançados por Jesus. Duas pessoas que eram tão diferentes, todavia, mesmo sendo diferentes em raça, religião, reputação, gênero, riqueza, local e comportamento, os dois encontraram Jesus longe das multidões. Para eles o encontro não foi somente desconcertante, foi transformador.

            Acredite. Deus não tem favoritos. Não importa quem você é, não importa o que você fez, não importa qual é a sua genealogia, não importa como os outros tratam você. Jesus demonstra uma total falta de preconceito. Ele é verdadeiramente o “Salvador do mundo” (João 4:42).

            Jesus veio para buscar e salvar a todos os que O aceitarem. O único requisito é a disposição de experimentar o novo nascimento. Só o novo nascimento pode nos permitir seguir a Deus em um sentido verdadeiro! Só passando pela experiência do novo nascimento alcançaremos o Céu, a Eternidade!  

            Este é o meu desejo e a minha oração.

            Amém!!!

 

 

 

© Nelson Teixeira Santos

           

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